04/02/2005 - 09h00

Impressionante interpretação de Foxx garante "Ray"

SÉRGIO RIZZO
do Guia da Folha

Ray Charles Robinson (1930-2004) foi um músico inventivo, a quem se atribui a criação de um gênero, o soul, de enorme popularidade entre negros e brancos --proeza multiracial considerável nos EUA conservadores dos anos 50, quando o cantor despontou. Além disso, marcou também a história do rhythm & blues, do rock, do jazz e do country.

Sua energia vital, em boa parte responsável pelo carisma que incendiava suas apresentações, o diferenciava de outros talentos da mesma geração. Se invenção e energia eram duas das principais características de Ray Charles, parece razoável esperar que elas fossem preservadas, de alguma forma, em "Ray".

Da primeira, entretanto, não há muito sinal, fruto das opções burocráticas do diretor Taylor Hackford ("O Advogado do Diabo"), que transformou excelente matéria-prima --uma vida intensa, com passagens naturalmente dramáticas-- em algo apenas digerível.

Sorte dele que a energia de Ray, esta sim, irradiou-se pelo filme graças à interpretação impressionante de Jamie Foxx. Por esse trabalho, ele disputa na condição de favorito o Oscar de melhor ator, além de acumular também uma indicação como coadjuvante por "Colateral". Nasce uma estrela, daquelas capazes de carregar um longa sozinhas.

Ray Charles estava vivo quando as filmagens foram realizadas, o que tornava o desafio ainda mais delicado. Foxx seguiu a linha da "incorporação" perfeccionista que fez Val Kilmer reviver Jim Morrison em "The Doors".

Indicado ao Oscar em outras cinco categorias, incluindo a de melhor filme, "Ray" vai e volta no tempo, associando o desenvolvimento da carreira à infância difícil, com meticulosa reconstituição de época. Na trilha, "Hit the Road Jack", "Georgia on My Mind" e outros clássicos. É uma celebração à memória do cantor, com tudo para agradar quem o admirava.

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