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05/02/2005 - 08h32

Elite da "capital do forró" foge para serra e ouve jazz no Carnaval

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SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online, em Guaramiranga *

Segunda cidade mais populosa do Nordeste, Fortaleza vive um "êxodo" no Carnaval --um fenômeno oposto ao registrado em locais badalados da região como Salvador (BA), Recife e Olinda (PE). Boa parte dos 2,3 milhões de habitantes da capital cearense viaja para praias mais distantes, como Aracati e Paracuru, que são animadas pelo forró, axé e pela brincadeira do mela-mela (jogar farinha branca no rosto do outro).

Mas há seis anos uma minoria --em geral, de maior poder aquisitivo ou escolaridade-- prefere "fugir" para a serra e curtir um festival de jazz e blues, tentando reproduzir um certo ar nova-iorquino ou europeu, tal como ocorre em Petrópolis (RJ) ou Campos do Jordão (SP) no inverno.

O evento ocorre na pequena cidade de Guaramiranga, de pouco mais de 5.700 habitantes, a 100 km da capital, onde há um clima ameno e até um friozinho à noite, justificando o "desfile" de casacos, moletons, cachecóis e botas -peças que ficam na gaveta quase o ano todo, devido ao sol impiedoso e ao calor sufocante da capital. Na mesa, nada de cardápio típico (baião-de-dois, carne de sol, caranguejo, cajuína ou cachaça Ypioca). A preferência é massa, fondue e até sushi, tudo regado a uma taça de vinho tinto.

Na serra, os principais imóveis -como casas luxuosas- pertencem a herdeiros de oligarquias como políticos, que também são empresários (como em todo o país) do comércio, turismo, indústria extrativista, têxtil ou agronegócio. Além dos visitantes brasileiros e estrangeiros (como portugueses e italianos), há também a "tribo" dos que só ostentam a chamada "riqueza intelectual". Ou seja, artistas, professores, universitários, profissionais de mídia, funcionários públicos.

Como deixa claro um texto de divulgação distribuído pelo governo do Ceará, "o foco do festival é o artista que prima pela qualidade da música". De hoje até a próxima terça-feira, se apresentam no teatro Rachel de Queiroz nomes como o guitarrista norte-americano Stanley Jordan, o argentino Pedro Aznar, o Quarteto Jobim (Paulo e Daniel, filho e neto de Tom), Danilo Caymmi e Naná Vasconcelos, Nuno Mindelis e Big Joe Manfra. Os organizadores estimam que o festival deve receber 15 mil espectadores. Muitos se hospedam em cidades vizinhas devido à lotação dos hotéis.

Longe dos 865 metros de altitude de Guaramiranga, pertinho do mar, multidões com pouca roupa e muito suor vão estar pulando ou correndo atrás de algum trio elétrico. Já nas cidades do sertão, as prefeituras pagam comerciais na TV local anunciando as tradicionais festas de folia, puxadas pelas principais bandas da "indústria do forró" --cada uma com um nome mais inusitado do que a outra (Gatões do Forró, Capim com Mel, Brucelose, Calcinha Preta, Noda de Caju, Mel com Terra, Saia Rasgada, Catuaba com Amendoim, Cachorra da Mulesta e Xoxoteiros).

* O repórter viajou a convite da organização do 6º Festival de Jazz & Blues

Especial
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