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01/03/2005 - 10h43

Aguinaldo Silva diz que sucesso de "Senhora do Destino" vem do povo

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CIRO BONILHA
do Agora

Aos 60 anos, o pernambucano de Carpina está ao mesmo tempo orgulhoso e assustado. "Senhora do Destino", a 11ª novela de Aguinaldo Silva, é o maior sucesso da TV Globo em nove anos. Levando em conta os 196 capítulos exibidos desde a estréia até 11 de fevereiro, só "Rei do Gado" (1996), de Benedito Ruy Barbosa, bateu a trama ao marcar 52 pontos no Ibope.

Para Aguinaldo, o sucesso está no fato de a novela ser feita pelo povo: "Fala de temas sérios de forma popular. Dou esse tratamento aos meus personagens por minha experiência de vida e por minha origem humilde". Filho de um frentista e de uma dona-de-casa, o autor, que foi repórter policial antes de entrar na TV, figura hoje na elite da teledramaturgia brasileira. Seu salário, em torno de R$ 300 mil por mês, deixa para trás os tempos difíceis. Hoje, mora sozinho em uma casa cheia de obras de arte, em um luxuoso condomínio na zona oeste do Rio. Foi lá que recebeu o Agora, na semana passada, para falar sobre seu trabalho. Uma hora antes, havia entregado à Globo o capítulo final de "Senhora", que irá ao ar em 11 de março.

Confira abaixo o balanço que ele faz deste trabalho e por que acredita que Nazaré se tornou "o personagem mais rico de humanidade de todos os tempos da TV brasileira".

Agora - Quando começou a escrever "Senhora do Destino", você imaginava tanto sucesso?

Aguinaldo Silva - Toda novela é um salto no escuro, nenhum autor consegue adivinhar a reação do público. "Senhora" rompia com várias tradições de novela. Os pobres eram os personagem principais e mais densos, os ricos eram engraçados. Todos iam para a Baixada Fluminense, em vez de sair de lá e ir para a zona sul. Tinha medo de que achassem a trama pobre, mas a novela passou como um rolo compressor por tudo.

Agora - Quais seriam as razões para esse sucesso tão grande?

Aguinaldo - Para mim, a principal é que é uma novela popular. Além disso, a linguagem é brasileira e contemporânea. As pessoas sentem que conhecem os personagens.

Agora - É importante ter polêmicas?

Aguinaldo - Tem de provocar discussões, como uma fofoca. O segredo é pôr o espectador naquele universo.

Agora - Há nas lésbicas de "Senhora" uma posição pessoal?

Aguinaldo - Sempre me incomodei com as lésbicas das novelas. Se o autor não dissesse, pareciam amigas. Era preciso mostrar que elas se amam, que sentem atração sexual uma pela outra, que querem viver juntas. Escrevo para milhões de pessoas e sempre penso: "Até onde eu posso ir com esse assunto?".

Agora - Por que você trocou o Nordeste pela Baixada, em "Senhora"?

Aguinaldo - Comecei na TV com tramas urbanas. Depois, fiz "Lampião e Maria Bonita", e Dias Gomes me chamou para escrever "Roque Santeiro". Desde então, fiquei "acorrentado" a histórias do Nordeste. Agora, voltei à minha especialidade.

Agora - Como os filhos de Do Carmo no início da novela, você teve uma infância difícil no Nordeste. O que é real ou autobiográfico?

Aguinaldo - Real é a minha prisão, de onde saíram, com frases inteiras, os lances da primeira prisão da Do Carmo. Além disso, tem muitos elementos da minha infância, muita coisa da minha mãe. O personagem Sebastião é calcado em meu tio Sebastião. O nome da minha mãe é Maria do Carmo Ferreira da Silva.

Agora - E a audiência?

Aguinaldo - A emissora pôs um aparelho na minha casa que mostra a audiência minuto a minuto. É uma coisa louca, cria uma expectativa que não é legal. Na verdade, não vejo a hora de me livrar daquilo.

Agora - É possível perceber o que aumenta e o que abaixa a audiência?

Aguinaldo - Sim. Eu achava que o núcleo da comunidade da Pedra ia afugentar as pessoas. Aí, o primeiro pico de audiência foi quando o Cigano deu a primeira surra na Rita.

Agora - E a Nazaré, por que ela faz tanto sucesso?

Aguinaldo - Pode parecer arrogante, mas ela se tornou, sem querer, o personagem mais rico de humanidade de todos os tempos da TV brasileira. Ela tem essa luta entre o bem e o mal: é uma mãe amantíssima e, ao mesmo tempo, a pior das bandidas.

Agora - E a idéia de a Nazaré se matar no final, mas talvez sobreviver?

Aguinaldo - Cheguei à conclusão de que essa idéia de que a Nazaré poderia ter escapado talvez deixe as pessoas frustradas. Elas querem ver o fim da vilã. Ela vai pular ao som do "Trenzinho Caipira", do Villa-Lobos.

Agora - Você mudaria alguma coisa em "Senhora do Destino"?

Aguinaldo - Não há o que mudar.

Agora - Você ocupa uma posição de elite na teledramaturgia da Globo. O que o prestígio traz de bom?

Aguinaldo - Estou na televisão desde 1978. Esse prestígio não surgiu de repente. Eu fiz "Lampião e Maria Bonita", "Bandidos da Falange", "Tenda dos Milagres", fiz novelas como "Roque Santeiro" e "Tieta". Todos os trabalhos, com a exceção de "Suave Veneno", deram certo.

Agora - Por quê?

Aguinaldo - Não era o meu momento de escrever. Aceitei por dinheiro. A ironia é que a origem de "Senhora" é "Suave Veneno": o migrante nordestino que tem três filhas e uma quarta que não conhece. Só percebi depois.

Agora - Um autor de novela das oito da Globo recebe em torno de R$ 300 mil por mês, certo?

Aguinaldo - É perto disso. Dá para fazer o chamado pé-de-meia, que vai permitir que eu leve a vida como quiser, mesmo que pare de escrever. Gasto boa parte dele com obras de arte. No futuro, quero fazer uma fundação, à qual darei as minhas obras para que as pessoas visitem.

Agora - Você teve uma infância difícil no Nordeste...

Aguinaldo - Minha família era muito pobre, mas meu pai me colocou para estudar nos melhores colégios. Quando comecei a trabalhar, com 14 anos, ele falou: "Agora, quem paga o seu colégio é você".

Agora - Como virou escritor?

Aguinaldo - Com meu primeiro salário, comprei uma máquina portátil. Aos 16 anos, uma editora do Rio publicou meu livro "Redenção para Jó".

Agora - E o jornalismo?

Aguinaldo - Minha primeira tarefa como repórter foi cobrir a viagem do Miguel Arraes em campanha para governador. A primeira parada foi no sertão, em Belém de São Francisco, que eu não conhecia. Quando escrevi a novela, decidi que Maria do Carmo sairia de lá. Depois, veio o golpe de 1964 e o jornal foi fechado. Ninguém dava emprego para quem tinha sido do "Última Hora". Aí vim para a sede do jornal, no Rio. Na TV, comecei em 1978. A Globo me chamou para fazer um programa chamado "Plantão de Polícia" porque eu era ao mesmo tempo escritor e repórter policial.

Especial
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