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27/03/2005 - 09h10

"Sin City" revoluciona adaptação de HQs

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S. Paulo, na Califórnia

"Sin City" é um marco. A cada punhado de anos, Hollywood produz um filme-marco, que influenciará os próximos títulos do gênero e será imitado à exaustão. Para ficar apenas nas décadas recentes, "Guerra nas Estrelas" inventou o blockbuster de verão baseado em efeitos especiais, "Blade Runner" mudou a ficção científica, "Pulp Fiction" reinventou a estrutura do roteiro, "A Bruxa de Blair" redefiniu o conceito de terror e "Matrix" juntou tudo isso e foi além. Agora, é a vez de "Sin City", que estréia nesta sexta nos EUA e chega em maio ao Brasil.

O filme, baseado em três episódios da série de graphic novel homônima, de autoria de Frank Miller, revoluciona a maneira como histórias em quadrinhos são adaptadas para as telas. De "Batman" (1989) a "Spider-Man 2" (2004), o que houve até agora foi um avanço no uso dos efeitos especiais a serviço do cinema. "Sin City" muda a linguagem. Seu trajeto, do primeiro quadrinho, desenhado no início dos anos 90, à obra pronta, mostrada a jornalistas do mundo todo no último domingo, vale a pena ser recontado.

Desde que juntou um bando de amigos, recolheu US$ 7 mil e fez "El Mariachi", em 1993, o texano Robert Rodriguez pensava em adaptar "Sin City" para o cinema. Ele não estava sozinho: se Will Eisner (1917-2005) inventou o conceito de "graphic novel" (linguagem cinematográfica aplicada à narração em quadrinhos) em 1978, com seu "Contrato com Deus", Frank Miller, 48, o levou às últimas conseqüências e virou objeto de cobiça dos estúdios.

Primeiro, ao tornar Batman de novo um super-herói, com a série "O Cavaleiro das Trevas", de 1986, que enterrou de vez o aspecto ridículo que tinha colado no personagem pela telessérie cômica dos anos 60. Segundo, por esta série de histórias que se passam numa cidade fictícia, que leva o slogan oficial de Las Vegas ("sin city", cidade do pecado), tem como nome completo Basin City (cidade do buraco), mas se parece muito com Manhattan, São Paulo e outras megaconcentrações urbanas.

O tempo é hoje, embora o clima seja dos romances e filmes noir dos anos 30 e 40, com seus "tiras", governantes e líderes religiosos corruptos, femmes fatales de coração mole e detetives particulares com ética inabalável. E violência, muita violência, decalitros de sangue, quilômetros de membros decepados, quilos de balas.

Rodriguez era mais um na fila dos aspirantes a diretores de adaptação de um legítimo Frank Miller. "Ele nem sequer atende o telefone", disse o diretor em entrevista à Folha. "Fica enterrado em seu estúdio em Nova York, desenhando, e ouve mensagens na secretária eletrônica de gente como Steven Spielberg e Sam Raimi, implorando pelos direitos de adaptar uma de suas histórias. Não responde porque odeia dizer não." Por um amigo do amigo do amigo, Rodriguez conseguiu falar com o quadrinhista e dizer que tinha algo para lhe mostrar.

Nos meses anteriores, o diretor havia filmado uma pequena seqüência de "Sin City" por conta própria, em seu estúdio em Austin, Texas, onde faz a maior parte de seus filmes, inclusive os efeitos especiais, sempre com a mesma equipe. Era a morte de uma mulher por um assassino de aluguel. Contra um fundo verde, recurso usado para que os efeitos digitais sejam acrescentados depois, ele estacionou os atores de maneira que só se movimentassem quando necessário. Ensaiou dezenas de vezes os lugares exatos em que as câmeras se posicionariam, quase parada. Preparou os diálogos como se fossem balões.

Então, no computador, colocou o cenário, idêntico à HQ (e que lembra, aliás, o edifício Martinelli, no centro de São Paulo). Transformou tudo em preto-e-branco e estourou os contrastes, deixando o branco quase neve e o preto semi-blecaute. Em algumas cenas, só algumas, coloriu um objeto ou uma parte do corpo, como o vestido da assassinada (vermelho) e seus olhos quando seu cigarro é aceso pelo pistoleiro (verdes)...

No dia do encontro com Miller, num bar, Rodriguez abriu seu laptop e falou: "Eu fiz isso". "Mas isso é literalmente minha HQ, quadro por quadro, como você conseguiu colocá-la em movimento?", espantou-se o autor. Nascia ali "Sin City", o filme.

Logo, os dois escolheram as três histórias que seriam adaptadas e como amarrá-las. Rodriguez fez questão de que Miller fosse co-diretor, o que o obrigou a se desligar do sindicato de diretores dos EUA, que proíbe tal prática. "Eu queria que ele estivesse lá para garantir que cada seqüência, cada cena, fosse fiel ao quadro que desenhou e que nunca perdêssemos este conceito de HQ em movimento", disse. Para complicar ainda mais a sua situação sindical, criou a categoria de "diretor especialmente convidado" para seu amigo Quentin Tarantino, que pilota uma das cenas mais violentas e cômicas do longa.

O resultado é história.
 

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