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30/03/2005 - 09h40

Para o cineasta Costa-Gavras, todo filme é político

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PEDRO BUTCHER
Enviado especial a Salvador

Evitar o saudosismo, espantar o pessimismo --essa foi a preocupação central dos palestrantes do primeiro dia do Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, centrado no tema do cinema político contemporâneo.

Depois da abertura, na noite de segunda-feira, regada por discursos das autoridades presentes (incluindo o secretário do Audiovisual Orlando Senna, que leu um texto enviado pelo ministro da Cultura Gilberto Gil), e pela exibição do explosivo curta-metragem "Di", de Glauber Rocha, o Seminário começou para valer ontem, lotando os quase 500 lugares do casarão da reitoria da Universidade Federal da Bahia, em Salvador.

Para os acadêmicos Michel Marie, professor da Sorbonne, e Robert Stam, da Universidade de Nova York, o cinema político está vivo, apenas deslocou seu eixo da utopia revolucionária para outras questões, em geral ligadas ao trabalho, ao desemprego, à imigração e às conseqüências diretas da evolução do capitalismo contemporâneo na vida das pessoas. "Hoje o cinema mais interessante produzido na França fala dos imigrantes, na maior parte das vezes em longas realizados por cineastas de outras origens. É esse o caso do vencedor do prêmio Cesar desse ano, "L'Esquive", de Abdel Kechiche", disse Marie.

Para Robert Stam, um estudioso de longa data do cinema brasileiro, o próprio Brasil vive um momento bastante rico do cinema político na produção de documentários. "Talvez o melhor exemplo da evolução da linguagem dos filmes políticos esteja na obra de Eduardo Coutinho. Ele passou de uma abordagem mais literalmente política em "Cabra Marcado para Morrer" para uma nova forma muito original, que é uma dramaturgia da fala e do corpo." Em outros países, para Robert Stam, a crítica política se desvinculou dos "grandes temas" para questões específicas como o racismo e o sexismo. "Um bom exemplo está no cinema de Spike Lee", citou, ou ainda em produções etnográficas específicas, como na realização de filmes por comunidades excluídas. Em sua palestra, Stam exibiu trechos de filmes produzidos por comunidades indígenas como exemplo.

Para o cineasta Costa-Gavras, convidado especial do seminário, que falou ao público ontem à tarde e deu uma entrevista coletiva à imprensa pela manhã, "cinema político" é apenas um rótulo: "Todo filme é político na medida em que política é toda forma de relação humana em que o poder está implicado. Nunca disse que fiz filmes políticos, isso foi algo imposto à minha obra". Às críticas que recebe freqüentemente, dando conta de que seus trabalhos apenas trazem conteúdos de fundo político, mas que na forma se limitariam a reproduzir convenções narrativas, Costa-Gavras foi enfático: "Dar prazer às pessoas também é fazer política. É só ver Chaplin, por exemplo."

Uma das principais preocupações que surgiram foi a questão da difusão. "Vivemos uma grande tendência ao monopólio. O que se tenta fazer é implantar uma monocultura da produção audiovisual", disse Costa-Gavras. E não só no cinema. Robert Stam citou o exemplo da cobertura da guerra do Iraque pela mídia dos Estados Unidos. "Como a mídia, principalmente a TV, se fechou muito, houve uma reação quase imediata, com o surgimento de várias produções alternativas que chegaram a fazer sucesso. Não me refiro apenas a Michael Moore, mas também a filmes como "OutFoxed", que criticava diretamente a cobertura da guerra feita pelo canal da Fox, ou "Control Room", sobre a Al Jazira", contou Stam.

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