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08/04/2005 - 16h56

Rappin" Hood lança segunda parte de trilogia

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THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

Difícil encontrar no cinema continuação que seja igual ou superior ao filme inicial. Há casos clássicos: "O Poderoso Chefão 2", "O Império Contra-Ataca"... Com o espírito de um Coppola ou de um George Lucas, o paulistano Rappin" Hood lança na próxima semana "Sujeito Homem 2", o segundo capítulo de sua própria trilogia iniciada há quatro anos com... "Sujeito Homem".

"Vou completar a seqüência com um disco gravado ao vivo. Sempre fui fã de trilogias", disse Rappin" Hood à Folha, nesta semana, durante conversa no largo São Bento, no centro da cidade.

Hoje com 33 anos, Antônio Luiz Júnior, nascido na Vila Arapuá, região sul de São Paulo, é da primeira geração do rap paulista, a geração de Thaíde, DJ Hum, Racionais. Em 1985, freqüentava este mesmo largo São Bento, ao lado de b-boys e grafiteiros. "Hoje, volto e o segurança me cumprimenta, fico à vontade. Antigamente não podíamos cantar e dançar aqui, corríamos da polícia."

Diferentemente de Thaíde ou dos Racionais, Rappin" Hood demorou a aparecer. Só lançou seu primeiro disco solo em 2001. Culpa, diz, da ousadia em misturar o rap a ritmos como samba, repente e bossa nova. Sim, havia época, não muito tempo atrás, em que "rap era rap", "samba era samba".

"Hoje é mais fácil, né? Mas desde o meu primeiro disco faço isso. Eu quero aproximar o rap da realidade brasileira, não quero ser uma cópia dos americanos", justifica. "Quando houve o boom dos Racionais, você ia a festivais de rap e de cada dez bandas, nove soavam como eles. Dei a minha cara para bater. Rimo em cima da cadência do samba há 15 anos."

E a cadência do samba continua solta em "Sujeito Homem 2". Não só por Rappin" Hood. Se em "Sujeito Homem" ele chamou Leci Brandão para "duelar" no hit "Sou Negrão", aqui ele abre espaço para Fundo de Quintal, Exaltasamba, Jair Rodrigues e Dudu Nobre. Mas não só. "Odara" e "Andar com Fé" estão aqui --além dos próprios Caetano Veloso e Gilberto Gil.

O encontro, diz, não soa estranho. "Não acho que eles estejam acima do bem e do mal. Seria fácil para mim falar que o rap é radical, que somos a revolução, mas hoje não tem ditadura, não fui mandado embora do Brasil. Eles são a história do país, eu tenho que respeitar. Mas, se eu discordar de algo do Gil, do Caetano ou até do Lula, eu vou falar. Isso é a cara do rap."

A cara de "Sujeito Homem 2" é uniforme, mas muda bastante a cada canção. Passa pelo repente, quase um baião ("Disparada Rap"); pelo samba ("Muito Longe Daqui"); às vezes é um rap-samba ("Se Toca"); em outra hora volta a ser rap puro, soturno, dark ("Tudo o que Eu preciso").

Em "Disparada...", diz que o "rap tem que virar cada vez mais música popular brasileira". Ele explica: "O rap brasileiro não precisa ser cópia de Wu-Tang Clan [coletivo norte-americano de hip hop]. Temos que ter identidade. Pode chocar alguns, mas essa é a minha proposta. Sou músico, sei ler partitura".

Ao mesmo tempo, Rappin" Hood defende uma autonomia do rap, consciente até de uma certa responsabilidade social de si mesmo e de seu estilo musical. "Qualquer tipo de música pode ajudar a tirar a molecada da rua. Muita gente venceu na vida com um cavaquinho. Mas o rap tem um discurso que os outros não têm. No samba, na safra nova, não existe preocupação social. No rap isso não ocorre; o rap é social."

Continua: "No funk carioca, há um pessoal que tem compromisso, como o Mr. Catra. Mas, também, não posso falar mal do Marlboro, que é um pioneiro. Respeito o trabalho dele, mas não consumo aquilo. Se eu fizer uma música sem compromisso, as pessoas de onde venho vão me cobrar...".

Rappin" Hood já passou por vários lugares. Foi office-boy, auxiliar de escritório, ajudou a fundar a rádio comunitária da favela de Heliópolis, aprendeu a tocar trombone na Universidade Livre de Música e esteve à frente do projeto Escola de Rap, que rodou colégios públicos fazendo palestras, shows e oficinas. E a trilogia ainda não terminou.

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