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15/04/2005
-
09h15
SÉRGIO RIZZO
do Guia da Folha
No Brasil de "Cabra-Cega", os cinemas exibem "Betão Ronca Ferro", sucesso de Mazzaropi, e o telejornalismo governista informa com júbilo a morte de Carlos Lamarca. Logo, estamos em 1971, na região central de São Paulo --entrevista apenas pelas janelas de um apartamento de classe média alta e, em uma das seqüências-chave, também do alto de um prédio. Quase tudo o mais que se saberá sobre aquele país vem, no filme, do que ocorre entre quatro paredes.
O apartamento é de Pedro (Michel Bercovitch), arquiteto que o herdou do pai. Rosa (Débora Duboc) vai até ali, diariamente, para cuidar de Thiago (Leonardo Medeiros), hóspede que se recupera de ferimento a bala. O abrigo e o atendimento médico são providenciados por Matheus (Jonas Bloch), amigo do pai de Pedro, que aparece de vez em quando para checar como andam as coisas. Não andam lá muito bem --e vão piorar à medida que o exterior invisível for projetando seus dilemas e fantasmas para dentro.
Eis, como demonstram as coordenadas, um exercício sobre o isolamento, à semelhança de "Latitude Zero", longa anterior da parceria entre o diretor Toni Venturi e o roteirista Di Moretti (que fizeram também o documentário "O Velho - A História de Luís Carlos Prestes"). O salto de um filme para outro é notável, tanto na condução dos personagens quanto no cerzimento da tensão entre eles. Mas, dado que o confinamento tem aqui motivos políticos, a política e a história (ou uma certa leitura dela) são o que interessa.
"Cabra-Cega" é militante, ao tomar partido das figuras que homenageia (algumas das quais Venturi ouviu para o documentário "No Olho do Furacão"). Em seu final de impacto, sugere que a história só acaba quando termina --e a do Brasil, como a tela que se enche de luz ao som de um vibrante remix de Chico Buarque, tem ainda páginas em branco, para trás e adiante.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o cineasta Toni Venturi
Leia o que já foi publicado sobre o filme "Cabra-Cega"
Toni Venturi filma exercício de isolamento durante ditadura
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do Guia da Folha
No Brasil de "Cabra-Cega", os cinemas exibem "Betão Ronca Ferro", sucesso de Mazzaropi, e o telejornalismo governista informa com júbilo a morte de Carlos Lamarca. Logo, estamos em 1971, na região central de São Paulo --entrevista apenas pelas janelas de um apartamento de classe média alta e, em uma das seqüências-chave, também do alto de um prédio. Quase tudo o mais que se saberá sobre aquele país vem, no filme, do que ocorre entre quatro paredes.
O apartamento é de Pedro (Michel Bercovitch), arquiteto que o herdou do pai. Rosa (Débora Duboc) vai até ali, diariamente, para cuidar de Thiago (Leonardo Medeiros), hóspede que se recupera de ferimento a bala. O abrigo e o atendimento médico são providenciados por Matheus (Jonas Bloch), amigo do pai de Pedro, que aparece de vez em quando para checar como andam as coisas. Não andam lá muito bem --e vão piorar à medida que o exterior invisível for projetando seus dilemas e fantasmas para dentro.
Eis, como demonstram as coordenadas, um exercício sobre o isolamento, à semelhança de "Latitude Zero", longa anterior da parceria entre o diretor Toni Venturi e o roteirista Di Moretti (que fizeram também o documentário "O Velho - A História de Luís Carlos Prestes"). O salto de um filme para outro é notável, tanto na condução dos personagens quanto no cerzimento da tensão entre eles. Mas, dado que o confinamento tem aqui motivos políticos, a política e a história (ou uma certa leitura dela) são o que interessa.
"Cabra-Cega" é militante, ao tomar partido das figuras que homenageia (algumas das quais Venturi ouviu para o documentário "No Olho do Furacão"). Em seu final de impacto, sugere que a história só acaba quando termina --e a do Brasil, como a tela que se enche de luz ao som de um vibrante remix de Chico Buarque, tem ainda páginas em branco, para trás e adiante.
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