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19/04/2005 - 09h22

Mostras discutem limites de realidade e ficção no FotoRio 2005

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EDER CHIODETTO
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Ora operando como documento do mundo visível, ora como trampolim para a fantasia, a fotografia sempre se valeu do binômio realidade-ficção para se expandir e se fixar no imaginário coletivo. Isso fica patente nas três mostras abrigadas sob o título "Fotografia: Suporte da Memória, Instrumento da Fantasia", que serão abertas hoje para o público no CCBB carioca, dando início ao segundo encontro internacional de fotografia do Rio, o FotoRio 2005.

Sob coordenação do fotógrafo e professor de antropologia Milton Guran, o evento pretende ser "mais que um festival com várias imagens penduradas na parede". "Queremos criar um movimento de reflexão sobre a importância da foto como patrimônio cultural de primeira necessidade."

Para tanto, a extensa programação, que segue até o final de junho, prevê mostras de ícones da fotografia como o francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), a mexicana Graciela Iturbide e o brasileiro Marc Ferrez (1843-1923), entre outros, além de seminários.

"Do Olhar Inquieto", uma das três exposições abertas hoje, trata de uma forma muito particular de reconstituir a evolução do imaginário no olhar fotográfico em cerca de 60 imagens da coleção do Centro Português de Fotografia, com sede na cidade do Porto.

Tereza Siza, curadora e diretora da instituição, optou por ilustrar o percurso da história da fotografia de forma não cronológica: "Passaram-se quase 170 anos da invenção da fotografia, e temos cada vez menos certezas sobre ela. A humanidade já pensou que ela era equivalente à realidade, hoje sabemos que não é bem assim. Optei por quebrar a ordem cronológica para poder tecer relações mais complexas entre as imagens. No lugar do didatismo, prefiro deixar as pessoas inquietas nesse labirinto de identidades", diz ao alinhar a fotografia "Derrière la Gare Saint-Lazare", ícone do momento decisivo conceituado por Cartier-Bresson com uma foto do português Carlos Calvet. Um daguerreótipo de 1848 de Wenceslau Cifka com a imagem do palácio Pena, em Sintra, é a peça mais antiga e preciosa da mostra.

Glamour e fetiche

Na sala ao lado, apropriadamente pintada de vermelho, a mostra "Portraits de Stars", trazida pela Maison Européenne de la Photographie, com sede em Paris, exibe glamour, fantasia e fetiche em 40 retratos de estrelas hollywoodianas dos anos 30 em diante.

Os belíssimos retratos de George Hurrel, encomendados pelos estúdios para divulgação de filmes, conseguem, em apenas uma fotografia, dotar seus retratados de uma aura mítica, uma verdadeira usina de construção de ícones. Greta Garbo e Johnny Weissmuller, o Tarzan, são alguns dos astros fotografados que só podem ser vistos na mostra, já que sua divulgação não é permitida por normas contratuais. Há ainda retratos de impacto, como Natassja Kinski "amamentando" uma boneca que parece uma mulher idosa, por Helmut Newton, e a sensualidade de Marlene Dietrich traduzida pelas suas longelíneas pernas, alvo da fantasia de uma geração de cinéfilos e fotógrafos.

"Retratos Estrangeiros", a terceira mostra do FotoRio 2005, é um recorte da Coleção D. Thereza Christina Maria, doada para a Biblioteca Nacional em 1892 pelo imperador d. Pedro 2º e que desde 2003 está inscrita no "Registro da Memória do Mundo", programa da Unesco que destaca os mais importantes conjuntos documentais da história da humanidade.

O curador e diretor da divisão de iconografia da Fundação Biblioteca Nacional, Joaquim Marçal, selecionou em torno de 40 raras imagens produzidas entre 1860 e 1880. Nessa época os primeiros fotógrafos começaram a se espalhar pelo mundo para clicar tipos exóticos. "Eram fotografias adquiridas por pessoas que tinham curiosidade por outros povos do planeta", escreve Marçal no texto do catálogo.

Embora tenham sido usadas por etnólogos, muitas imagens são encenadas e mostram pessoas em trajes típicos e poses que denotam mais o imaginário às vezes preconceituoso do fotógrafo que uma situação real. Prova inconteste de que, desde sempre, fantasia e realidade têm fronteiras muito tênues na representação fotográfica. Muito do que cremos ser uma prova cabal do real pode ser não mais do que uma quimera.

Fotografia: Suporte da Memória, Instrumento da Fantasia
Onde: CCBB-RJ (r. 1º de Março, 66, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 21h, de hoje até 26 de junho
Quanto: entrada franca

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