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26/04/2005 - 09h09

São Paulo mergulha em 300 anos de Rússia czarista

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Pela segunda vez, em três anos, São Paulo recebe uma abrangente mostra da produção visual russa. Primeiro foi a exposição "500 Anos de Arte Russa", na Oca, com o acervo do Museu Russo de São Petersburgo, que traçou um panorama bastante amplo dos ícones religiosos, do século 16 até a produção contemporânea.

Agora, um recorte mais específico pode ser visto em "Herança dos Czares - Obras dos Museus do Kremlin de Moscou", que apresenta cerca de 200 peças da dinastia dos Romanov (1613 a 1917), basicamente obras que retratam os poderes político e religioso da época dos czares.
"Há dois anos trabalhamos nessa exposição, cada peça tem um significado especial", conta Elizabeth-Sophie M. di Bosco Balsa, curadora da exposição.

Divididas em quatro salas, a mostra reproduz cenograficamente a Armaria, um dos museus no Kremlin, de onde foi selecionada a maioria das peças da exposição, segundo leitura do decorador Jorge Elias.

Nas primeiras três salas, a divisão é por séculos. Começa com o século 17, quando tem início a dinastia Romanov, que sucedeu a dinastia Ryurik, de Ivan, o Terrível, morto em 1584. Seu filho, Feodor, reinou por pouco tempo. Morreu em 1598, possibilitando a ascensão de uma nova família ao império russo.

Por 15 anos, a Rússia atravessou várias crises institucionais, até que Mikhael Feodorovich (1596-1645), filho de Feodor Romanov, daí o nome do novo império, chega ao poder, consagrado como czar em 1613. Será a última dinastia russa, até a revolução bolchevique de 1917.
"Grande parte das obras expostas aqui são armas, pois o czar era o chefe militar do império", disse à Folha Victoria V. Pavlenko, diretora de exposições dos Museus do Kremlin, que ontem montava a mostra na Faap.

Também há grande quantidade de presentes oferecidos aos czares, que eram expostos no Kremlin, também como símbolo de poder. Algumas peças, como uma caneca de prata, por exemplo, presente do rei inglês James 1º, em 1604, é a única peça remanescente desse período, pois todas as demais foram derretidas na Inglaterra para a fabricação de moedas no fim do século 17. "Temos a maior coleção de prata na Europa", conta Pavlenko.
Outro destaque da exposição são as vestimentas, seja de autoridades da Igreja Ortodoxa Russa, seja dos czares. "A roupa é um dos símbolos do poder na Rússia, quanto mais roupas uma pessoa vestia, mais importante ela era", diz Pavlenko.

Na segunda sala, dedicada ao século 18, o czar que ganha maior espaço é Pedro, o Grande (1672-1725), já que em seu curto reinado (1721-1725) realizou grandes reformas: criou o Exército e a Marinha, subjugou a igreja ao Estado e introduziu novas divisões territoriais. Ele foi o responsável pela transferência administrativa de Moscou para São Petersburgo.

Já na terceira sala, o esplendor dos Romanov alcança seu apogeu. Objetos religiosos são ricamente adornados com ouro, rubis e esmeraldas, há ícones construídos totalmente com pérolas, como uma imagem de Nossa Senhora de Modena, de 1846.

Impacto maior

Entretanto, é na última sala, a menor aliás, que se encontra a peça mais impactante da mostra, um ovo de Páscoa, de 1913, com um globo dentro, fabricado pela mais famosa joalheria russa, a Fabergé, então mundialmente reconhecida.

Entre 1885 e 1917 foram produzidos 56 ovos pela joalheria de Carl Fabergé, todos considerados obras-primas, pois para sua elaboração era necessário um ano de trabalho. Atualmente, o Museu do Kremlin possui apenas dez ovos, os demais foram dados como presente pelos czares ou mesmo vendidos após a Revolução de 1917.

Com a mostra, é impossível não perceber a importância da religiosidade russa, tema em ascensão desde o fim do período comunista. "Sem dúvida, os russos são um povo de fé, e a nova onda religiosa é fruto do que se vê nessa exposição", conta Pavlenko.

Como forma de buscar criar uma aproximação com o Brasil, a curadora selecionou o ícone "Milagre de São Jorge e o Dragão", do final do século 18: "São Jorge, um dos santos mais populares do Brasil, é o protetor de Moscou e, por isso, também fruto de grande devoção". Assim, amanhã deve começar mais uma romaria da era das grandes mostras.

Herança dos Czares - Obras dos Museus do Kremlin de MoscouQuando: abertura, hoje, às 20h, para convidados. De ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 26/6 Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap (r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/11/ 3662-7198) Quanto: entrada franca

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