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27/04/2005 - 10h08

Cantora Omara Portuondo defende a alma e a imagem de Cuba

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

Por três vezes, tentei, em vão, fazer com que Omara Portuondo falasse da realidade política cubana. À primeira pergunta, "o que você acha da situação?", a cantora respondeu, diplomaticamente: "O que estou fazendo neste exato momento é minha função, com a cultura, a de representar Cuba por todas as partes do mundo".

Da segunda, tentei evitar uma resposta que já estivesse na ponta da língua. Quis saber o que ela achava do fato de dois ícones da cultura cubana, a também cantora Célia Cruz (1924-2003) e o escritor Guillermo Cabrera Infante (1929-2005) terem morrido recentemente longe da ilha em que nasceram, por terem sido proscritos pela ditadura de Fidel Castro.

Delicadamente, Portuondo desconversou, mais uma vez: "Célia era muito respeitada, tinha uma voz magnífica, um timbre muito especial; trabalhei com ela em Cuba e depois a vi no exterior. Sempre conversávamos".

De Cabrera, disse apenas que admirava o fato de "Três Tristes Tigres" ter ficado tão famoso. "Mas a senhora não acha triste que eles não tenham podido..." Portuondo não esperou o fim da pergunta. "Olha", disse, dessa vez com firmeza, "a vida é uma coisa tão tremenda, agora estou no Brasil, algo que nunca pensei que iria fazer, e era uma grande ilusão que tinha; consegui estar aqui e só o que quero é que me conheçam melhor. Gosto de poder estar em todas as partes e de, depois, poder voltar a Cuba. A decisão de quem parte é pessoal, e eu respeito a decisão de todo mundo".

OK, melhor mudar de assunto. São pouco mais de 18h da última segunda-feira. Portuondo está em um hotel em São Paulo, dando uma série de entrevistas para jornalistas brasileiros, parte da programação de divulgação de "Flor de Amor", seu mais recente CD, que inclui também um pocket-show hoje, na Fnac Paulista.

Cansada? "Sim, mas ainda há forças", diz, rindo, essa cantora de 74 anos que, desde que foi novamente "revelada" ao mundo pelo projeto Buena Vista Social Club, do americano Ry Cooder, em 1997, não tem tido sossego e teve de aprender a conviver com as estratégias de marketing do mundo das grandes gravadoras.

"Flor de Amor" reúne gêneros cubanos tradicionais com uma grande dose de influência brasileira, no ritmo, na produção de Alê Siqueira e na participação de Carlinhos Brown e de Marcos Suzano. "Sempre admirei muito a música brasileira e me atrai o fato de nossa música ter raízes comuns na cultura africana", diz.

Em junho, Portuondo deve voltar ao Brasil, dessa vez para mostrar o CD em uma turnê maior.

Conta que começou a cantar por influência dos pais. "Minhas recordações musicais mais antigas são meus pais cantando e os programas de rádio, com cantores ao vivo." "Veinte Años", o bolero que a celebrizou no Buena Vista Social Club, cantado em dueto com Ibrahim Ferrer, surgiu em sua vida nessa época. "Aprendi aos cinco ou seis anos, em nossas tertúlias familiares", diz.

Filha de uma espanhola com um jogador de beisebol negro --motivo de preconceito na época--, começou a vida artística por acaso. Sua irmã era dançarina do tradicional cabaré Tropicana, em Havana, e ela costumava acompanhá-la nos ensaios. Certa vez, uma bailarina não pôde se apresentar, e a irmã a indicou para o papel. "À princípio recusei, porque tinha vergonha de levantar as pernas para o ar", ri. "Eu era muito nova, mas acabei aceitando."

A partir daí, abriram-se para ela as portas do cenário musical cubano. Logo conheceu pessoas ligadas ao "filin", gênero que misturava bossa nova e jazz americano com uma roupagem cubana (a palavra vem de "feeling", em inglês) e começou a fazer shows.

Nos anos pré-revolução, viajou aos EUA. Entretanto, de 1959 a 1997, ano do projeto BVSC, seu trabalho ficou conhecido só por um pequeno círculo na ilha natal. Mas Portuondo não culpa a revolução. "Estive algumas vezes nos EUA, até pouco tempo antes de Bush assumir inclusive; em 86 viajei com o Tropicana e, depois, com o grupo do Buena Vista, nos apresentamos no Carnegie Hall; acho que vou voltar, pois a cultura está viva e é o que importa", diz.

Omara Portuondo
Show: hoje, às 19h, na Fnac Paulista (av. Paulista, 901, SP, tel. 0/xx/11/2123-2000), só as 60 primeiras pessoas a chegar assistem ao show
Quanto: entrada franca

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