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28/04/2005 - 09h49

Caixa de CDs festeja coroação de Roberto Carlos

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, do Rio

Um olhar simplista dá conta da caixa "Roberto Carlos pra Sempre - Anos 70" (Sony BMG) com uma frase: nesse período, o cantor deixa para trás os roquinhos da jovem guarda e o namoro com o soul e se transforma no paradigma do intérprete romântico brasileiro. Em uma palavra, transforma-se de fato no Rei.

Mas o relançamento de uma só vez dos 12 discos da década --segunda das cinco caixas que cobrirão toda a carreira de Roberto-- deixa claro o que audições esparsas e preconceitos sombreiam: o Rei não é um, são muitos.

O mais óbvio é o romântico, mas mesmo neste há nuances. O que canta "Detalhes" no disco de 1971 --conceitualmente, o primeiro da década, já que o de 1970 conta com autores, arranjos e estilos ligados aos anos anteriores-- ainda tem humor para auto-ironias e sarcasmos: "Não vá dizer meu nome sem querer à pessoa errada".

Essa leveza rareia nos anos seguintes, e Roberto põe sua voz a serviço do desamparo, do abandono, da despedida, como em "Palavras" (73), "Você" (74), "Não se Esqueça de Mim" (77) e "Costumes" (79), entre outras.

Assim, torna-se mais do que nunca um monarca, pois tem a sensibilidade de se irmanar com seu milhão de súditos --ou melhor, amigos-- nos momentos mais dolorosos. Na jovem guarda, ele divertia, era passageiro. Agora, chora junto e abraça, fica eterno.

Não se podem restringir, portanto, as ambições messiânicas de Roberto Carlos às suas músicas religiosas que surgem nessa época --"Jesus Cristo" (70), "Todos Estão Surdos" (71), "A Montanha" e outras. Nas capas, em que aparece cabeludo e triste, e em boa parte das faixas, é um mártir aquele que canta, não pode parar, como Caetano Veloso traduziu em "Força Estranha" (78).

Cara a tapa

Identificado pela rasteirice conjuntural da esquerda de então como um porta-voz do regime militar, Roberto dá a cara a tapa e tenta fazer canções sociopolíticas, como "O Progresso" (76) e "O Ano Passado" (79). Estilisticamente, o resultado é desastroso, mas prova que um rei não pode ter medo.

Com "Jesus Cristo", ele teve de enfrentar a ira de conservadores que viam o hino gospel como profano. Em 71, cantou o exilado Caetano ("Como Dois e Dois") e para Caetano ("Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos"). Isolado pela nata da MPB, gravou Benito Di Paula, Wando e outros artistas cafonas.

Nos primórdios do politicamente correto, entoou "Negra" (72), "Cavalgada" (77), "Um Jeito Estúpido de te Amar" (79) e uma série de músicas eróticas capazes de corar carolas e feministas: "Seu Corpo" (75), "Os Seus Botões" (77) e "Café da Manhã" (78), por exemplo.

Ao longo dos 12 discos, a solidão do Rei também se reveste de nostalgia e utopia. No primeiro caso, em "O Portão" (74), "Jovens Tardes de Domingo" (77) e nas canções para mãe e pai; no segundo, em "Além do Horizonte" (75), "Na Paz do Seu Sorriso" (79) e outras. Autobiográfico, fala do acidente que feriu sua perna em "O Divã" (72).

Lembranças de um tempo em que ele era religioso sem ser dogmático --o que parece está deixando de ser novamente-- são as regravações de "É Preciso Saber Viver" (74), com a palavra "mal" intacta, e "Quero que Vá Tudo pro Inferno" (75), depois proscrita de seu repertório.

São muitos os momentos marcantes de uma caixa inevitavelmente histórica. Ouvi-la é se deparar com um rei plenamente humano --contraditório, equivocado às vezes-- e um homem inegavelmente rei.

Roberto Carlos pra Sempre - Anos 70
Avaliação:
Artista: Roberto Carlos
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 265, em média

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