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05/05/2005 - 09h48

Novo longa de Walter Lima Jr. leva a bossa nova à tela

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MARCELO BARTOLOMEI
Colaboração para a Folha de S.Paulo, do Rio

Num estúdio da zona sul do Rio de Janeiro --palco de momentos históricos da música, quando o prédio de Copacabana foi sede da RCA e da BMG/Ariola--, Glória solta a voz e lidera a gravação de "Mente pra Mim" (Newton Mendonça), acompanhada por piano, violão, baixo e percussão. A cena, filmada no domingo passado, é de ficção, mas se confunde com a realidade no musical "Os Desafinados", o novo longa do cineasta Walter Lima Jr., 66.

A repercussão da música brasileira no exterior como movimento da sociedade, simbolizada pela bossa nova, ganha neste ano mais um capítulo na história com um filme que fala da efervescência cultural iniciada nos anos 60, cujos desdobramentos seriam atropelados pelo regime militar e, mais tarde, pela morte de alguns ícones do gênero.

Não é, no entanto, um filme biográfico --alguns personagens são baseados na vida real, mas não ganham os nomes que fizeram a história da bossa nova como João Gilberto, Tom Jobim, Roberto Menescal, João Donato ou Sérgio Mendes. Fala de cultura, política e comportamento nos anos 60, passando também pela década de 70 e chegando ao século 21. "É um filme sobre sentimentos e o entusiasmo, uma coisa febril que existia na época", diz o diretor, autor de premiados trabalhos como "A Ostra e o Vento" (1997) e "Menino do Engenho" (1965).

Glória, a cantora, é vivida por Cláudia Abreu. Ao seu lado estão Rodrigo Santoro (o pianista Joaquim), Ângelo Paes Leme (o violonista Davi), André Moraes (o baterista Paulo César) e Jair Oliveira (o baixista Geraldo), que formam o quarteto que a acompanha na aventura musical.

A escolha do elenco foi um dos dilemas da produção. "Eu pensava em fazer um filme só com músicos, mas eles deveriam ter alguma vivência de atuação. Fiz uma mescla disso, mas nossos atores são muito musicais."

A equipe está na quinta das oito semanas de filmagem (uma delas será em Nova York), e o filme deve ficar pronto até o final do ano, a um custo de R$ 7 milhões, com previsão de estréia para o primeiro semestre de 2006, segundo o produtor Flávio Tambellini, 52, da Ravina Filmes.

Experiências

A Folha visitou o set de "Os Desafinados", onde acompanhou as filmagens durante um dia. Extremamente cuidadoso com a produção, Lima Jr. diz ter vivido experiências como as que estão no roteiro. "Eu sou uma pessoa muito ligada à música. A idéia de fazer um musical é muito antiga", afirma o cineasta. "Este tipo de projeto, que usa valores tão fundamentais e essenciais da nossa cultura, deveria ser mais presente na nossa cinematografia. Sinto falta de filmes com música", diz.

O cineasta afirma que não quer fazer de "Os Desafinados" um filme de protesto. "Não tenho mágoa nem ressentimento da ditadura militar. Fui preso, tive um irmão preso, mas vi um pianista, o Francisco Tenório Júnior, que foi preso político, morrer inexplicadamente [oficialmente, o músico é tido como desaparecido]. Quero fazer um filme sem ressentimento da repressão", conta Lima Jr.

Um dos personagens, segundo o diretor, será atingido pelo que chama de "alguns erros do regime militar", o que provocará a separação do grupo e repercutirá de maneira catastrófica.

O argumento do filme é baseado na história da banda, que, empolgada com a ascensão da música brasileira nos EUA, se inscreve para um concerto no Carnegie Hall. Mesmo não tendo sido selecionado, o grupo vai para Nova York e tenta firmar uma carreira no exterior. Lá, conhece Glória, que se junta à banda. Na cena, que ainda não foi realizada, eles são guiados por acordes tão conhecidos que ecoam pelo Central Park.

Real, a cena aconteceu em Veneza, na Itália, em 1997, quando o cineasta caminhava pelas ruas e ouviu uma versão instrumental de "Insensatez". A música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes deve ser incluída na trilha sonora, mas ainda depende de direitos autorais. Mesmo que não entre, músicas-tema da bossa nova como "Desafinado" estarão no filme. "Há também algumas canções "lado B" da época, algumas partituras encontradas e musicadas agora", conta Tambellini.

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