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08/05/2005 - 10h00

Novos programas da TV Cultura não decolam no Ibope

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DANIEL CASTRO
Colunista da Folha de S. Paulo

Eleito presidente da Fundação Padre Anchieta com o apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Marcos Mendonça completa em junho um ano à frente da TV Cultura com a emissora nos mesmos patamares de audiência, baixíssimos, de quando assumiu.

Mendonça levou quase um ano para fazer suas primeiras estréias na programação. E suas apostas, até agora, revelaram-se fracassos. A maior delas, Silvia Poppovic, registrou em abril apenas 1,1 ponto no Ibope da Grande São Paulo. Na última quinta-feira de abril, o programa deu mísero 0,6 ponto. Cada ponto no Ibope equivale a 52,2 mil domicílios na Grande SP.

A Cultura também abriu espaço para o futebol de juniores e da segunda divisão paulista, a um custo de mais de R$ 2 milhões só de produção. Não passou da casa dos dois pontos.

O grande "sucesso" da gestão Mendonça, até agora, é o "De Fininho", com esportes radicais e voltado para o público jovem. O programa do ex-tenista Fernando Meligeni estreou com dois pontos de média na última terça.

Mendonça diz que está "satisfeitíssimo" com suas estréias. Não é o que pensa Osvaldo Martins, ombudsman da Cultura, cargo instituído por Mendonça.

"Uma luz amarela deve ter acendido na sala da presidência da TV Cultura depois dos modestíssimos resultados apresentados pelas novidades na grade de programação. É muito menos do que muito pouco --é irrisório", escreveu Martins em crítica, intitulada "Mudanças Ainda Não Decolaram", publicada em abril no site da própria TV Cultura.

O ombudsman foi mordaz com o "Silvia Poppovic". "O programa foi lançado em grande estilo com excelente divulgação e festa de arromba, conferindo à apresentadora status de estrela. Status que começa pelo nome do programa, incomum na Cultura. O resultado, em termos de audiência, é inferior ao que a apresentadora conseguia quando estava na Band", escreveu.

Para Martins, o programa de Silvia, sobre qualidade de vida, tem problemas. "O formato me pareceu muito elitista", diz.

O ombudsman defende a tese de que a TV Cultura, por ser uma emissora pública, tem de dar audiência. "Se for para poucos, não é pública. O desafio é conciliar qualidade com formato atraente."

Martins acredita que a Cultura deve registrar pelo menos dez pontos no Ibope. Está longe disso. Sua média diária nos primeiros quatro meses de 2005 foi de um ponto. Exatamente a mesma do primeiro quadrimestre de 2004.

Mendonça também sonha com os dez pontos. Acha que é "perfeitamente possível" conseguir isso em 2007. Até lá, muita coisa tem de ser feita. A programação da Cultura está defasada, ela já não atrai mais os jovens como nos anos 80 e não consegue se firmar entre as classes C, D e E. A emissora ainda vive de reprises, como "Castelo Rá-Tim-Bum", lançado há mais de dez anos, quando a Cultura chegava a dar mais de dez pontos no Ibope --hoje, seus picos não passam de quatro.

"Nos últimos dez anos, houve queda de produção e da qualidade da programação", constata o ombudsman Martins.

Especialista em TV pública, o professor da Escola de Comunicação e Artes da USP Laurindo Lalo Leal Filho afirma que falta ousadia à Cultura. "A TV pública tem de experimentar", diz.

O professor vê nas mudanças na programação um "ciclo populista", com programas mais populares, como as transmissões de futebol e o "Senta que Lá Vem Comédia", teleteatro que estréia no próximo sábado e que será lançado amanhã com festa no Teatro Municipal de SP. "São formatos consagrados na TV comercial."

Leal Filho também se sente incomodado com a maior abertura à publicidade implementada por Marcos Mendonça. A Cultura, que antes não aceitava comerciais com promoções e informações sobre preços, agora veicula peças das Casas Bahia, rede varejista. "O anúncio capta o telespectador pela emoção, não quer que ele pense. O problema é que isso contamina a programação, que tem de ser reflexiva", afirma.

Outra aposta de Marcos Mendonça é um festival de música, em agosto. O festival foi lançado com festa há dois meses em São Paulo. Até a semana passada tinha apenas 800 inscritos. Na terça, faltando menos de duas semanas para o término das inscrições (dia 15), a Cultura fez outra festa para divulgá-lo, desta vez para mil pessoas, no Rio (onde a TV só é vista na TV paga), a custo não revelado.

A gestão de Mendonça, ex-vereador e deputado, também sofre ataques políticos. O PT, que faz oposição ao governo estadual na Assembléia Legislativa, vê na abertura de uma faixa de programação para a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) uma tentativa de divulgar o suposto "projeto Alckmin 2006".

Alckmin tem acompanhado as apresentações da Osesp pelo país. No final deste mês, a orquestra terá concertos na Cultura em pelo menos dois dias por semana. O Estado banca quase 80% do orçamento da Cultura, que prevê gastar R$ 115 milhões neste ano.

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