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12/05/2005 - 10h18

Critérios estéticos vão dominar votação em Cannes, diz Kusturica

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ALCINO LEITE NETO
Enviado especial a Cannes

O diretor sérvio Emir Kusturica afirmou ontem que a democracia não vai predominar na escolha dos melhores filmes do 58º Festival de Cannes. Ele é o presidente do júri da mostra competitiva, composto por nove pessoas que irão avaliar as 20 produções que disputam a Palma de Ouro.

O júri foi apresentado ontem à imprensa internacional numa insossa entrevista coletiva, em que as atrações de fato foram as atrizes Salma Hayek (mexicana) e Nandita Das (indiana).

Os demais jurados são a escritora americana Toni Morrison, Prêmio Nobel de Literatura, o ator espanhol Javier Bardem e os diretores John Woo (chinês), Fatih Akin (alemão), Benoît Jacquot e Agnès Varda (franceses).

"A qualidade dos filmes não tem nada a ver com democracia. Talvez tenhamos algum consenso no júri, mas não teremos democracia", disse Kusturica. Varda, um dos principais nomes do cinema francês, foi a única pessoa a retrucar ao presidente. "Democracia não sei se teremos, mas com certeza teremos maioria."

"Nós iremos nos concentrar em estética", emendou depois Kusturica, talvez aludindo à escolha sobretudo política do documentário "Fahrenheit 11 de Setembro", de Michael Moore, como melhor filme do festival do ano passado. Indagado, porém, se achava que a Palma de Ouro para Michael Moore resultara de uma escolha artística ou política, Kusturica respondeu que foi uma decisão estética, "paradoxalmente". "Quando digo estética, é preciso incluir também moral e alguns outros aspectos", consertou.

Na entrevista, as atenções da mídia voltaram-se principalmente para Hayek e Bardem. Ex-atriz de novelas mexicanas, ela contou que trocou seu país pelos EUA porque lá não havia indústria de cinema. Bardem disse que não se mudou para os EUA e quis ficar na Espanha "por causa da comida, do clima, de língua". Para ele, "a cultura latina está se ampliando no mundo".

Ruína conjugal

A abertura oficial e solene da 58ª edição do Festival de Cannes ocorreu ontem às 19h30 (14h30, horário de Brasília), com o filme "Lemming", do diretor alemão Dominik Moll. A pequena cidade litorânea de Cannes, no sul da França, já está lotada de gente e carros. Taxistas e lojistas comentam a invasão extraordinária do balneário neste ano pela imprensa e pelo público, em boa parte devido aos filmes selecionados. Diferentemente de 2004, esta competição apresenta muitos pesos pesados, como Gus van Sant, Jim Jarmursch e Lars von Trier.

"Lemming" é um filme estranho e inclassificável, que passa por vários gêneros do cinema, do melodrama à comédia e ao terror, sem se estabilizar em nenhum deles. É a história de um jovem casal (Charlotte Gainsbourg e Laurent Lucas), cuja vida sonhadora e pacata é posta em xeque por um casal mais velho (André Dussollier e Charlotte Rampling, excelentes).

O diretor submete a moral conjugal pequeno-burguesa a uma minuciosa destruição, graças a um excelente roteiro, muito irônico e cruel, e a um olhar atento às nuances. Lemming é um tipo de roedor que o casal encontra dentro do tubo de esgoto da pia da cozinha, um dos momentos "surrealistas" do filme, que só se atrapalha quando começa a encravar metáforas dentro da narrativa.

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