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16/05/2005 - 09h38

Público lota Bienal do Livro do Rio atrás de promoções e best-sellers

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, do Rio
ANA PAULA CONDE
Colaboração para a Folha de S.Paulo

O norueguês Lars Saabye Christensen falava há apenas meia hora no Café Literário, na tarde de sábado, quando o entrevistador Silio Boccanera teve de encerrar a sessão em função de um "evento perturbado" que aconteceria em seguida. Traduzindo: a organização da Bienal do Livro do Rio precisava evacuar o já pouco ocupado recinto e prepará-lo para receber a fila que ansiava do lado de fora pela chegada dos humoristas do Casseta & Planeta.

A cena ilustra a constatação de que não existe uma bienal, mas duas acontecendo no Riocentro --até o próximo domingo. A primeira, tema dos cadernos de cultura dos jornais, tem como destaques autores estrangeiros e, como cenário mais freqüente, auditórios praticamente vazios.

A segunda, mais real e razão de ser do evento, é a que moveu mais de cem mil pessoas no último fim de semana (49.432 no sábado e 57 mil no domingo) para uma exposição em torno de livros, que ainda não fazem parte do cotidiano da maioria dos brasileiros. O que se busca nas ruas lotadas dos pavilhões, principalmente, são promoções (livros baratos), escritores best-sellers (Ziraldo, Lya Luft, Luis Fernando Verissimo) e celebridades (Casseta & Planeta, a apresentadora Eliana e o ex-jogador de futebol Bebeto, por exemplo).

"Não seria melhor a gente ir para um bar conversar?", perguntou o bem-humorado escritor australiano DBC Pierre às 30 pessoas que formavam a platéia de sua conferência, na noite de sábado.

O autor de "Vernon God Little - Uma Comédia na Presença da Morte", livro vencedor do Booker Prize em 2003, certamente teria tido maior público se se sentasse em um dos lotados restaurantes dos pavilhões. Também cheios ficaram os estandes com atrações para crianças e/ou livros de R$ 1 a R$ 3.

Voltado para o público infantil, mas com maior gabarito literário, o estande da Melhoramentos atraiu no sábado cerca de 3.000 pessoas para a sessão de autógrafos coletiva realizada, durante três horas, por Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Pedro Bandeira.

No mesmo Pavilhão Verde, o lote da Comix Book Shop superlotava de adolescentes de todas as idades, comprando desde mangás (gibis japoneses) por R$ 3 até sofisticadas obras em quadrinhos como "Prelúdios e Noturnos", da série "Sandman", por R$ 54.

"Estou vendendo de 30% a 40% a mais do que na última bienal", exultava Carlos Mann, dono da Comix há 19 anos. "Com o advento dos mangás, formaram-se novos leitores de quadrinhos. E, pela minha experiência, quem começa a ler mangás, depois evolui para coisas mais elaboradas, como livros", disse.

A aposta de Mann pode ser excessivamente otimista, mas impressionava no fim de semana o grande número de visitantes em estandes de editoras menos comerciais --algumas pequenas e médias e outras maiores, como a Companhia das Letras e a Jorge Zahar, que juntaram seus livros no mesmo endereço da bienal.

A fila era maior em uma editora como a Sextante, a campeã dos livros de auto-ajuda e que estreou na ficção com nada menos do que "O Código Da Vinci" (800 mil exemplares já vendidos). "Reconheço que é uma cavalice, os livros estão vendendo muito", espantava-se Marcus da Veiga Pereira, um dos donos da Sextante. A empresa tem vendido em média 250 mil livros por mês.

Chamado de "Dan Brown francês" por ter desbancado "O Código Da Vinci" do topo da lista de mais vendidos da França com o seu "Da Próxima Vez", Marc Levy ainda não tem a mesma popularidade no Brasil. Sua palestra, no sábado à noite, não cativou mais do que cem pessoas, apesar do chamariz de seu livro anterior, "E Se Fosse Verdade...", ter tido os direitos comprados para o cinema por Steven Spielberg por US$ 2 milhões.

Ele aproveitou para bater na crítica de seu país, que normalmente bate nele. "Minha relação com os críticos é péssima, horrível mesmo. Isso me tranqüiliza muito. Na França, há um complexo em relação à felicidade, como se ser feliz fosse sinônimo de ser idiota. Os intelectuais são infelizes e, apesar de defenderem a esquerda, detestam tudo que é popular", disse, desvelando um pouco do divórcio que há entre as duas bienais.

País homenageado da feira deste ano, a França enviou 16 autores para o Rio em uma missão de conquista de novos leitores, já que o país há muito deixou de ser referência marcante para os brasileiros. Até o momento, o lucro da missão parece tímido.

Lolita Pille, a única da delegação que já fazia sucesso aqui por causa de "Hell", mostrou-se bem mais acanhada do que a protagonista de seu romance, que trata do mundo de sexo e drogas da alta burguesia francesa. Fez um pequeno gracejo no Café Literário --toparia viver com um traficante caso ele fosse bonito-- e chamou mais atenção por não conseguir ficar muitos minutos sem um cigarro na boca.

Como compensação, o estande do Consulado da França se firmou como um dos mais bonitos e visitados da bienal. As atrações literárias eram boas, mas certamente os pães e biscoitos feitos na hora contribuíram bastante para o movimento. Entre um tchauzinho para a câmera da Globo e um grito de "Eliana!", muita gente passava para comer um croissant ou uma madeleine.

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