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16/05/2005 - 09h41

"Gosto dos filmes tortos", diz cineasta Carlos Reichenbach

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LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
da Folha de S.Paulo

Para Carlos Reichenbach, 60, "o cineasta vive com seu filme uma relação como a de pai e filho". Então pode-se dizer que começa hoje, em São Paulo, uma "reunião da família Reichenbach".

Vinda de uma temporada no Rio, o CCBB paulistano exibe até o dia 29 a mais completa retrospectiva de Reichenbach, mesmo com a falta significativa de alguns filmes (como "Anjos do Arrabalde" e "A Ilha dos Prazeres Proibidos"), por problemas com produtores ou falta de verba.

Ao todo, são 19 produções, com destaque para a recuperação de "Amor, Palavra Prostituta" em versão integral. "A única vez que mostraram o filme sem cortes foi em 1979, assim que ficou pronto, numa sessão para a equipe técnica do MIS [Museu da Imagem e do Som]. Ou então fora do Brasil. Essa é a primeira vez para o público nacional", conta o cineasta.

A censura ficou oito meses segurando a cópia, que só conseguiu ser liberada após ter suprimida a seqüência pós-aborto de uma jovem. "Nunca vi esse filme cortado, porque, para mim, cortado ele não existe. Tiraram a parte mais importante, que é a hemorragia da garota que tem um aborto malsucedido. Mas a história é só para falar disso: um cara que está morto por dentro e redescobre a vida diante da possibilidade da morte de alguém que não tem vínculo nenhum com ele. Sem isso, o filme não faz sentido."

Foram 25 anos de separação entre o filho "Amor, Palavra Prostituta" e o pai Reichenbach. Eles se reencontraram no mês passado, quando ele reviu a cópia integral: "Foi emocionante, porque parece um filme novo. Está superatual e é o filme da maneira como foi pensado. É como um filho mutilado que se recupera", compara.

A retrospectiva, com curadoria do jornalista Marcelo Lyra, também promove o encontro com outros dois rebentos que andavam sumidos. São os longas de episódios "As Libertinas", que nunca foi exibido comercialmente, e "A Badaladíssima dos Trópicos x os Picaretas do Sexo", parte do longa "Audácia!".

Mas a mostra não é só feita de filmes antigos. "Garotas do ABC" ganha uma versão redux, com 30 minutos a mais. "Achei que tinha de reaver, mesmo que só na cópia digital, já que os negativos estão perdidos, algumas coisas boas do filme que tiveram de ser cortadas para encurtá-lo. Há um discurso que Selton Mello faz com uma bomba na mão que é sensacional", justifica o diretor.

Além disso, "Bens Confiscados", ainda inédito em circuito, tem pré-estréia no domingo.

Criticado por "Garotas do ABC", Reichenbach diz que "o salto no escuro é obrigação de toda obra de arte". Mas não vê problemas nos erros: "Gosto de filmes tortos, eles surpreendem cada vez que você os vê. A parte fraca de um filme é às vezes também a mais interessante".

Ele também faz questão de assinar embaixo de todas as suas obras. "Se algo der errado, pode culpar a mim, porque sou sempre o responsável. A vantagem de fazer muitos filmes é que você pode se dar ao luxo de achar que alguns são uma porcaria mesmo. Não tenho o menor pudor de dizer isso. Os filmes do meu início de carreira são muito ruins. Na época do cinema marginal, eu gostava dos filmes dos meus amigos, porque os meus eram uma merda."

Considerados "esboços" para os longas, o CCBB também colocou na programação alguns curtas de Reichenbach. "Equilíbrio e Graça", por exemplo, foi feito logo depois de um infarto, em 2002. "Senti necessidade de falar de sintonia naquele momento. Meus filmes mais interessantes são reflexões sobre o que passei ou sobre meus sentimentos."

Sempre ativo, lista "Um Deus Desarticulado" como seu projeto futuro: "É sobre minha experiência com a morte. Afinal, meus filmes se dividem entre os femininos, que são uma forma de entender os outros, e os masculinos, para entender a mim mesmo". Mas na lista das coisas a fazer está sempre presente ver filmes: "Tenho gulodice fílmica. Vejo tudo".

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