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22/05/2005 - 09h57

Filmes brasileiros desafiam mercado e encaram "Star Wars"

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SILVANA ARANTES
da Folha de S. Paulo

Dois filmes brasileiros desafiam a lógica do mercado cinematográfico desde sexta passada.

"Bendito Fruto", de Sergio Goldenberg, e "Quanto Vale ou É por Quilo", de Sergio Bianchi, estrearam no primeiro fim de semana em cartaz de "Star Wars --Episódio 3", uma dessas superproduções para as quais a indústria talhou a expressão "arrasa-quarteirões" --esmagam a concorrência.

O fato de dois filmes nacionais estrearem no mesmo dia, ainda que não encarassem de frente a disputa pelo público com "Star Wars", já é, em si, uma pequena subversão à cartilha não-escrita do mercado de cinema no Brasil.

Como o filme nacional se habituou a ficar reduzido a uma espécie de gueto de espectadores, a norma básica é evitar o excesso de oferta para um público reduzido.

Por que "Bendito Fruto" e "Quanto Vale ou É por Quilo?" fugiram à regra? "A data de estréia foi uma escolha do distribuidor [Riofilme, em parceira com Paris Filmes]", afirma o diretor do primeiro título, lançado apenas no Rio e em São Paulo.

Airton Correa, gerente de distribuição da Riofilme, diz que a estratégia traçada para a estréia foi a de fazê-la coincidir com a abertura das salas Arteplex em Botafogo, bairro carioca que é tema e cenário de "Bendito Fruto".

O fato de "Star Wars" estrear no mesmo fim de semana "pode tirar um pouco do público" de Goldenberg, na avaliação de Correa. O gerente diz que teve dificuldade para encaixar o longa no circuito. "Alguns multiplex estão destinando até três salas para Star Wars", diz. O longa de George Lucas ocupa mais de 400 dos cerca de 1.900 cinemas brasileiros.

"Realmente vai ser uma briga dura. Estou muito ansioso. Mas quem sabe a gente ainda vai ter a oportunidade de ampliar o circuito", diz Goldenberg.

A aposta do cineasta é que o filme alcance bom público neste fim de semana de estréia e, com isso, consiga lugar em salas de alta freqüência nas próximas semanas. Correa endossa a previsão: "A tendência é ampliar o circuito".

Se isso ocorrer, será mais uma inversão da ordem habitual do mercado. Após a estréia, um filme em geral perde público e salas. Na melhor das hipóteses, mantém seu circuito. Ampliá-lo é exceção própria de sucessos imprevistos.

Por uma regra da exibição, para que um filme siga em cartaz de uma semana para outra numa determinada sala, ele precisa atingir, durante a semana, a média de público do local. Essa média é fornecida pelo exibidor.

Para Bianchi, a "teoria da fila" embaralha esta equação e faz com que a Riofilme, que distribui também "Quando Vale ou É por Quilo?", não tenha interesse de que os filmes que distribui permaneçam durante muito tempo em cartaz.

"Eles têm uma quantidade enorme de filmes para lançar e um espaço mínimo, que é o das salas Unibanco e, eventualmente, o HSBC Belas Artes", diz Bianchi, relacionando o reduto dos filmes brasileiros em São Paulo.

A "teoria da fila" estabelece que, se um filme fica muitas semanas em cartaz, atrasa a estréia dos que aguardam sua vez.

Correa afirma ter em sua carteira de lançamentos dez filmes brasileiros programados para o segundo semestre. Entre eles estão "Harmada", de Maurice Capovilla, "O Diabo a Quatro", de Alice de Andrade, e "Filhas do Vento", de Joel Zito Araújo, todos concluídos há bastante tempo.

"Harmada" concorreu no Festival de Brasília de 2003. "Filhas do Vento" e "O Diabo a Quatro" competiram, respectivamente, em Gramado (agosto) e no Festival do Rio (setembro) de 2004.

Correa diz, porém, que "não é verdadeira" a tese de Bianchi sobre a fila. "Se o filme for bom, continua em cartaz. O filme dele [Bianchi], por exemplo, tem a característica da manutenção. Deve ficar quatro, cinco, sete, oito semanas em cartaz", afirma.

"Cronicamente Inviável" (1998), longa anterior de Bianchi, manteve-se nos cinemas durante oito meses, com duas cópias. Se considerada a média de público por cópia, o filme foi um sucesso. No entanto este retrospecto não convenceu nenhuma outra distribuidora além da Riofilme a investir no lançamento de "Quanto Vale ou É por Quilo?".

Bianchi diz que procurou "todas" e ouviu reiteradamente a avaliação de que seu filme não é viável mercadologicamente.

"Não é que eu considere meu filme popularíssimo, mas acho que ele poderia ter mais espaço", diz o cineasta. O argumento dos distribuidores que recusaram "Quanto Vale ou É por Quilo?" é interpretado por Bianchi como decorrência da equivocada idéia de que "o povo não gosta de filme inteligente, ainda que o povo diga o contrário".

"Quanto Vale ou É por Quilo?" estreou apenas em São Paulo na última sexta. Seu lançamento no Rio está previsto para esta semana. Correa diz que atrasou a data no circuito carioca para evitar a concorrência com "Star Wars".

"Eu perderia mídia aqui", diz, apontando outro gargalo de concentração na engrenagem da indústria que move o cinema.

A atitude da imprensa também não fica isenta das críticas de Bianchi e de suas especulações sobre o que há na base do iceberg.

"Será que o cinema americano paga para ter essa mídia espetacular? No fim, todo mundo rende homenagem ao império", diz.

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