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26/05/2005 - 16h20

Crítica: Para que serve o "Oscar" brasileiro?

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MARCELO BARTOLOMEI
Colaboração para a Folha Online, do Rio

No momento em que são discutidos os rumos do mercado audiovisual no país, cineastas, produtores, artistas e técnicos de cinema se reuniram anteontem (24) no Rio de Janeiro para assistir à entrega do Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro, o "Oscar" nacional, prêmio que, por sua datação, se revela cada vez mais inconsistente para a efetivação de uma cinematografia local.

"Cazuza O Tempo Não Pára", de Sandra Werneck e Walter Carvalho, levou sete prêmios, dentre eles o de Melhor Filme. Longa de sucesso --fez mais de 3 milhões de espectadores nas bilheterias--, é o melhor exemplo da direção antimercadológica determinada pela Academia Brasileira de Cinema. Como o filme já está há algum tempo nas locadoras, um prêmio como este não alavanca em nada sua carreira.

O problema é que, como produto do mercado --a exemplo do Oscar norte-americano--, a festa brasileira não cumpre função alguma. Os filmes são sempre do ano anterior (no caso, 2004), e, por conta do gargalo que existe na distribuição cinematográfica no Brasil e a disputa com filmes estrangeiros, especialmente os de Hollywood, todos já saíram dos cinemas e a maioria já está disponível no mercado de "home vídeo", tendo levado também dezenas de prêmios em festivais específicos do setor.

Como festa, no entanto, o evento conseguiu reunir --a exemplo do que fez no ano passado, quando a Academia assinou contrato com a companhia aérea para levantar o prêmio-- a maioria das pessoas que realmente fazem cinema no país.

Mas como prêmio, a questão é: para que serve o "Oscar" brasileiro? À primeira vista, é um reconhecimento do importante trabalho do setor. No entanto, é, simplesmente, um afago nos egos de quem faz acontecer no setor--o que também tem seu nível de importância, especialmente para todos os profissionais envolvidos na dolorosa e longa produção.

Vide a recepção fria com que agiram os convidados da platéia a cada entrega de prêmio. Fernanda Montenegro ficou emocionada com o prêmio do filho, o diretor Cláudio Torres, pela direção de "Redentor", mas não com o seu próprio, por "O Outro Lado da Rua" (em que, de novo, tirou o troféu das mãos de ótimas atrizes iniciantes como Leona Cavalli, de "Contra Todos", Cléo Pires, de "Benjamim", e Camila Morgado, de "Olga").

Daniel de Oliveira nem estava lá para receber o prêmio de Melhor Ator, disputado com igualmente ótimos trabalhos de Aílton Graça ("Contra Todos"), José Dumont ("Narradores de Javé"), Paulo José ("Benjamim"), Lázaro Ramos ("Meu Tio Matou um Cara") e Raul Cortez ("O Outro Lado da Rua").

O ano de 2005 é importante para o desenvolvimento do prêmio. O primeiro sinal é seu reconhecimento pela classe, uma vez que ele manteve e promete manter regularidade na realização, coisa que não acontecia no passado. O segundo é ele ter sido transmitido ao vivo pela TV.

Na Band, o resultado da transmissão é comemorado com êxito. Foram dois pontos no Ibope (cada ponto equivale a 52,2 mil domicílios na Grande São Paulo) e uma possibilidade de flerte com o cinema nacional, uma vez que a emissora quer a todo custo consolidar a recém-criada Band Filmes, numa chance de demonstrar simpatia com o setor.

Mas a oportunidade --quem deveria assim enxergar era a organização do prêmio, por ganhar espaço em rede nacional-- estava em atualizar a lista de filmes, ancorando a cerimônia a longas-metragens que ainda estejam em cartaz, cujas bilheterias têm amargado fiascos e colecionado desavenças no setor. Só assim, o prêmio poderia ter um valor que enriqueceria o tão suado mercado brasileiro de cinema. Já que vivemos uma fase de reflexão no cinema, é hora de pensar também seus incentivos, especialmente os festivais e prêmios --a maioria pulverizados e políticos, para não desagradar os concorrentes-- aqui realizados.

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