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06/06/2005 - 10h23

Filme de estréia de pescadora emociona com luta contra preconceito

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JOÃO SANDRINI
Enviado da Folha Online a Fortaleza*

O curta-metragem de estréia de uma pescadora humilde de uma praia pouco conhecida do litoral cearense foi o grande destaque do primeiro dia da mostra competitiva do 15º Cine Ceará.

Orçado em menos de R$ 5.500 e rodado em quatro dias na praia de Redonda, um vilarejo do município de Icapuí (210 km a leste de Fortaleza) onde residem cerca de 3.000 pessoas, o filme "Uma Pescadora Rara no Litoral do Ceará" emocionou a platéia ao contar a luta contra o preconceito de Sidnéia Luzia da Silva, que, além de diretora do filme, se dedica a atividades tipicamente masculinas como a pesca da lagosta e o futebol.

"Devido ao meu trabalho, o pessoal começou a falar que eu jogo em outro time", conta Sidnéia, 26, uma morena troncuda e simpática, que também já trabalhou como pedreira na construção de sua própria casa.

"Mas eu nunca quis ser aquele tipo de mulher bem comum em minha comunidade que se casa com 15 anos e, a partir de então, cuida da casa e das crianças."

Sidnéia conseguiu realizar o filme graças ao projeto "Revelando os Brasis", do Ministério da Cultura. Aberto apenas a moradores de cidades com até 20 mil habitantes que não abrigavam nenhuma sala de cinema, o projeto selecionou 40 cineastas entre 417 inscritos a partir de roteiros enviados e avaliados por um júri. No final do ano passado, os escolhidos participaram de um curso de roteiro e produção de nove dias no Rio de Janeiro.

Terminadas as aulas, os alunos tiveram financiamento público para produzirem os filmes, que foram exibidos pela primeira vez no Rio de Janeiro em maio e agora devem percorrer os festivais de cinema dos 21 Estados de origem dos 40 selecionados.

No filme, Sidnéia apresenta de forma despretensiosa seu cotidiano. As falésias vermelhas e as águas verdes da paradisíaca praia Redonda ajudam, e muito, na beleza do filme.

No entanto, são a autenticidade, a simplicidade e o bom-humor de Sidnéia que conquistam o público. Sem a pieguice da campanha "Eu Sou Brasileiro e não Desisto Nunca", a pescadora intercala cenas felizes --como as de um jogo de futebol com amigos ou de uma farta pescaria de lagostas-- com depoimentos próprios ou de amigos e parentes sobre o preconceito no vilarejo.

O curta já rendeu a Sidnéia diversas entrevistas para redes de televisão e até mesmo uma participação no "Mais Você", programa da TV Globo apresentado por Ana Maria Braga. Bastante simpática, ela encontra disposição até mesmo para subir em coqueiros para atender pedidos de jornalistas.

Questionada, Sidnéia diz que pretende dar continuidade a sua carreira de cineasta, mas tem consciência de que pode apenas estar vivendo seus 15 minutos de fama. Quem assiste ao seu filme, entretanto, não tem essa certeza.

*O jornalista João Sandrini viajou a convite do 15º Cine Ceará

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