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07/06/2005
-
14h51
JOÃO SANDRINI
Enviado da Folha Online a Fortaleza*
Momentos de efervescência política no Brasil sempre acabam nas telas de cinema. Às vezes o acontecimento é mostrado de forma real, como no documentário "Entreatos", em que o diretor João Moreira Salles exibe os bastidores da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outras vezes história e ficção se misturam e surgem filmes como "O que é Isso, Companheiro?" (de Bruno Barreto) ou "Olga" (de Jayme Monjardim).
Em "Bens Confiscados", o novo filme do veterano diretor gaúcho Carlos Reichenbach ("Garotas do ABC", "Alma Corsária" e "Dois Córregos"), no entanto, a corrupção em Brasília serve apenas de pano de fundo para o drama pessoal de Serena (Betty Faria, que também produziu o longa-metragem).
Ainda sem data para estrear em circuito comercial, "Bens confiscados" foi exibido no 15º Cine Ceará ontem, dia em que a política nacional foi chacoalhada pela denúncia de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, teria pago mesadas a congressistas da base aliada ao governo Lula.
O roteiro, no entanto, parece ter sido inspirado em outro escândalo, o que envolveu a troca de acusações entre o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (1997-2000) e sua ex-mulher, Nicéa Camargo.
No filme, o senador Américo Baldini (que permanece foragido e não aparece na tela) é denunciado por corrupção e tráfico de influência pela mulher Valquíria (Beth Goulart), que quer se vingar das traições do marido. A partir do suicídio de uma de suas amantes, o senador manda esconder da imprensa seu filho bastardo, Luís Roberto (Renan Gioelli), e a outra amante, Serena, em uma praia no extremo sul do Brasil.
Se o filme tem o trunfo de ser bastante atual --desde o início do governo Lula, nunca se falou tanto em corrupção, denúncia e até de impeachment-- a narrativa se perde com a atuação bastante apagada do personagem principal, Renan Gioelli, e também dos demais personagens.
Reichenbach, no entanto, defende a escolha para o papel principal do estreante Gioelli -- que depois atuou em "Meu Tio Matou um Cara", de Jorge Furtado. "O menino foi escolhido entre mais de 150 candidatos. Tinha 17 anos na época [da filmagem] e foi assustador para ele contracenar com Betty Faria como seria para qualquer outro. Mas o garoto conseguiu passar não só a fragilidade que a gente queria mas também a arrogância e o autoritarismo do pai senador", disse.
O próprio diretor, porém, aponta a fotografia como principal qualidade de seu longa. "Não estou dizendo que são meus melhores filmes, mas esse ['Bens Confiscados'] e 'Dois Córregos' são meus filmes mais bem acabados", afirmou.
Ele mesmo, no entanto, admite que o grande público nem deve notar essa qualidade da fotografia. "Meu próprio filho disse: 'Pai, que filme feio, não tem cor'. Quase dei uma porrada nele", ironiza.
Se a técnica anima a poucos, fica sim para o público a excelente atuação de Werner Schünemann ("Olga" e "Quase Dois Irmãos"), que teve de engordar vários quilos para literalmente encarnar o gaúcho macho Lobo.
De qualquer forma, parece muito pouco para um diretor tão experiente como Reichenbach.
*O jornalista João Sandrini viajou a convite do 15º Cine Ceará
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Carlos Reichenbach
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Corrupção no DF vira pano de fundo para novo filme de Reichenbach
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Enviado da Folha Online a Fortaleza*
Momentos de efervescência política no Brasil sempre acabam nas telas de cinema. Às vezes o acontecimento é mostrado de forma real, como no documentário "Entreatos", em que o diretor João Moreira Salles exibe os bastidores da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outras vezes história e ficção se misturam e surgem filmes como "O que é Isso, Companheiro?" (de Bruno Barreto) ou "Olga" (de Jayme Monjardim).
Em "Bens Confiscados", o novo filme do veterano diretor gaúcho Carlos Reichenbach ("Garotas do ABC", "Alma Corsária" e "Dois Córregos"), no entanto, a corrupção em Brasília serve apenas de pano de fundo para o drama pessoal de Serena (Betty Faria, que também produziu o longa-metragem).
Ainda sem data para estrear em circuito comercial, "Bens confiscados" foi exibido no 15º Cine Ceará ontem, dia em que a política nacional foi chacoalhada pela denúncia de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, teria pago mesadas a congressistas da base aliada ao governo Lula.
O roteiro, no entanto, parece ter sido inspirado em outro escândalo, o que envolveu a troca de acusações entre o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (1997-2000) e sua ex-mulher, Nicéa Camargo.
No filme, o senador Américo Baldini (que permanece foragido e não aparece na tela) é denunciado por corrupção e tráfico de influência pela mulher Valquíria (Beth Goulart), que quer se vingar das traições do marido. A partir do suicídio de uma de suas amantes, o senador manda esconder da imprensa seu filho bastardo, Luís Roberto (Renan Gioelli), e a outra amante, Serena, em uma praia no extremo sul do Brasil.
Se o filme tem o trunfo de ser bastante atual --desde o início do governo Lula, nunca se falou tanto em corrupção, denúncia e até de impeachment-- a narrativa se perde com a atuação bastante apagada do personagem principal, Renan Gioelli, e também dos demais personagens.
Reichenbach, no entanto, defende a escolha para o papel principal do estreante Gioelli -- que depois atuou em "Meu Tio Matou um Cara", de Jorge Furtado. "O menino foi escolhido entre mais de 150 candidatos. Tinha 17 anos na época [da filmagem] e foi assustador para ele contracenar com Betty Faria como seria para qualquer outro. Mas o garoto conseguiu passar não só a fragilidade que a gente queria mas também a arrogância e o autoritarismo do pai senador", disse.
O próprio diretor, porém, aponta a fotografia como principal qualidade de seu longa. "Não estou dizendo que são meus melhores filmes, mas esse ['Bens Confiscados'] e 'Dois Córregos' são meus filmes mais bem acabados", afirmou.
Ele mesmo, no entanto, admite que o grande público nem deve notar essa qualidade da fotografia. "Meu próprio filho disse: 'Pai, que filme feio, não tem cor'. Quase dei uma porrada nele", ironiza.
Se a técnica anima a poucos, fica sim para o público a excelente atuação de Werner Schünemann ("Olga" e "Quase Dois Irmãos"), que teve de engordar vários quilos para literalmente encarnar o gaúcho macho Lobo.
De qualquer forma, parece muito pouco para um diretor tão experiente como Reichenbach.
*O jornalista João Sandrini viajou a convite do 15º Cine Ceará
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