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09/06/2005 - 09h18

Show reúne nata da vanguarda paulistana no Sesc Pompéia

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RONALDO EVANGELISTA
Colaboração para a Folha

A vanguarda paulistana está de volta. Na verdade, ela nunca partiu, mas surge agora oportunidade de vê-la reunida e com força, em evento solene. Organizado pelo Sesc Pompéia, acontece de hoje a domingo o projeto Vozes da Cidade, com a proposta de mostrar diferentes vertentes da música concebida e germinada na maior cidade da América do Sul.

Intelectualizada, rica, popular e antipop, a tal vanguarda surgida no começo dos anos 80 foi criada por jovens estudados e inquietos, mais interessados em implodir e ampliar os limites da música brasileira do que necessariamente em fazer sucesso.

Guiada por figuras como o compositor Arrigo Barnabé, de formação erudita e interesses kitsch, e Itamar Assumpção (morto em 2003), de suingue popular e inovações rítmicas, teve também as participações revolucionárias de bandas como Rumo (que costumava se chamar Rumo da Música Popular Brasileira), com músicos como Luiz Tatit e Ná Ozzetti, e Patife Band, de Paulo Barnabé, irmão de Arrigo. José Miguel Wisnik, pianista, compositor, cantor e inovador, é outro ponto de equilíbrio.

Reunidos pela Folha para um bate-papo sobre o movimento, alguns de seus principais representantes discutiram os 25 anos de novidades ininterruptas.

Arrigo Barnabé, famoso por seu antológico LP "Clara Crocodilo", lançado em 1980, comenta que era "iludido" em seu começo de carreira. "Eu acreditava em uma certa linha evolutiva da música brasileira. Então havia uma ruptura. Todos faziam música que rompia com o que havia antes. Havia algo de ideológico. Apesar de todos terem interesses composicionais bem diferentes, isso talvez fosse o que unia a todos."

O violeiro e cantor Passoca, que renovou a música caipira em sua geração, aponta outra característica importante: "Com a vanguarda, surgiu um público alternativo, que não havia. Antes, ou você tocava no rádio e fazia sucesso ou não. Mas a nossa geração não pensava em fazer coisas, ia-se fazendo. De repente, as pessoas foram percebendo nosso trabalho. Uma classe média mais ou menos esclarecida começou a lotar teatros, a imprensa se interessou, era possível viver de música sem aquele parâmetro de sucesso de antes".

Perguntado sobre uma certa "elitização" da música, Barnabé questiona também o conceito de arte na música popular. "No Brasil, os músicos têm medo de dizer que fazem entretenimento. Mas há uma diferença muito grande entre o lado de entretenimento e arte da música. A importância cultural de uma obra não a torna arte. Ela pode até ser, mas não necessariamente. A música mainstream de hoje em dia é algo muito próximo do jingle. Há essa intenção do produto. As pessoas compõem buscando o que vai pegar, o que vai fazer sucesso. E, ainda assim, se consideram artistas."

Arthur Nestrovski, violonista que toca com José Miguel Wisnik, lembra que "não há por que ter vergonha do lado intelectualizado" da vanguarda paulistana. Mas Dante Ozzetti, compositor, irmão da cantora Ná Ozzetti, ressalta que o estilo atrai um público "pelo valor que tem, e não por uma tentativa de ser diferente".

Suzana Salles, que sempre cantou ao lado de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, insiste em dizer que "a música muda, mas certas coisas continuam" e aponta o valor da geração de Caetano Veloso e Chico Buarque. Já Barnabé, sem desconsiderar a importância da geração anterior, faz críticas severas.

"O tropicalismo inverteu o sentido de arte e entretenimento. Eles buscavam o êxito, sabiam que a música devia ser consumida, mas se colocavam como arte, o que não concordo. Foi importante eles se utilizarem do iê-iê-iê, de Roberto Carlos, de Vicente Celestino, mas, depois do tropicalismo, esses compositores se enclausuraram no bom gosto. A geração anterior à nossa na MPB é toda formada por superstars."

Todos esses diferentes músicos que formam essa chamada música vanguardista podem não concordar em tudo, mas seu espírito original é o mesmo. Juntos, têm uma força inovadora impressionante até hoje. Suzana Salles resume as semelhanças e diferenças de tantas personalidades diferentes reunidas: "Dá pra perceber que as vozes da cidade são dissonantes, mas têm harmonia perfeita, não é?".

Vozes da Cidade
Quando: de hoje a domingo
Onde: teatro do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/3871-7700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 15

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o "Vozes na Cidade"
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