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12/06/2005 - 09h50

Filme "Outra Memória" reanima fantasma do nazismo em SC

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JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha

O 155º aniversário de Blumenau (SC), em 2 de setembro, será comemorado com o lançamento de um filme um tanto incômodo, "Outra Memória", do cineasta catarinense Chico Faganello.

Misturando ficção e documentário, esse longa-metragem recupera e discute as trajetórias de dois personagens emblemáticos: o químico e filósofo Hermann Bruno Otto Blumenau (1819-99), fundador da cidade, e a atriz Edith Gaertner (1882-1967), sua sobrinha-neta, que depois de fazer carreira no teatro europeu voltou a Blumenau, onde manteve uma vida reclusa e misteriosa.

O enredo é simples: um grupo teatral resolve montar no teatro Carlos Gomes, de Blumenau, uma peça sobre Edith Gaertner para a comemoração do aniversário da cidade. Na pesquisa sobre a vida da atriz, vêm à tona aspectos geralmente negligenciados da ocupação alemã no Sul, como o genocídio de índios e a presença nazista na região na época da Segunda Guerra.

Faganello, que fez anteriormente o documentário "Capitão Imaginário", sobre a Ilha de Santa Catarina, deixa claro que "Outra Memória" não é um filme sobre o nazismo no Estado. "O que me interessava sobretudo era a história íntima dessa atriz esforçada que passou 13 anos trabalhando duro na Alemanha, tomando pau dos críticos porque não falava alemão direito, já que tinha nascido nos trópicos."

Ao longo de uma pesquisa de dois anos em arquivos do Brasil e da Alemanha, o cineasta se deparou com uma rica documentação sobre os tentáculos do nazismo em Santa Catarina.

No filme, ele usa trechos de cinejornais nazistas dublados ou legendados em português, alguns deles com comerciais de empresas germano-brasileiras. Por exemplo, do remédio Instantina, produzido pela Bayer.

"Várias empresas brasileiras de origem alemã entraram numa lista negra do governo dos EUA durante a guerra", diz Faganello. "Mas devemos lembrar que havia uma paranóia antigermânica. A língua alemã foi proibida, nomes germânicos foram mudados, houve campos de prisioneiros para alemães suspeitos."

Muitos desses suspeitos não tinham ligação com o nazismo, avalia o diretor. "Outros colaboraram não por motivos políticos, mas por patriotismo. Eles viviam muito isolados no Brasil."

A presença nazista no Sul do Brasil é um tema tabu. "A TV local passou uma série sobre a história de Blumenau que praticamente pulava os anos 40", diz Faganello. O cineasta Sylvio Back virou "persona non grata" na região quando realizou o longa "Aleluia Gretchen" (1976), que abordava o assunto.

Para Faganello, essa cortina de silêncio não se justifica mais. "Milhões de alemães decentes caíram no projeto de Hitler, no mundo todo. Na Alemanha eles já purgaram essa culpa. Os brasileiros descendentes de alemães também não têm por que carregá-la por mais tempo."

"Outra Memória", que até agora custou R$ 190 mil, foi realizado em vídeo digital e, por enquanto, Faganello não pensa em transferi-lo para película. Pretende mostrá-lo em festivais e em cinemas equipados para a exibição digital. Depois, lançará "Outra Memória" em DVD e tentará vendê-lo a canais de TV.

"Meu público-alvo é, principalmente, o do Sul do país. E também o da Alemanha, onde já tenho acordo de distribuição com a produtora Fresh Frames, de Colônia", diz Faganello.
 

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