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20/06/2005 - 09h43

Série de TV mostra o alfabeto coreográfico do Brasil

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INÊS BOGÉA
Enviada especial a São Luís

Tem entidade na roda? "Quem tem olho para ver vê", diz o tocador, seu José, 68, que observa o culto e espera sua vez. Mas a gente precisa de ajuda: "Veja o movimento mais intenso daquele e o balançar do outro, olhe os olhos. Ouça o som dos tambores".

A série "Danças Brasileiras", dirigida por Belisario Franca, com apresentação de Antônio Nóbrega e Rosane Almeida, quer registrar valores da nossa cultura na dança e no canto --onde "nossa cultura" significa uma mistura incomum de marcas da colonização européia com elementos caboclos, africanos, indígenas, ciganos.

A Folha acompanhou a gravação do tambor de mina, em Maiobão, periferia de São Luís (MA). É um culto sincrético, de origem africana, mais conhecido em outros lugares como candomblé ou macumba. O ritual tem várias etapas: matança e "arriada" de oferendas; insensação da casa, ladainha com orquestra e reza de vodum no altar; o culto, toque de tambor. Sempre com intervalos para comida e bebida.

Há também banhos de "limpeza", feitos com ervas e com água guardada nas jarras do Peji, para purificar, curar e preparar o espírito. Pai José Itaparandi, 36, do Ilê Axé Ota Olé (Terreiro de Mina Pedra de Encantaria) explica que "como o candomblé, o tambor de mina é uma religião de transe e possessão, na qual entidades são evocadas por cânticos e danças, executadas ao som de tambores".

Como nota Antônio Nóbrega, manifestações dessa ordem, em sua maioria, acontecem na periferia: "Todos os participantes vivem, quando não na miséria, na pobreza [...]. O que mais legitima a cultura popular, o que lhe dá transcendência e perenidade, é o universo coletivo".

Já a importância dos elementos indígenas é ressaltada por Rosane Almeida: "Eles têm presença muito marcante nos cocos e no samba de parelha, para ficar só nesses exemplos".

Nóbrega e Almeida notam que uma única manifestação como essa do tambor de mina de Maiobão já bastaria para se construir um grande vocabulário. A idéia é compreender como as danças se dão, no sentido mais amplo: não só a interação entre linguagem corporal e música, mas a vida de seus fazedores. Com várias etapas do projeto percorridas, fica claro que há uma "identidade muito grande entre as várias danças, uma unidade dentro da diversidade".

Além das danças na TV, a dupla fará posteriormente a estréia do espetáculo "Cancioneiro de Dança". Nóbrega lamenta que os projetos e festivais priorizem hoje a dança contemporânea e a clássica. Quer dizer: "O chão para a dança brasileira ainda é de terra batida". Mas não defende uma transposição direta: "Qualquer uma dessas danças, no palco, fica fora do seu habitat. O nosso papel é entender o que existe de substancial nelas".

Nesse sentido, o projeto dá continuidade a um trabalho desenvolvido desde os anos 70, com o intuito de codificar uma linguagem gestual e corporal brasileira. "Provavelmente não seremos nós que vamos realizar esse sonho, essa utopia de que o Brasil, com toda a sua diversidade, ganhe representação enquanto nação. Mas estamos marcando posição."

A crítica Inês Bogéa viajou a convite da Giros Produções

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