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21/06/2005 - 10h31

Mostra em São Paulo revê mitos de Glauber e Pasolini

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BRUNO YUTAKA SAITO
da Folha de S. Paulo

Pier Paolo Pasolini dizia que somos um filme que só se monta na hora em que morremos. Ela, a morte, seria o primeiro (e último) corte no longo plano-seqüência da vida. Os filmes das existências do diretor italiano (1922-1975) e do brasileiro Glauber Rocha (1938-1981), no entanto, se negam a ter um fim, como demonstra a mostra "O Cinema Segundo Glauber e Pasolini", no Centro Cultural Banco do Brasil - SP.

"Eles tocam em temas atemporais e já anteviam muitas coisas da política atual", diz o cineasta e curador da mostra, Joel Pizzini, que selecionou, além de clássicos, filmes pouco mostrados no Brasil dos dois diretores. "Quis propor um diálogo entre dois mitos contemporâneos."

Diálogo tumultuado, marcado por declarações e sentimentos ambíguos (o brasileiro homenagearia Pasolini em "A Idade da Terra" e com o nome de seu filho Pedro Paulo). "Glauber tinha formação protestante, era profundo conhecedor da Bíblia (com uma sensibilidade afro-índia), assim como Pasolini, que era cristão-marxista, anticlerical", afirma Pizzini. "Ambos eram anarco-comunistas --um ponto crucial de convergência, afinal os dois filmavam por metáforas, anunciando o Cristo do Terceiro Mundo."

A primeira interseção aconteceria em 1962, quando se lançaram e foram premiados no festival de Karlovy Vary, na antiga Tchecoslováquia. Glauber mostrava "Barravento"; e Pasolini, "Acattone". O interesse entre os diretores seria explicitado mais tarde, em 65, quando o italiano divulgou seu manifesto de cinema de poesia, em que listava o brasileiro como exemplo, ao lado de Godard e Michelangelo Antonioni.

Glauber não concordava com a classificação, em diálogo um tanto tenso que marcou o primeiro encontro entre os cineastas --reproduzido no catálogo da mostra. Pasolini quis assistir a "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) e conhecer seu diretor --este, por sua vez, afirmava que se tratava de um filme de mise-en-scène, e não de estilo indireto livre. "Mais tarde, Pasolini escreveu um artigo fazendo restrições a 'O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro' [1969], e começa uma coisa meio ressentida entre eles."

Isso não impediu que semelhanças estilísticas aparecessem nas obras (ambos com um profundo lado arcaico demonstrado pelo interesse por mitos), como o Cristo de "O Evangelho Segundo São Mateus" (64) e "Deus e o Diabo...", ou a África de "O Leão de Sete Cabeças" (70), que Pasolini visitaria um ano antes, em "Notas para uma Oréstia Africana".

"Essa relação perdura até o final", diz Pizzini. Quando o diretor italiano é assassinado, em 1975, o brasileiro escreve dois textos --citados no catálogo-- em que "discute" a relação, um para o "Pasquim" ("Amor de Macho") e outro para a revista francesa "Cahiers du Cinéma". "Ele se trancou numa sala da redação da revista e falou, durante uma hora, para um gravador, como se o Pasolini estivesse vivo. Dizia que era um acerto de contas simbólico", conta Pizzini. Escreveu Glauber: "Eu estava muito interessado no mito [Pasolini] (....) Nunca amei seu cinema (...) Depois eu me tornei anti-pasoliano porque achava filmes como 'As Mil e Uma Noites' decadentes, comerciais".

Pizzini lembra que os dois voltaram aos noticiários. Enquanto a família de Pasolini busca reabrir o caso de seu assassinato, Glauber teve seu "Terra em Transe" restaurado e em passagem relâmpago pelos cinemas --sai em DVD em setembro, segundo Pizzini, que anuncia um ciclo entre o brasileiro e o espanhol Luis Buñuel.

PROGRAMAÇÃO:

Terça-feira (21)
15h - "Deus e o Diabo na Terra do Sol"
17h30 - "O Leão de Sete Cabeças"
20h30 - "Medéia"
Quarta-feira (22)
15h - "Claro"
17h30 - "Retrato da Terra" e "Pier Paolo Pasolini"
19h - debate
Quinta-feira (23)
15h - "As Mil e Uma Noites"
17h15 - "Saló ou os 120 Dias de Sodoma"
20h30 - "A Idade da Terra"
Sexta-feira (24)
15h - "Medéia"
17h - "As Mil e Uma Noites"
20h30 - "Claro"
Sábado (25)
15h - "Deus e o Diabo na Terra do Sol"
17h30 - "Retrato da Terra" e "Pier Paolo Pasolini"
20h30 - "Notas para uma Oréstia Africana"
Domingo (26)
15h - "O Leão de Sete Cabeças"
17h - "Notas para uma Oréstia Africana"
20h30 - "Saló ou os 120 Dias de Sodoma"

Onde: Centro Cultural Banco do Brasil - SP (r. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 3113-3651)
Quanto: R$ 4

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Pier Paolo Pasolini
  • Leia o que já foi publicado sobre Glauber Rocha
  •  

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