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18/10/2000 - 04h34

Espetáculo "Mãe Gentil" assume sotaque carioca

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CRISTINA GRILLO, da Folha de S.Paulo

Todos os dias, 49 jovens com idades entre 11 e 18 anos deixam a rotina violenta do Complexo da Maré, onde moram, para ensaiar em um galpão antigo no centro do Rio a coreografia "Mãe Gentil", de Ivaldo Bertazzo.

O grupo se prepara para a estréia, nesta quinta (19), no Trapiche das Artes, da montagem carioca do espetáculo. Os ensaios diários ocupam os jovens durante três horas. Nos finais de semana, a carga se estende a sete horas.

"Isso ajuda a escapar da violência. A gente ensaia tanto, que não tem tempo de ocupar a cabeça com besteira, como drogas", diz Patrícia Marinho, 15.

O Complexo da Maré é um conjunto de 15 favelas que se espalham pelas
margens da avenida Brasil e das linhas Vermelha e Amarela, na zona norte. Sua população é estimada em 120 mil pessoas.

De acordo com a secretaria de Segurança, a região é uma das mais violentas do Rio. Grupos de traficantes ligados às facções rivais Terceiro Comando e Comando Vermelho disputam o domínio da área.

Há duas semanas, um tiroteio entre traficantes e policiais terminou com quatro pessoas feridas e três ônibus incendiados, supostamente por moradores, reagindo à invasão policial. "A violência faz parte do cotidiano das crianças", diz Rosângela da Silva Barbosa, moradora do Complexo que acompanha as crianças aos ensaios.

Rosângela é um dos membros do Ceasm (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), organização não-governamental criada há aproximadamente dois anos por um grupo de moradores para ajudar a comunidade a encontrar alternativas à violência.

"Alguns moradores que são universitários decidiram fazer algo pelos jovens", conta. No início, o Ceasm oferecia apenas cursos pré-vestibulares para a população do Complexo da Maré. Expandiu suas atividades e hoje oferece cursos de francês, inglês, espanhol, informática, dança, música, artes e produção de textos.

Foi entre as crianças do Ceasm que Bertazzo encontrou seus "cidadãos-dançantes". Cada uma delas recebe bolsa-auxílio de R$ 120, paga com recursos da Petrobras, que patrocina o projeto do "Mãe Gentil".

"No início, muitas crianças, principalmente os meninos, nos procuraram por causa da bolsa. As famílias os incentivavam por causa do dinheiro. Depois, eles se apaixonaram pelo trabalho, pela percepção de que podem fazer algo bonito, artístico", conta Diógenes de Lima, um dos monitores do grupo, morador do Complexo da Maré.

Uma angústia cerca as crianças, na véspera da estréia do espetáculo. "Eles estão divididos. Ao mesmo tempo em que estão ansiosos pela estréia, estão angustiados com a perspectiva do fim da temporada. Querem continuar dançando, mas ainda não sabemos como isso vai ser", diz Rosângela.

Na frente dos dançarinos que acompanham atentamente as instruções da assistente de direção Marília Araújo, Beatriz Nunes, 11, a mais jovem do grupo, mostra determinação. "Quero ser artista. Não quero parar de dançar", diz.

"Mãe Gentil" mistura elementos da cultura popular brasileira e tem no elenco, além dos "cidadãos-dançantes", Rosi Campos, Juçara Moraes e Sandra Pêra, entre outros. Os cenários são do artista plástico Nelson Leirner e as músicas, de Zeca Baleiro, que participa da encenação.

Espetáculo: Mãe Gentil, concepção e direção de Ivaldo Bertazzo
Onde: Trapiche das Artes (r. Santo Cristo, 148/150, telefone 0/xx/21/263-7449, centro do Rio)
Quando: de quinta a 29 de outubro. De quinta a sábado às 21h; domingos às 20h
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes)

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