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28/06/2005 - 10h05

Mostra faz panorama da produção latina de cinema

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MARCELO BARTOLOMEI
Colaboração para a Folha, do Rio

De um lado, a Argentina, com um cinema nacional de 90 produções por ano e US$ 25 milhões (cerca de R$ 59,7 milhões) em subsídios públicos; do outro, o Uruguai, com um cinema pequeno, cinco produções ao ano e pouquíssimo investimento do governo. Tão próximos, mas ao mesmo tempo tão distantes.

É assim que (sobre)vive o cinema latino-americano, que atualmente se enxerga com desigualdades, apesar do aparente desenvolvimento cultural de cada país.

A pedido da Folha, quatro cineastas --Miguel Rodriguez Arias (Argentina), Pablo Rodriguez, Rosário Infantozzi (ambos do Uruguai) e Lester Hamlet (Cuba)-- discutiram o panorama e a cinematografia latina antes de deixarem o Brasil, onde participaram do 9º Cinesul - Festival Latino-Americano de Cinema e Vídeo, que terminou anteontem no Rio e começa hoje em Brasília.

A Argentina está mais próxima da realidade brasileira. O modelo de financiamento público tem funcionado como o principal propulsor de sua cinematografia (descontadas as proporções econômicas), mas o setor ensaia os mesmos passos do mercado brasileiro, que tenta evitar uma crise, afogada no dilema qualidade-quantidade (como solucionar a equação entre filmes comerciais e autorais?) no cinema local.

Para Miguel Rodrigues Arias, 60, diretor que divide seu tempo entre a televisão e o cinema, a distribuição também é desigual. Ele apresentou no Rio o documentário "Gardel, el Hombre y el Mito" (2004). "Questionamos se devemos optar pela pulverização dos recursos ou se investimos em bons projetos. Eu fico com a segunda opção", afirmou. Além disso, segundo ele, a Argentina tem conseguido fazer grande parte de seus filmes em regime de co-produção. Arias, por exemplo, que acaba de rodar o documentário sobre Carlos Gardel exibido no Cinesul, já tem outros dois projetos na manga. São dois documentários, um sobre o que ele chama de "Nuremberg Argentino" e outro com a história de Diego Maradona, que será lançado em setembro deste ano.

Na outra ponta, Pablo Rodriguez ("Gardel, Ecos del Silencio"), 42, e Rosario Infantozzi ("La Cumparsita"), 58, reclamam da falta de iniciativa do governo em apoiar o cinema uruguaio, cuja retomada começou nos anos 90, época em que o Brasil naufragava sob a tutela da era Collor.

O exemplo de mais sucesso do jovem cinema uruguaio é "Whisky", de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, co-produção com Argentina, Espanha e Alemanha. Cineastas procuram se associar a outros países para conseguirem lançar seus longas, conta Rodriguez. "O nosso cinema tenta ser independente, mas empenhamos apartamentos, tentamos empréstimos, fazemos de tudo para fazer nossos filmes", afirmou.

"Apesar de tudo, fizemos 15 produtos muito dignos nestes últimos nove anos, com uma resposta do público, que tem ido às salas", disse Infantozzi. "Mas os cineastas procuram sobreviver por meio da publicidade."

Há discussões no país sobre a criação de um fundo de financiamento por meio de taxas associadas à instalação de TV a cabo, por exemplo, e sobre leis de regulação do setor.

Enquanto argentinos e uruguaios discutiam como criar e manter uma indústria cinematográfica que se auto-sustente, o cubano Lester Hamlet, 33, co-diretor de "Tres Veces Dos", recortes de peculiares histórias de três jovens, observava atentamente. "Minha realidade é tão distante... Como indústria, Cuba é um fracasso. Temos um filme por ano, muitos projetos, mas nada é lançado. Nossa maior oportunidade de exibir os filmes são no festival de Havana, que é uma festa do cinema", disse.

Prêmios

Debates e comparações à parte, a diversidade de filmes pontuou as mostras. Foram exibidos 150 filmes latino-americanos, entre longas e médias em 35 mm, além de vídeos.

O chileno "Mala Leche", de Leon Errázuriz, foi escolhido o melhor longa-metragem da mostra competitiva.

"Punto y Raya", co-produção de Venezuela, Espanha, Chile e Uruguai, de Elia K. Schneider, e o argentino "Whisky Romeo Zulu", de Enrique Piñeyro, receberam menções honrosas do júri. O segundo também ganhou o prêmio da crítica.

O documentário brasileiro "500 Almas", de Joel Pizzini, sobre a cultura guató (comunidade que vive na região do Pantanal), levou o prêmio na categoria.

"Tobias 700 - A História de uma Ocupação", do brasileiro Daniel A. Rubio (sobre histórias de famílias sem-teto de São Paulo), ganhou como o melhor vídeo.

Parte do festival será exibida em Brasília a partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, trecho 2, lote 22, Brasília, tel. 0/xx/ 61/310-7087), até 10 de julho.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Cinesul
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