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21/07/2005 - 09h38

Fagundes busca personagem em "As Mulheres da Minha Vida"

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VALMIR SANTOS
da Folha de S. Paulo

De certa forma, é a história de um homem em busca de seis mulheres, mas que acaba encontrando a si mesmo depois de penar. Ecos de "Seis Personagens à Procura de um Autor", do italiano Luigi Pirandello, captados em "As Mulheres da Minha Vida", tradução de Domingos Oliveira para "Jake's Women", do dramaturgo americano Neil Simon.

O texto de 1992 ganha sua primeira montagem brasileira sob direção de Daniel Filho, com temporada a partir de amanhã, para convidados, no teatro paulistano Cultura Artística. Resulta divertido e inteligente o exercício de metalinguagem no qual os personagens borram as fronteiras da ficção e da realidade conforme a mente de um escritor em crise.

Antonio Fagundes é George, cinqüentão boa pinta, separa-não-separa de Diana, com quem está casado há oito anos. Diana (Fernanda D'Umbra) sucede Júlia (Paloma Duarte), morta num acidente de carro há dez anos, mãe de Carol, filha única de George que reveza o enredo em dois tempos: aos 12 (Júlia Novaes) e aos 21 anos (Amazyles de Almeida).

Somam-se a irmã dele, Karen (Chris Couto), e a psicanalista Edith (Eliana Rocha), e eis o mulherio quebra-cabeça por meio do qual o público vai conhecer os sentimentos fracos e fortes desse pobre super-homem.

"Essas mulheres todas falam dos sentimentos e conflitos dele, mas, na verdade, é ele quem está falando de si, ainda que sem abrir muito a boca nesse sentido", diz Fagundes, 56. Daí o "truque" da dramaturgia de Simon, segundo o ator. "Nós homens não sabemos nos colocar emocionalmente da forma razoável como as mulheres conseguem."

Os diálogos perpassam a relação mulher-homem, irmã-irmão, filha-pai e psicanalisando-psicanalista. Como na síntese perpetrada a certa altura por Karen, a irmã formada em cinema, divorciada, depressiva e sem-cerimônia com os queixumes de George: "Elas te amam. Elas te deixam. Elas voltam. Elas ficam preocupadas com você. Elas morrem. Elas crescem. Elas lutam, choram por você. É um círculo, George. Onde o palhaço, o elefante, o trapezista são mulheres. E você, naturalmente, dono do circo".

Na meticulosa construção de Neil Simon, as ações do protagonista se passam em dois planos: ora no andar superior, onde está o computador, coração de um Deus-adão que tenta manter tudo sob controle, ora no plano inferior, terreno movediço das frustrações, dos mal-entendidos do passado, do perdão postergado.

Não por acaso, há uma psicanalista em cena: Simon maneja os jargões do divã para esclarecer alguns passos imberbes de George.

Ao contrário da montagem original que assistiu na Broadway, em 1992, estrelada por Alan Alda, Daniel Filho recria a geografia sugerida por Simon e expõe níveis mais sutis na cenografia de Ulisses Cohn, um apartamento não-realista, com painéis em preto-e-branco ao fundo, estampando imagens de Nova York.

"É quase uma encenação de teatro de arena sobre um palco italiano", diz Daniel Filho, 67, ilustrando o gigante proscênio da sala principal do Cultura Artística, mais afeita a concertos.

Aliado à iluminação de Domingos Quintiliano, o diretor pretende pontuar o entra-e-sai de personagens, aparições súbitas, frases curtas que pedem agilidade.

O homem de televisão e de cinema Daniel Filho religa, cerca de 40 anos depois, a sua primeira direção para teatro com sua arte de formação na juventude: cresceu sob o signo do teatro de revista em família. Além de experimentar a direção, inaugura parceria de produção com Antonio Fagundes, com quem trabalhou há pouco no filme "A Dona da História".

Aos 39 anos de carreira, Fagundes está credenciado a cobrar "ética" do espectador para não chegar atrasado ao teatro, o que repisa a cada projeto. O ator também ficou calejado no mundo paralelo da política que freqüentou como ex-apresentador das campanhas do Partido dos Trabalhadores. Parou há cerca de cinco anos. "Talvez tenha sido até uma premonição", diz, citando as notícias sobre corrupção que o abateram.

"É claro que estou triste. O PT sempre foi pautado pela integridade, foi o que fez a gente votar nele nesses anos todos. De repente, o PT no poder, com deputados, senadores, governadores, prefeitos e um presidente da República, começou a ser jogado nessa vala comum da corrupção", diz.

"Isso quer dizer que talvez o sistema seja tão corrupto que nem um partido como o PT agüente muito tempo. Ainda assim, acredito que a filosofia seja a de denunciar, expulsar e continuar sua tradição ética. A esperança é a última que morre."

As Mulheres da Minha Vida
Quando: hoje (convidados); qui. e sáb., às 21h; sex., às 21h30; e dom., às 18h
Onde: Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/ 3258-3344)
Quanto: R$ 40 a R$ 80

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