25/07/2005 - 10h12

Livro reúne ensinamentos do criador de "Spirit"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
da Folha de S. Paulo

O quadrinista norte-americano Will Eisner, morto em janeiro deste ano, aos 87, deixou como legado não apenas sua influente obra, mas também suas aulas sobre a chamada "arte seqüencial".

"Narrativas Gráficas", a segunda coletânea de seus ensinamentos, segue "Quadrinhos e Arte Seqüencial", livro em que Eisner abordava os princípios, conceitos e anatomias dos quadrinhos.

O criador de "Spirit" lecionou por quase 18 anos, na Escola de Artes Visuais de Nova York e na Nova University, da Flórida. Seu didatismo --bem como seu apurado senso de humor-- são notáveis ao longo dos capítulos e tornam o livro uma aula completa.

Começando com uma análise histórica da narrativa desde seus primórdios (o professor e os alunos que ilustram as aulas ao longo do livro são homens das cavernas), Eisner disseca o uso das imagens estereotipadas e simbolismos como ferramentas narrativas -uma 'necessidade maldita' dos quadrinhos, que lidam com "reproduções facilmente reconhecíveis da conduta humana".

Um dos melhores capítulos é o que analisa a relação do desenhistas com o leitor --a empatia, o "contrato" que se firma entre ambos, as técnicas de retenção.

Eisner também analisa a influência das tecnologias desenvolvidas no século 20 --com destaque para o cinema-- na maneira como lemos. "Assistir a um filme estabelece um ritmo de aquisição. Isso é um desafio direto para uma folha impressa estática. Acostumado ao ritmo dos filmes, o leitor fica impaciente com as longas passagens dos textos porque se acostumou a absorver histórias, idéias e informações rapidamente, e com pouco esforço."

É esse olhar atento à relação do leitor com a imagem e com o texto que faz com que a obra, editada originalmente em 1996 (antes do "boom" da internet, que só viria a comprovar a tese de Eisner), continue moderna e relevante.

Narrativas Gráficas
Autor: Will Eisner
Lançamento: Devir
Quanto: R$ 40 (168 págs.)

Especial

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