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20/10/2000 - 04h37

Grupo de atores articula movimento de protesto

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LAURA MATTOS, da Folha de S. Paulo

Começa a se articular no Brasil um movimento de atores por maior remuneração e melhores condições de trabalho no mercado publicitário.
São reivindicações semelhantes às de artistas norte-americanos, que
estão em greve há quase seis meses.

Enquanto nos EUA o movimento é amplo e conta até com o apoio de grandes astros de Hollywood, como Bruce Willis, Harrison Ford e Susan Sarandon, aqui o grupo ainda é pequeno, formado por profissionais de teatro. Por enquanto, o ator mais conhecido do público que apóia a causa é Roberto Arduin, o "tio da Sukita".

Apesar disso, o grupo Caras do Reclame (0/xx/11/820-6999 ou carasdoreclame@uol.com.br), como se autobatizou, tem planos ambiciosos e sonha, um dia, agregar um número suficiente de profissionais para fazer "barulho", como os colegas dos EUA.

O ator Hugo Coelho, um dos fundadores do movimento, diz que não são respeitados os direitos trabalhistas dos atores e que a remuneração é baixa, comparada ao volume de dinheiro que gira no mercado publicitário.

"Cada inserção de anúncio no horário nobre da maior emissora de TV do país custa de R$ 60 mil a R$ 100 mil. O ator, principal responsável pela divulgação da imagem do produto, recebe, quando muito, R$ 1 por inserção. Além disso, o contrato prevê um número determinado de inserções, mas é muito difícil, para o ator, ter um controle disso", diz.

A idéia do Caras do Reclame é redigir um contrato padrão, elevando a remuneração por inserção, que teria de ser respeitado pelas agências. "Muitas vezes, nos dão o contrato para assinar no meio da gravação e mal conseguimos ler", afirma o ator Augusto Marin, também fundador do movimento de protesto.

Um dos problemas comuns nos acordos, segundo Marin, é o pagamento de diárias. "Quase ninguém sabe, mas a diária de filmagem de um ator é de seis horas. Isso nunca é cumprido e costumamos ficar dez, 12 horas gravando, sem receber hora extra. Para fugir disso, algumas empresas colocam no contrato que o pagamento corresponde a duas diárias, sem mudar o valor da proposta. E o pior é que, muitas vezes, consideram duas diárias dois dias de filmagens, que, na realidade, chegam a 30, 40 horas de trabalho."

Outro ponto que deve ser revisto, segundo Coelho, é o período de exclusividade previsto nos contratos. "Quando faz comercial para um banco, por exemplo, o ator fica seis meses, no mínimo, proibido de trabalhar para outro banco, já que sua imagem acaba muito associada ao produto. Até aí, tudo bem. O problema é que, financeiramente, isso não é pesado pelas agências. Muitas vezes recebemos um valor que, se dividido pelo período de exclusividade, não dá nem R$ 100 por mês. Isso quando se trata de uma grande empresa", afirma Coelho.

Fórum

Para começar a colocar as idéias em prática, os integrantes do Caras do Reclame se reúnem semanalmente. No ano que vem, o grupo pretende realizar um fórum de debates. "Primeiro vamos discutir com o nosso sindicato e com o Ministério do Trabalho. Em seguida, vamos tratar das questões com as agências de atores e produtoras de elenco, a ponte entre o ator e a agência de publicidade. Queremos conhecer nossos direitos para definir as propostas e ter força e argumento para negociar", afirma Coelho.

O grupo também protesta contra a "falta de respeito" com que o mercado publicitário trataria os atores. "Quando um comercial ganha prêmio, aparece o nome de todo mundo nos créditos: diretor, produtor, câmera. O dos atores nunca é mencionado. E, pior, nem somos convidados para as festas", brinca Otávio Martins.

Outra preocupação do movimento é a concorrência com as pessoas que não são atores profissionais. "Hoje em dia, uma média de cem pessoas participa de um teste de seleção para um comercial. Muitas não são atores profissionais. São pessoas que fazem por prazer, ou encaram como um "bico". Apesar de ser proibido, não temos nada contra. O problema é que isso acaba nivelando por baixo o mercado. Como essas pessoas não encaram isso como trabalho, aceitam qualquer cachê, e nossa remuneração acaba prejudicada", diz Daniel Faleiros.

EUA

A greve dos atores norte-americanos começou em maio. Nesta semana, a modelo e atriz inglesa Elizabeth Hurley se desculpou por ter filmado, em Nova York, um anúncio para uma empresa de cosméticos.

Enviou uma carta ao SAG, entidade que comanda a paralisação. "Vivo na Inglaterra, sou cidadã inglesa e não sabia da greve. Se soubesse, nunca haveria aparecido no anúncio", escreveu. Além das desculpas, Hurley anunciou que irá doar um cheque de US$ 25 mil para os grevistas.

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