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11/08/2005 - 18h05

Documentário sobre Vietnã estréia nos EUA após 30 anos

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ALFONS LUNA
da France Presse, em Nova York

"Winter Soldier", o documentário de 1971 em que os veteranos americanos da guerra do Vietnã contam as atrocidades que cometeram ou presenciaram, será exibido pela primeira vez em vários cinemas americanos a partir desta sexta-feira.

O documentário é a crônica da "Winter Soldier Investigation", termo tirado de um texto de Thomas Paine, escritor anglo-americano, cujos panfletos políticos tiveram grande influência na Revolução americana.

Organizada pela Associação de Veteranos do Vietnã contra a Guerra (VVAW), a "investigação" reuniu, em 1971, em Detroit (nordeste), participantes do conflito travado desde 1964. Entre eles está o jovem John Kerry, candidato democrata às eleições presidenciais de 2004. Sua participação naquelas audiências foi lembrada por seus inimigos políticos durante a campanha.

Um grupo de jovens cineastas que se autodenominou grupo Winterfilm colheu e editou o testemunho de 125 daqueles veteranos, alguns indignados com o que viram, outros envergonhados com o que fizeram e uns poucos justificando as brutalidades cometidas.

De muitos testemunhos concluiu-se que o problema radicalizou na atitude dos comandos frente aos abusos.

O filme foi exibido nos festivais de Cannes e Berlim e, por um período breve, em um cinema de Nova York, mas nunca estreou normalmente nos Estados Unidos, como ocorrerá a partir desta sexta-feira em seis salas.

O reaparecimento do filme quase 35 anos depois, quando ainda ecoam os escândalos de maus-tratos durante a "guerra contra o terrorismo" não é mera coincidência.

A Millarium Zero, empresa que adquiriu e distribuirá o filme, afirmou em um comunicado distribuído à imprensa que as "palavras" dos soldados "nos fazem lembrar das recentes torturas e assassinatos de prisioneiros sob custódia dos militares americanos".

"Os terríveis abusos sofridos pelos presos de Abu Ghraib, Afeganistão ou Guantánamo se apresentaram como se não houvesse antecedentes. As vozes dos veteranos do 'Winter Soldier' atestam que não é assim", continuou.

Lucy Massie Phoenix, uma das diretoras, disse que "fazia sentido que (o filme) fosse visto pelos americanos em 1971 a fim de parar uma guerra". "Agora, em outros tempos de guerra", continuou, "é irônico que vá ser mais visto por outra geração, por outro público, mas com a mesma intenção", concluiu.

Um dos veteranos que participou das audiências foi Scott Camil, que serviu durante 20 meses como voluntário no Vietnã até que se licenciou, em junho de 1969, tendo recebido 13 medalhas. Em sua intervenção, este sargento que acabaria organizando manifestações pacifistas e participando como observador do processo eleitoral nicaragüense entre 1987 e 1990, explicava a rapidez com que foi usado o napalm.

"Não sei muito bem o que é, nem do que é feito. Só sei que quando te alcança, arde, e quando os aviões o lançam (...), queima tudo, inclusive as pessoas", contou.

"Se num povoado perdíamos gente por causa de armadilhas explosivas, pedíamos napalm e queimávamos o povoado e as pessoas (...). Muitas vezes era usado por segurança. O lançávamos (no povoado) antes de entrar para nos assegurarmos de que não perderíamos nenhum homem", acrescentou. Seu testemunho acabaria intitulando a música "Camil", de Graham Nash.

Durante a investigação, saíram à luz outros fatos: a guerra tinha se estendido para o Laos, ao contrário do que afirmava Washington; um dos passatempos dos soldados era arrancar as orelhas dos vietnamitas para trocá-las por cerveja; e os inimigos eram lançados de helicópteros.

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