Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/10/2000 - 04h27

Livro mostra a direita mais além do populismo

Publicidade

FERNANDO DE BARROS E SILVA, Editor do Painel da Folha de S.Paulo

Uma praga e uma das piores formas de insulto para muitos, quase uma religião para seus adeptos, o malufismo costuma suscitar reações extremas. Difícil é abordá-lo de maneira desapaixonada, procurando explicar sua origem e a que tipos de motivações e demandas corresponde.

É o que procura fazer, no livro "O Malufismo", da coleção Folha Explica, o jornalista Mauricio Puls. Meticulosa na pesquisa e sóbria na argumentação, a obra é uma ótima introdução à história biográfica do malufismo. Mas, talvez pelo apego excessivo à empiria, talvez pelos limites impostos pela coleção, que se pretende didática e acessível, acaba resultando acanhada no momento de interpretar o fenômeno naquilo que ele tem exatamente de exorbitante e exacerbado.

Fica-se com a impressão de que a perspectiva crítica que atravessa o livro não se consuma inteiramente ao final. Parece lhe faltar, para citar fora de contexto um autor em desuso, algo como uma "psicologia de massas do malufismo". Embora necessária, não basta traçar a genealogia do populismo para explicar como Maluf foi e é capaz de converter o conservadorismo do eleitorado em algo distinto e mais sombrio.

Numa palavra: o malufismo mobiliza um fascismo latente na sociedade que o livro menciona timidamente aqui e ali, por exemplo quando fala de sua
intolerância racial, mas que acaba abordando de modo quase marginal.
Essa talvez a sua insuficiência. Não chega a ser um defeito diante da exposição exemplar que Puls faz da ascensão, queda e ressurreição do malufismo, com destaque para a reconstituição de sua origem como político biônico do regime militar e de suas performances eleitorais. A quantidade de números que o autor apresenta numa obra tão exígua é muito útil para jornalistas e pesquisadores.

Para os mais jovens, que têm agora o primeiro contato com um fenômeno que parecia morto e ressurgiu, o livro mostra que o "rouba, mas faz", a fama de realizador, a vocação para o desperdício e a megalomania são heranças ademaristas. Mostra mais: que Maluf fez sua trajetória política invariavelmente pela direita da direita, jogando pela extrema, como os antigos pontas do futebol.

Foi assim no início, quando foi conduzido à vida pública pelas mãos do general Costa e Silva; foi assim em 77, quando se alinhou a Sylvio Frota, o ministro linha-dura do Exército, contra a extinção do AI-5; foi assim quando, derrotado por Tancredo Neves, em 85, ficou marcado como o último porta-voz do regime militar.

E é assim até hoje, quando o vemos pregando contra o aborto, contra os homossexuais, pela prisão perpétua, semeando o medo e a intolerância e despertando o desejo coletivo por um tipo de autoridade que afronta valores elementares da civilização.

O Malufismo
Autor:
Mauricio Puls
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 9,90 (90 págs.)

Leia mais notícias de Ilustrada na Folha Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página