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02/09/2005 - 09h39

Crise política torna "Entreatos" um "outro filme"

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Até o dia 6 de junho, quando Roberto Jefferson deu entrevista à Folha a respeito do suposto "mensalão", "Entreatos" era apenas um documentário sobre os bastidores da campanha de Lula à Presidência. Anteontem, em reestréia na Sala Cinemateca, o filme de João Moreira Salles virou jogo de detetive para espectadores em busca de "pistas" das denúncias de corrupção no governo.

Para quem já havia assistido ao longa antes da crise (AC), ficou claro que agora, depois da crise (DC), "Entreatos" é um "outro filme" (com reexibição nesta sexta, às 17h45, na Cinemateca, em SP).

"O documentário mudou. Quando assisti pela primeira vez [AC] àquela cena na qual Lula critica Fernando Henrique Cardoso por não jogar futebol [na Granja do Torto], não dançar e não beber, dava a ele um ar humano, passava simpatia. Agora [DC], dá um caráter de total desprezo pela sabedoria, inteligência. Virou uma apologia à estupidez", afirmou Eduardo Leite, 45, que atua na área de marketing.

Ele contou que, em razão das denúncias de corrupção contra o governo, foi à Cinemateca a fim de rever "Entreatos" "preparado para perceber os detalhes".

Para Leite, ficou evidente no documentário DC que o ex-ministro José Dirceu, acusado de ser operador do "mensalão", tinha mesmo muito poder no "núcleo duro" do PT. Leite citou cena na qual o deputado se irrita com a presença do cinegrafista do documentário.

"Fica claro que o Zé Dirceu manda. Quando pergunta: 'Quem autorizou essas pessoas?' Parece dizer: 'O Lula deixou, mas quem é o Lula'", concluiu Leite, que se diz petista, apesar de ter votado no tucano José Serra em 2002 ("Voto no PT para o Legislativo").

Outra percepção diferente de Leite AC/DC: "Agora percebi claramente o desprezo [de Lula] pelo [senador Eduardo] Suplicy. Ele, naquele bom-mocismo, entrega um papel a Lula [após o anúncio da vitória], que joga na mesa sem ler. O Suplicy se mostra um ser estranho àquele grupo petista."

Silvia Cruz, 23, que trabalha como distribuidora de cinema, não viu "Entreatos" AC e foi à sessão de anteontem "para entender melhor o papel de cada um antes, durante e depois da eleição". "O esquema da campanha publicitária e o papel do Lula nesse processo chamaram a minha atenção. Não há dúvida de que o José Dirceu não quer se mostrar nem deixar transparecer que era 'o cabeça'."

Silvia disse que votou em Lula nas últimas duas eleições presidenciais, mas "é bem provável" que não dê mais o voto ao petista.

O sociólogo Fernando Antônio Pinheiro Filho, 40, não havia visto "Entreatos" AC e achou "interessante" assistir ao filme nesse contexto de crise. "Agora, dá a impressão de que o Lula tem dificuldade de lidar com a própria excepcionalidade de sua trajetória."

A atriz Luciana Gonçalves, 34, também viu o documentário anteontem pela primeira vez e contou ter tido a impressão de que "nem o próprio Lula acreditava que conseguiria pôr em prática tudo o que prometeu". Ela ficou atenta a tudo o que diziam José Dirceu e o marqueteiro Duda Mendonça (que admitiu à CPI ter recebido verba de caixa dois do PT em paraíso fiscal). "Com a crise, percebemos cada declaração do filme de forma diferente", disse ela, que votou em Lula e "analisará os candidatos" em 2006.

A sessão da Cinemateca começou com 50 minutos de atraso e teve cerca de 50 espectadores.

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