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08/09/2005 - 10h01

Fernando Meirelles mostra no Lido seu suspense documental

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SILVANA ARANTES
Enviada da Folha de S. Paulo a Veneza

O Brasil aparece em "O Jardineiro Fiel" --produção anglo-americana dirigida por Fernando Meirelles e selecionada para a disputa pelo Leão de Ouro em Veneza-- num relance.

Numa rua de Nairóbi (Quênia) tomada de gente, um garoto veste a inconfundível camisa verde-amarela com o nome do país estampado na frente, enquanto jornais e TV anunciam o assassinado de Tessa Quayle (Rachel Weisz), mulher do diplomata Justin Quayle (Ralph Fiennes) e ativista de causas sociais na África.

"O Jardineiro Fiel" teve ontem (7) sessão reservada à imprensa no festival. A exibição oficial do longa para o júri ocorre amanhã (9), na presença de Meirelles e de seus atores.

Já em cartaz nos EUA, o filme acumula críticas positivas da imprensa norte-americana. É fácil entender o motivo. Meirelles exibe neste seu primeiro longa depois do sucesso de "Cidade de Deus" (2002) as credenciais do talento que chamou a atenção de Hollywood e que lhe valeu uma indicação para o Oscar de melhor diretor.

Baseado no romance de espionagem homônimo do inglês John Le Carré, "O Jardineiro Fiel" vai do suspense ao tom documental no paupérrimo Quênia sem jamais parecer artificial e com o mérito de ter toques de originalidade.

Uma perseguição de carros, cena já clássica no cinema, é vista aqui numa estrada de terra que levanta pó para além de onde a vista alcança. Nas cenas de intimidade do casal Justin e Tessa, Meirelles usa câmeras amadoras de registro caseiro. Por essas cenas, Fiennes chega a ser creditado como um dos câmeras do filme.

Ha também as imagens tipicamente pouco nítidas de sistemas de vigilância, em tomadas de um dos aeroportos que Quayle percorre em sua cruzada para desvendar o lobby da indústria farmacêutica que resultou no assassinato de sua mulher.

Não faltam ao filme momentos de vôo literalmente mais alto, em tomadas aéreas de belíssimas paisagens africanas. Elas não são, porém, utilizadas à maneira dos cartões postais, mas para ressaltar as sensações de impotência e pequenez do protagonista.

Em favor da agilidade da história, a adaptação do romance de Le Carré suprimiu alguns personagens, reduziu outros e transformou certos episódios. O primeiro encontro de Tessa e Justin, por exemplo, que originalmente era um embate teórico sobre a legitimidade dos Estados, adquiriu a concretude de um discurso apaixonado (dela) contra o apoio do Reino Unido à Guerra do Iraque. Nem por isso Meirelles deixou de ser fiel ao espírito do livro de Le Carré.

Sertão

O Festival de Veneza também assistiu ontem a "Árido Movie", título brasileiro de Lírio Ferreira ("Baile Perfumado") que concorre na seção paralela Horizontes.

A platéia de jornalistas e críticos recebeu com certa frieza o longa-metragem, apesar de suas muitas qualidades. Também aqui, é fácil entender a razão.

"Árido Movie" é uma espécie de objeto estranho no cinema atual --brasileiro sobretudo.

Ferreira retoma no novo filme uma trilha sonora tributária da escola mangue beat. Alterna diálogos coloquiais e interpretações idem com poéticos momentos de misticismo e devaneios. Filma o sertão nordestino como uma paisagem ora libertária ora aprisionante --e sempre desafiadora.

É para lá que o jornalista Jonas (Guilheme Weber), que havia deixado a região ainda em sua infância, retorna, quando se inteira do assassinato de seu pai (Paulo César Pereio).

Com esse entrecho, "Árido Movie" discute se são atávicas as heranças pessoais de Jonas, como a regra do "olho por olho, dente por dente", e a eterna condenação do Nordeste à seca e de seus habitantes ao êxodo.

O elenco, que tem Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Mariana Lima, Giulia Gam, José Dumont e José Celso Martinez Corrêa, entre outros, está afinado. A montagem ajusta o tempo do filme ao percurso de Jonas --sempre em movimento, mas com um ritmo que permita a descoberta, a reflexão e a sedimentação das idéias.

O roteirista de "Árido Movie", Hilton Lacerda, o define como um exemplar do cinema "fora dos eixos". Pode estar correto. Mas é certo também que, pelas lentes de Ferreira, o sertão virou rocha, num filme que se ergue e se impõe.

Especial
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