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09/09/2005 - 11h01

Apresentações de Matthew Herbert têm presença de chef de cozinha

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THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

Antes mesmo do álbum "Plat du Jour" ter sido lançado, Matthew Herbert iniciou uma pequena excursão do disco, apresentando suas músicas em teatros de Berlim, Bristol e no festival catalão Sónar. O último show será no Barbican, em Londres, em 4 de outubro. Será a última oportunidade para digerir "Plat du Jour" ao vivo, que conta com a presença de um chef, que prepara uma refeição para que as canções sejam tocadas com "cheiro apropriado".

Por telefone, Matthew Herbert falou à Folha.

Folha - Você parou de tocar ao lado da big band e suas apresentações de "Plat du Jour" também são limitadas. Como é fazer essas intervenções eletrônicas ao vivo e por que esses shows têm vida limitada?

Matthew Herbert - A música eletrônica pode ser muito egoísta, tocada por apenas uma pessoa, com um computador. É diferente subir ao palco com 20 músicos em que cada um desenvolve uma função específica. Os shows têm data para terminar porque realmente demora muito para preparar essas apresentações, até fisicamente. Além disso, a indústria alimentícia mudou nesses últimos dois anos. Quando começamos, o McDonald's era uma companhia de sucesso irrefutável e que só vendia hambúrgueres, enquanto hoje pode-se encontrar frutas e leite orgânico ali. Na Inglaterra, um programa de TV mostrou como eram feitas as merendas escolares, eram terríveis, e isso está sendo melhorado.

Folha - O disco é um forte manifesto contra os maus hábitos alimentares, contra maus alimentos, contra os métodos usados pela indústria alimentícia. Como chegamos a essa situação?

Herbert - Uma das intenções do disco é fazer com que olhemos para a história. O Brasil é um exemplo perfeito sobre a conexão entre o trabalho escravo e o café, o açúcar. A Inglaterra não possui mais uma indústria saudável de produtos agrícolas; praticamente toda a nossa comida vem do exterior. E vem do exterior porque é mais barato transportar para cá essa comida processada do que incentivar os agricultores. Todos têm refrigeradores, microondas... Grande culpa disso é do petróleo. O modo como vivemos no Ocidente é o modo de vida mais luxuoso de toda a história da humanidade e é baseado em petróleo. O governo encoraja isso, vê isso como progresso. Para mim, não estamos progredindo; estamos destruindo tudo nesse processo.

Folha - O que você está dizendo é que tudo está conectado: nossa comida, o petróleo, o modo como vivemos... Mas não é hipocrisia querer acabar com os pesticidas, por exemplo, quando muita gente diz que eles são um mal necessário para produzir alimentos baratos?

Herbert - Acho que, se olharmos para o que os povos pobres comem, veremos que a maioria da comida é orgânica, pois nesses países eles não têm dinheiro para comprar pesticidas, e basicamente são comidas simples, produzidas por pequenos agricultores. Mas, no Ocidente, a comida orgânica é uma criação da indústria alimentícia, para dar uma alternativa para as porcarias que eles produzem. Além disso, as questões levantadas pelo álbum são relativas principalmente ao que ocorre no Reino Unido. O que devemos fazer é investir em comerciantes locais, incentivar o esvaziamento das grandes cidades...

Folha - Quando começou a prestar atenção nessas questões?

Herbert - Com as minhas viagens, que me possibilitaram enxergar como existe comida ruim em todos os cantos do mundo e como existe comida excelente em todo o mundo. Na Espanha, vi que eles comem presunto Pata Negra; na Itália, presunto Parma, com variações locais e sabores incríveis. As grandes corporações estão padronizando tudo isso.

Folha - Como foi o processo de gravação do disco?

Herbert - Tudo começou como pequenas histórias. Por exemplo, queria contar a história do café, que está muito ligada ao trabalho escravo, mas olhar também para as conseqüências disso, como o desflorestamento do Vietnã durante a guerra contra os EUA, e como algumas pessoas foram forçadas a começar a produzir café... Então decidi utilizar esses grãos de café do Vietnã; depois, sabendo que uma xícara de expresso no Starbucks é feita utilizando-se 20 desses grãos, decidi fazer melodia com o barulho desses 20 grãos sendo derrubados num container vazio que é normalmente utilizado para armazenar herbicidas da Monsanto que têm os mesmos ingredientes que o pó Agente Laranja... A história vem antes, depois procurei o que utilizar como instrumentos para representá-la.

Folha - Você é um grande crítico da globalização, de Tony Blair, de Bush. Sente que como artista pode realmente mudar algo?

Herbert - Sim, claro. Pelos último meses tenho falado sobre fazendas de café e sobre o modo como criamos frangos em grandes jornais e revistas de música. Quando foi a última vez que você viu isso nesse tipo de publicação? Estou adicionando minha voz.

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