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13/09/2005 - 10h13

Ciclo no IEB investiga elo entre o escritor e a cidade

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JULIÁN FUKS
da Folha de S.Paulo

Que nada tente intrometer-se entre o escritor e sua cidade. É do caminhar por suas ruas, do interromper os passos nos semáforos, do apoiar-se em parapeitos, que a matéria vista há de se tornar palavra escrita. Uma relação íntima que sem dúvida tem de ser classificada como universal, mas que também, em certos lugares, em certos dias e noites particulares, ganha contornos diferenciados e assume maior intensidade. Um desses momentos, a primeira metade do século 20. Um desses lugares, a metrópole em que São Paulo se convertia.

É dessa particularidade, dessa e de outras do mesmo período e do mesmo país, que irá tratar o curso "A Cidade na Literatura Brasileira no Século 20", promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. A cada tarde de terça-feira, a começar por hoje (13), dois especialistas irão abordar as obras de alguns cânones da literatura nacional e explorar suas relações, íntimas e complexas, com as cidades que seus corpos habitavam. Passando pelas mentes dos três de Andrade --Mário, Oswald e Carlos Drummond-- e chegando até Clarice Lispector, esta a mais recente entre os autores selecionados.

Sim, das vozes analisadas, são esmagadora maioria aquelas entoadas nas primeiras décadas do século, vozes que se limitaram a ecoar --conceda-se, com força-- nas décadas subseqüentes. Destaque, também, são as de sotaque paulista, desprendidas sobretudo da conjunção entre garganta e língua de dois específicos autores, Mário e Oswald de Andrade.

Qual a razão de tal preferência? "São Paulo, no início do século 20, explodia demograficamente. No lugar da pacata vila que, em 1872, congregava 31 mil almas, brotava uma metrópole, de arquitetura indecisa, que se tornava babel lingüística", explica Marcos Antonio de Moraes, professor de literatura da USP e um dos organizadores do curso.

E, diferentes de outros que cultivavam um deslumbramento ingênuo da cidade em crescimento, submetendo-se àquilo que recebeu o nome de "modernolatria", "Mário e Oswald foram além, tendo sido capazes de captar as tensões sociais que vigoravam em São Paulo, onde se acotovelavam tísicos desfavorecidos, estrangeiros ricos e pobres, prostitutas, louquinhos de rua", discorre Moraes.

Assim, Oswald retrata um mundo em que a natureza e os elementos da cidade acabam por formar um conjunto uno, transformando-se mutuamente. "Quando ele descreve a cidade, promove um revezamento entre o mundo da natureza e o mundo da tecnologia", explica a professora Maria Caterina Pincherle, que dará a palestra "A Cidade nos Anos 1920 e a Poesia Pau-Brasil", no dia 20.

Na poesia de Oswald, o trem e o luar se encontram no mesmo poema, lampiões aguardam a chegada da abençoada noite que lhes mantêm o emprego e, como cita Pincherle, "árvores sem emprego dormem em pé" ou escutam-se "conversas no jardim onde crescem os bancos".

Mário de Andrade, quando o assunto é esta cidade, tampouco se deixa esquecer por muitos parágrafos. "São Paulo percorre sua obra até o derradeiro poema, às vésperas da morte, 'A Meditação sobre o Tietê'. É tema que se desdobra, evolui e supera a contingência de um programa modernista", analisa a professora Telê Ancona López, responsável pela palestra final do curso. Que não nos seja pedido, como paulistanos, escolher um dos Andrades.

Confira a programação:

Hoje
Antonio Dimas, "A Virada Carioca: 1900"
Marcos Antonio de Moraes, "Cartas/Cidade"

Dia 20
Nicolau Sevcenko, "Automóveis, Barcaças, Holofotes na Terra das 'Audácias e Pasmaceiras'"
Maria Caterina Pincherle, "A Cidade nos Anos 1920 e a Poesia Pau-Brasil"

Dia 27
Gilberto Martins, "Estátuas Invisíveis - Experiência do Espaço Público na ficção de Clarice Lispector"
Vagner Camilo, "A um Hotel em Demolição: A Modernidade entre Tapumes"

Dia 4/10
Rosângela Asche de Paula, "Dos Cabarés Literários Alemães à Paulicéia de Mário de Andrade"
Telê Ancona Lopez, "De Émile Verhaeren a Mário de Andrade"

Onde: Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP (av. Prof. Mello de Moraes, trav. 8, 40, Cidade Universitária, tel. 0/xx/11 3091-3199)
Quanto: entrada franca

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