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14/09/2005 - 13h28

Documentário de Scorsese sobre Bob Dylan tem mais de 3 horas

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GILES HEWITT
da France Presse, em Nova York

"A verdade é que eu não tinha ambições de nenhum tipo", afirma Bob Dylan no começo de "No direction home", o novo documentário de Martin Scorsese que investiga os primeiros anos da carreira do cantor e estreará em poucos dias no mercado americano.

Em três horas e meia, "No direction home" narra a meteórica ascensão de Dylan até chegar ao que ele afirma ter sido uma notoriedade não buscada. As ferramentas usadas por Scorsese são pouco comuns entrevistas frontais com o próprio músico, com admiradores e detratores da mesma geração.

Para os dylanianos, o filme representa o acesso a um conjunto de tesouros ocultos: resultado do cantor ter permitido a Scorsese analisar seu arquivo pessoal de fotografias, filmes, gravações e manuscritos.

Mais longo que a maioria das biografias documentais que cobrem uma vida inteira, o filme de Scorsese focaliza principalmente os seis anos (1961-66) que viram Dylan chegar a Nova York como um compositor de baladas do interior dos Estados Unidos e que teve que se reinventar, primeiro como um herói folk do Greenwhich Village e depois como um roqueiro com guitarra elétrica nos braços.

Completando algumas lacunas da autobiografia "Crônicas: Volume 1" publicada no ano passado, o filme mostra Dylan, de 64 anos, dando um depoimento sobre os eventos e apresentando seu trabalho em um contexto musical e histórico.

Disponível nos Estados Unidos como DVD duplo a partir de 20 de setembro, longa-metragem estreará uma semana mais tarde no canal de televisão público PBS.

O áudio inclui trechos da primeira gravação de Dylan, "When I got troubles", feita em 1959 por um amigo da escola secundária em Hibbing, Minnesota: "Um local onde você não podia ser rebelde. Era tão frio que não havia espaço para ser mau".

Nas entrevistas, Dylan fala sobre suas primeiras influências, ouvindo Hank Williams, Muddy Waters e Johnny Ray. "O que mais me pegou foi o som. Não era quem tocava... era o som", explica.

Ao chegar a Nova York em 1961, Dylan, na época um discípulo de Woody Guthrie, ativista social --"Podia escutar suas canções e de fato aprender a viver", conta --, foi parar em um florescente Greenwich Village, cenário de cantores de café e de poetas da geração beat. "Senti que me encaixava perfeitamente entre aquelas pessoas", recorda.

As memórias de Dylan se contrastam com entrevistas --passadas e do presente-- de outros luminares da época, como Joan Baez, Allen Ginsberg e Pete Seeger.

O perfil coletivo é o de um jovem cantor com a humildade de aceitar seus mentores e beber de todas as influências, mas também com a arrogância e confiança necessárias para rejeitá-las e avançar por um caminho individual.

"Eu estava situado em uma zona determinada, artisticamente falando, onde ninguém havia estado antes", disse Dylan.

Assim como na autobiografia, o documentário revela pouco sobre sua vida pessoal, apesar de registra um momento de muito afeto quando se refere à fúria de Joan Baez --na época sua amante e uma estrela de renome por mérito próprio-- por sua recusa em convidá-la para dividir o palco durante a turnê de 1966 pela Grã-Bretanha.

"No se pode ser inteligente e estar apaixonada ao mesmo tempo. Espero que ela possa entender agora", afirma.

Um dos aspectos ignorados em "Crônicas", mas ao qual o documentário concede uma relevância substancial, é a célebre transformação de seu som de acústico a elétrico, que provocou a ira de muitos fãs leais.

O filme inclui cenas da apresentação de 1965 de Bob Dylan no Newport Folk Festival, onde pela primeira vez empunhou a guitarra e foi vaiado, tendo que abandonar o palco depois de tocar apenas três canções.

"Não tinha idéia de por quê me vaiavam", lembra. "Independente do que fosse, não iria agradar a multidão". As vaias e gritos de "traidor" e "Judas" o acompanharam pela turnê britânica do ano seguinte. Porém, se alguns puristas do folk se sentiram traídos, os mesmos foram superados por um imenso número de novos fãs atraídos pelo novo som.

O nível de adulação cresceu exageradamente, acompanhado de intermináveis entrevistas coletivas com perguntas inverossímeis: "Você se importaria se eu chupasse seus óculos de sol?", perguntou a Dylan um desconcertante jornalista.

"As coisas haviam saído do controle", disse. "Em um determinado ponto, por alguma razão, as pessoas pareciam ter uma visão distorcida, retorcida de mim. O porta-voz de uma geração, a consciência de não sei o quê, disto e daquilo. Coisas com as quais eu não podia me relacionar".

O documentário chega ao fim com o acidente de moto de 1966, depois do qual Dylan mudou de vida e passou a uma relativa reclusão com a família. Ele só voltaria aos palcos oito anos mais tarde.

A voz de Scorsese não é ouvida no filme, que não tem narração.

As primeiras críticas sobre o documentário aclamaram o filme. A revista Rolling Stone considerou o mesmo "uma eletrizante versão de uma vida sem precedentes" e a revista Variety o elogiou como um "triunfo".

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