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23/09/2005 - 18h12

Escritor nicaragüense Sergio Ramírez se declara traído por Lula

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da France Presse, em Bogotá

O escritor nicaragüense Sergio Ramírez se declarou traído pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele também disse que Hugo Chávez é populista e pouco sério. E recomendou ao presidente colombiano Alvaro Uribe que desconfie de que os Estados Unidos ajudarão a pacificar o país no lançamento, em Bogotá, de seu último romance, "Las mil y una muertes" (As mil e uma Mortes).

"Para aqueles que acreditam, como eu, que a esquerda poderia levantar novas bandeiras, entre elas a da transparência, saber que há evidências no Brasil, sob um governo de esquerda, de atos vergonhosos cometidos, depõe contra a esquerda e enfraquece a imagem que os cidadãos deveriam ter dela", disse o escritor.

Ramírez, vice-presidente do seu país durante a revolução sandinista, se disse "desencantado" com Lula, ao mesmo tempo em que confiou que seu mandato "seja apenas um episódio e que logo virá uma forma de demonstrar que a esquerda é uma força coerente e transparente de governar bem" a América Latina.

O escritor também criticou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e sua aliança com o regime cubano de Fidel Castro.

"Sempre houve na América Latina estes tipos de alianças que buscam estabelecer caminhos diferentes à presença dominante dos Estados Unidos, e sou partidário delas", explicou.

"No entanto, estes assuntos deveriam ser tratados com coerência e seriedade. Quando ouço o eco de propostas que me soam retóricas, sinto um calafrio", acrescentou Ramírez, afirmando que Chávez "não consegue elucidar muito bem onde está a seriedade real do seu projeto".

"É difícil para mim confiar em alguém que provém de um golpe de Estado e o populismo me desanima muito", sentenciou.

Ramírez está em Bogotá para lançar seu novo livro, "Mil y una muertes" (Mil e uma mortes), apresentado na Nicarágua no fim de 2004. O romance, em que o próprio escritor se inclui como personagem, conta a história de um fotógrafo que viaja à Europa do século 19 e parodia escritos do poeta nicaragüense Rubén Darío e do colombiano José María Vargas Vila, que foram os latino-americanos mais lidos do início do século 20.

"Senti que o livro precisava de duas vozes narrativas: por um lado, meu personagem (o fotógrafo), que conta sua história; por outro, minha voz, numa relação de perseguidor e perseguido", explicou o autor, que admitiu que em sua obra não pode "se desligar de uma forte herança política".

Sobre a aliança entre os governos dos Estados Unidos e da Colômbia, o escritor recomendou ao presidente Uribe que "deixe de acreditar" que Washington "vai ajudá-lo a resolver o problema da violência em seu país".

"As soluções de paz nunca estão nas alianças internacionais, nem nas alianças com os mais fortes, mas nos entendimentos nacionais. A solução para a Colômbia vai chegar quando houver um verdadeiro entendimento nacional", destacou o autor de "Margarita está Linda la Mar" e "Un Baile de Máscaras".

Ramírez, 63, se disse orgulhoso de sua participação na revolução sandinista: "Esse passo me enriqueceu, inclusive para minha função de escritor, pois ganhei experiência de poder, algo muito útil para qualquer escritor".

Apesar disso, declarou-se cada vez mais desencantado com a forma como seu país acabou sendo governado.

"Da revolução sandinista resta muito pouco na Nicarágua. O que existe agora nada tem da velha revolução. Suas virtudes se esfumaram e o sacrifício parece ter sido em vão", disse, com nostalgia.

Por outro lado, "a situação de instabilidade que vivem o Equador e a Bolívia evidenciam o sintoma da grande doença latino-americana: a desintegração social", afirmou, antes de falar da queda dos regimes militares no continente.

Em 1977, Ramírez liderou o grupo dos doze, formado por intelectuais, empresários, sacerdotes e dirigentes civis em apoio a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), na luta contra o regime de Anastasio Somoza.

Com a vitória da revolução, ele passou a integrar a Junta do Governo, foi eleito vice-presidente em 1984, presidiu o Conselho Nacional de Educação e fundou a Editora Nueva Nicaragua, em 1981. Também foi deputado, membro da Assembléia que promoveu a reforma constitucional e candidato à Presidência, em 1996.

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