Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
24/10/2000 - 05h17

Editora tira Santos-Dumont do buraco negro

Publicidade

CYNARA MENEZES, da Folha de S.Paulo

Há um buraco negro no mercado editorial nacional em que obras cruciais se metem sem poder sair. Era onde parecia estar "O Que Eu Vi, O Que Nós Veremos", memórias do aviador Alberto Santos-Dumont. Lançado em 1918, o livro só foi republicado em 1986, em versão pobre em iconografia. "Não havia glamour, era uma edição extremamente nacionalista", diz o editor Jorge Sallum (Hedra), que resgatou o texto.

Nascido há 127 anos (em 1873), Dumont se suicidaria, aos 59, em 1932, enforcado em um hotel no Guarujá. Não é efeméride, mas sua "autobiografia" -na verdade, um relato de seus feitos- ganha nova edição com imagens escolhidas pelo sobrinho-bisneto, Marcos Villares Filho. Contada pelo próprio, a aventura de Dumont mostra-se fascinante.
Filho de rico cafeicultor do interior paulista, é mandado pelo pai a Paris para se dedicar às pesquisas sobre um motor capaz de manter uma máquina em pleno ar.

O aviador, sobre cuja sexualidade paira uma nuvem de mistério, não entra em temas pessoais. Parecia não ter tempo para se dedicar a distrações terrenas, ocupado que estava com incursões aéreas.

Em suas primeiras experiências com dirigíveis, ora acerta, ora fracassa. Coloca a vida em risco e sempre sai quase ileso. Em uma queda, ao tentar contornar a Torre Eiffel, em 1901, seu dirigível cai entre as árvores dos jardins do barão de Rotschild. Noutra, pouco depois, o balão estoura ao se chocar contra a parede de um prédio, e o aviador é resgatado pelos bombeiros. Mas, em outubro do mesmo ano, aos 28, consegue o feito, documentado pela comissão do Aeroclube da França.

Quatro anos mais tarde iniciaria experiências com aeroplanos, já indignado com o desdém com que era tratado pelos contemporâneos. "Eu ouvia chalaças deste gênero: "O sr. não faz nada?" "Está sempre fechado em seu quarto, a dormir!'", conta. Em seguida, ironiza: "Dormi três anos e no mês de julho de 1906 apresentei-me no campo de Batelle com o meu primeiro aeroplano".

Finalmente, em 23 de outubro de 1901, levanta vôo, por apenas 50 metros, com o 14-Bis, assim chamado porque o aviador, a princípio, usava o balão de número 14 como suporte do aeroplano.

Sua suposta decepção com o destino bélico da "invenção", fato que o teria levado a se matar, se mostra controvertida. Se no princípio do livro afirma sua "íntima ambição" de que os aviões fossem usados para "fins pacíficos", vangloria-se, na segunda parte -onde faz previsões sobre o futuro-, da invencibilidade das máquinas voadoras em tempos de guerra.

"Desde o início da guerra, os aperfeiçoamentos do aeroplano têm sido maravilhosos", festeja.

"O mais espantoso acontecimento foi o desenvolvimento dos canhões para aeroplanos. (...)Imaginai o poder deste terrível fogo lançado de um aeroplano!" Um trecho curioso (veja ao lado) é sua resposta para a polêmica sobre a paternidade da aviação, disputada com os irmãos Wright, dos EUA. Dumont abdica da timidez e assume que o filho é seu com argumentos irrefutáveis.

Livro: O Que Eu Vi, O Que Nós Veremos
Autor: Alberto Santos-Dumont
Editora: Hedra
Quanto: a definir (150 págs.)

Leia mais notícias de Ilustrada na Folha Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página