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13/10/2005 - 13h04

Vencedor do Nobel de Literatura, Harold Pinter é dramaturgo político

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da Efe

Harold Pinter recebeu nesta quinta-feira o Prêmio Nobel de Literatura, num momento em que praticamente já abandonou o teatro e luta contra um câncer de esôfago, diagnosticado em 2002.

A Academia Sueca premia assim um representante dos Angry Young Men (jovens irados), no qual também se enquadram John Osborne, autor de "Look Back in Anger", que deu nome ao grupo, e Arnold Wesker ("A Cozinha").

Com 75 anos e após 29 peças teatrais, entre elas algumas famosas como "The Birthday Party", "The Caretaker" e "Old Times", assim como vários roteiros de cinema, entre eles para Joseph Losey, Pinter dizia estar esgotado ultimamente.

"Acho que deixei de escrever teatro... Já tenho 29 obras escritas. Por acaso não é suficiente?", se perguntava recentemente, na ocasião da estréia de uma peça para o rádio com música de James Clarke, intitulada "Voices" (apresentada neste mês pela BBC, no dia de seu aniversário).

Nessa peça, Pinter usou elementos de cinco de suas últimas obras --"One for the Road", "Mountain Language", "The New World Order", "Party Time" e "Ashes to Ashes".

Todas elas têm em comum sua preocupação pela relação de poder entre o carrasco e a vítima, o torturador e o torturado, o dono e o escravo.

Embora apenas ultimamente tenha substituído o teatro pelo texto político --referiu-se ao Iraque como "um ato premeditado de assassinato de massas" e aos Estados Unidos de George W. Bush como "um monstro descontrolado"--, Pinter sempre foi no fundo um escritor político. Inclusive nas chamadas "obras de memória", como "Silence" (1968), "Old Times" (1970), "No Man's Land" (1974) ou "Betrayal" (1978), a memória funciona como um arma a mais nas relações de poder, que ressaltam ainda mais o isolamento dos personagens.

Até partindo de personagens e situações aparentemente normais, as obras de Pinter parecem sempre submersas em uma atmosfera de ameaça, de mistério e horror.

A crítica assinalou que as lutas pelo poder, que são sempre assunto de seus dramas, são caracterizadas por uma forte ambigüidade ao não esclarecer as razões para a vitória ou para a eventual derrota dos personagens.

Seu teatro, que de certo modo dá continuidade ao de Samuel Beckett e também sofre influência de Franz Kafka, utiliza a linguagem corrente, mas Pinter o carrega de ambigüidade, de pausas, de silêncios de grande efeito.

Introspecção

Nascido em 1930 no East End londrino, filho de um alfaiate judeu imigrante da Europa Oriental, Pinter foi separado de seus pais em 1939, no início da Segunda Guerra Mundia. Essa separação, traumática para ele, iria alimentar sua imaginação e o olhar introspectivo de seu teatro.

Após retornar a Londres com 14 anos, Pinter se matriculou na Royal Academy of Dramatic Art londrina graças a uma bolsa. Deixou os estudos depois de apenas dois anos. Sempre inconformista, foi condenado a uma multa por um juiz em 1949 por se negar a completar o serviço militar.

Homem de teatro até a medula, Pinter foi ator antes de se tornar autor e percorreu o país com diferentes companhias de província, enquanto publicava seus primeiros versos.

Sua primeira obra longa, "The Birthday Party", que estreou em 1958 no West End londrino, foi muito mal recebida pela crítica da época e retirada de cartaz uma semana depois da estréia.

O jovem dramaturgo, no entanto, não se intimidou com esse fracasso, e três anos depois publicaria "The Caretaker", que estabeleceria sua reputação como um dos mais destacados dramaturgos em língua inglesa.

Pinter também escreveu inúmeros roteiros para o cinema, entre eles os de "The Servant" e "The Caretaker", ambos dirigidos por Losey, e o de "The French Lieutenant's Woman", de Karel Reisz.

Nesta semana, Pinter anunciou que atuaria em uma produção de "Krapp's Last Tape", de Beckett, como parte do 50º aniversário da English Stage Company no Royal Court Theatre londrino.

Pinter, no entanto, quer tirar forças para continuar criticando não só a guerra do Iraque, mas a situação política do mundo, que considera "preocupante".

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