Publicidade
Publicidade
18/10/2005
-
09h13
THIAGO NEY
da Folha de S. Paulo
Da lama psicodélica ao caos electrofunk. Sim, estamos falando da Nação Zumbi, de volta com o sexto álbum, "Futura", que serve de mote para uma nova conversa.
Jorge du Peixe descreve o disco: "É como uma psicodelia em preto-e-branco, porque não remete à psicodelia colorida dos anos 70; é psicodélico olhando para a frente", diz o vocalista de 38 anos. "É como 'futurar' em cima de toda essa palidez. Estamos aqui até hoje, e é um tempo de celebração."
Esse "até hoje" significa desde 1990, quando o grupo, então Chico Science e Nação Zumbi, ajudou a formatar o mangue beat (ou mangue bit), o último grande respiro revigorante do rock brasileiro (leia texto à esquerda).
Desde "Da Lama ao Caos" (1994) e "Afrociberdelia" (1996), a Nação Zumbi "olhava para a frente". Naquela época, recebiam críticas de gente como Ariano Suassuna, então secretário da Cultura de Pernambuco, por misturar o maracatu com o rock e a eletrônica; Chico Science, morto em acidente automobilístico em fevereiro de 1997, costumava se apresentar como DJ, tocando os até então robustos trance e drum'n'bass.
Agora, com "Futura", a banda --além de Jorge, a Nação Zumbi é Lúcio Maia (guitarra), Dengue (baixo), Gilmar Bola 8 (tambor), Pupillo (bateria), Gira (tambor) e os percussionistas Toca Ogam e Marquinhos-- parece ir ainda mais fundo, desconstruindo o maracatu em meio a efeitos de guitarras e toques eletrônicos.
"Exploramos outras idéias, a psicodelia. Neste disco quisemos abusar mais", afirma Maia. "Pesquisamos timbragens, sons de guitarras, queríamos que fossem diferentes. Mas não ficamos alisando muito, gravamos em pouco tempo." O disco foi co-produzido pelo canadense Scott Hard, que já trabalhou com o Morcheeba.
A banda, hoje dividida entre Recife e São Paulo, levou pouco mais de dois meses para gravar no estúdio. Foram utilizados equipamentos como sintetizadores, bateria eletrônica, órgãos e softwares. O resultado são faixas que dão a sensação de camadas sobrepostas, quase como colagens.
"Atualmente, com o sampler, é complicado dizer o que é algo, quem pegou o quê, onde. Penso numa idéia de sampler em que ninguém consiga identificar de onde tenha vindo. O universo da cultura mixer hoje possibilita isso. É o caso do Danger Mouse [DJ norte-americano que ficou mundialmente conhecido ao lançar um disco em que misturava bases do álbum branco dos Beatles com vocais do 'álbum preto' de Jay-Z]. Ninguém sabe como ficará a propriedade intelectual daqui para frente", diz Jorge du Peixe.
A canção mais antiga de "Futura" é a faixa-título, que era para ter saído no disco anterior, de 2002. Chamava "Revolución" e continha sampler de Che Guevara. "Ela entrou neste disco, mas sem o sampler. Modificamos um pouco o arranjo", conta o vocalista. "Já fomos sampleados, não tenho nada contra. Baixo coisas da internet, e o que me interessa compro, faço questão de ter o disco. A internet possibilita isso, por que virar as costas? A música é elástica."
Para completar "Futura", Nação Zumbi teve a ajuda de Catatau (Cidadão Instigado), Mauricio Takara (Hurtmold), Kassin, que tocou com Gameboy em uma das faixas, e Alexandre Basa. O grupo pernambucano gravou trilha para "Amarelo Manga", de Cláudio Assis, tocou em desfile da São Paulo Fashion Week, realizou excursão européia...
"Tudo isso deu a direção para o que veio a ser o disco. Não existe uma fórmula, não foi nada pensado, programado. As bases foram fluindo e nunca estivemos presos a gêneros. Um disco pode soar mais hip hop, outro mais reggae, ou mais rock", diz Jorge. "Não acho que este seja o mais eletrônico. O processo de composição é sempre iniciado organicamente."
Sobre as referências, diz que elas não apareceram de só um foco. "É difícil apontar o que nos influencia diretamente. Com o tempo, você vai vendo outras coisas, lendo outros livros, outros filmes. É legal quando as pessoas abrem mais os olhos para artistas da América Latina, quando tentam transpor a barreira dos EUA."
Para o vocalista, o que fazem é universal. "Não existe world music. Existe música no mundo. Esses estereótipos estão se quebrando, muito por culpa da internet: o mundo se conhece muito mais rápido do que antes. Temos que olhar para Bollywood, para os filmes latinos, Julio Cortázar, José Saramago. E há muitas coisas novas e interessantes no Brasil."
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o grupo Nação Zumbi
Nação Zumbi respira psicodelia em P&B
Publicidade
da Folha de S. Paulo
Da lama psicodélica ao caos electrofunk. Sim, estamos falando da Nação Zumbi, de volta com o sexto álbum, "Futura", que serve de mote para uma nova conversa.
Jorge du Peixe descreve o disco: "É como uma psicodelia em preto-e-branco, porque não remete à psicodelia colorida dos anos 70; é psicodélico olhando para a frente", diz o vocalista de 38 anos. "É como 'futurar' em cima de toda essa palidez. Estamos aqui até hoje, e é um tempo de celebração."
Esse "até hoje" significa desde 1990, quando o grupo, então Chico Science e Nação Zumbi, ajudou a formatar o mangue beat (ou mangue bit), o último grande respiro revigorante do rock brasileiro (leia texto à esquerda).
Desde "Da Lama ao Caos" (1994) e "Afrociberdelia" (1996), a Nação Zumbi "olhava para a frente". Naquela época, recebiam críticas de gente como Ariano Suassuna, então secretário da Cultura de Pernambuco, por misturar o maracatu com o rock e a eletrônica; Chico Science, morto em acidente automobilístico em fevereiro de 1997, costumava se apresentar como DJ, tocando os até então robustos trance e drum'n'bass.
Agora, com "Futura", a banda --além de Jorge, a Nação Zumbi é Lúcio Maia (guitarra), Dengue (baixo), Gilmar Bola 8 (tambor), Pupillo (bateria), Gira (tambor) e os percussionistas Toca Ogam e Marquinhos-- parece ir ainda mais fundo, desconstruindo o maracatu em meio a efeitos de guitarras e toques eletrônicos.
"Exploramos outras idéias, a psicodelia. Neste disco quisemos abusar mais", afirma Maia. "Pesquisamos timbragens, sons de guitarras, queríamos que fossem diferentes. Mas não ficamos alisando muito, gravamos em pouco tempo." O disco foi co-produzido pelo canadense Scott Hard, que já trabalhou com o Morcheeba.
A banda, hoje dividida entre Recife e São Paulo, levou pouco mais de dois meses para gravar no estúdio. Foram utilizados equipamentos como sintetizadores, bateria eletrônica, órgãos e softwares. O resultado são faixas que dão a sensação de camadas sobrepostas, quase como colagens.
"Atualmente, com o sampler, é complicado dizer o que é algo, quem pegou o quê, onde. Penso numa idéia de sampler em que ninguém consiga identificar de onde tenha vindo. O universo da cultura mixer hoje possibilita isso. É o caso do Danger Mouse [DJ norte-americano que ficou mundialmente conhecido ao lançar um disco em que misturava bases do álbum branco dos Beatles com vocais do 'álbum preto' de Jay-Z]. Ninguém sabe como ficará a propriedade intelectual daqui para frente", diz Jorge du Peixe.
A canção mais antiga de "Futura" é a faixa-título, que era para ter saído no disco anterior, de 2002. Chamava "Revolución" e continha sampler de Che Guevara. "Ela entrou neste disco, mas sem o sampler. Modificamos um pouco o arranjo", conta o vocalista. "Já fomos sampleados, não tenho nada contra. Baixo coisas da internet, e o que me interessa compro, faço questão de ter o disco. A internet possibilita isso, por que virar as costas? A música é elástica."
Para completar "Futura", Nação Zumbi teve a ajuda de Catatau (Cidadão Instigado), Mauricio Takara (Hurtmold), Kassin, que tocou com Gameboy em uma das faixas, e Alexandre Basa. O grupo pernambucano gravou trilha para "Amarelo Manga", de Cláudio Assis, tocou em desfile da São Paulo Fashion Week, realizou excursão européia...
"Tudo isso deu a direção para o que veio a ser o disco. Não existe uma fórmula, não foi nada pensado, programado. As bases foram fluindo e nunca estivemos presos a gêneros. Um disco pode soar mais hip hop, outro mais reggae, ou mais rock", diz Jorge. "Não acho que este seja o mais eletrônico. O processo de composição é sempre iniciado organicamente."
Sobre as referências, diz que elas não apareceram de só um foco. "É difícil apontar o que nos influencia diretamente. Com o tempo, você vai vendo outras coisas, lendo outros livros, outros filmes. É legal quando as pessoas abrem mais os olhos para artistas da América Latina, quando tentam transpor a barreira dos EUA."
Para o vocalista, o que fazem é universal. "Não existe world music. Existe música no mundo. Esses estereótipos estão se quebrando, muito por culpa da internet: o mundo se conhece muito mais rápido do que antes. Temos que olhar para Bollywood, para os filmes latinos, Julio Cortázar, José Saramago. E há muitas coisas novas e interessantes no Brasil."
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice