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20/10/2005
-
09h47
INÁCIO ARAUJO
Crítico da Folha de S.Paulo
Em outubro de 1953, Edward R. Murrow e Joseph McCarthy eram dois expoentes da América. O primeiro, como jornalista investigativo da rede CBS; o segundo, como presidente da Comissão de Atividades Antiamericanas do Senado.
Os dois entram em choque quando um piloto da Força Aérea, Milo Radulovich, é dispensado de suas funções, acusado de ser comunista. Radulovich protesta, e Murrow toma suas dores. A Força Aérea termina por reintegrar o tenente, e McCarthy, derrotado, volta suas baterias contra Murrow com todo o arsenal clássico usado nessas ocasiões, desde vagas acusações políticas até pressões sobre os patrocinadores.
O sentido conotado de "Good Night, and Good Luck", filme de George Clooney que, hoje à noite, dá o pontapé inicial na programação da 29ª Mostra de Cinema de São Paulo, é evidente. Não se trata tanto de evocar um personagem da caça às bruxas promovida por McCarthy entre os anos 40 e 50 nos EUA, quanto de encontrar paralelos entre a situação na época e a situação hoje, quando George W. Bush, como presidente dos EUA, promove uma cruzada contra o terrorismo em termos por vezes análogos aos usados por McCarthy.
O sentido mais imediato --o do significado da televisão, então nascente-- e mais genérico do jornalismo são mediados em "Good Night, and Good Luck" por certas escolhas de Clooney, a começar pelo uso de um branco e preto cujos contrastes não deixam de evocar, em inúmeros momentos, "Cidadão Kane".
"Kane" é, de certa forma, o drama do poder e sobre o poder de um homem. "Good Night" coloca em confronto dois poderes: o da TV e o dos políticos.
Nesse sentido, a escolha do preto-e-branco é significativa, pois remete a uma era morta e enterrada, em que a mídia ainda tateava, procurando conhecer-se, e em que os meios de comunicação ainda colocavam os cidadãos em contato uns com os outros, enquanto hoje eles se bastam, servindo mais à desmobilização do que a seu inverso.
Se essa diferença da natureza entre a TV dos "tempos heróicos" e a de hoje tende a roubar a eficácia da alegoria política de Clooney e a transformar sua estilística em afetação, está longe de comprometer a interpretação primorosa de David Strathairn. Na verdade, Clooney parece fazer este filme para permitir que alguns de seus colegas, Strathairn à frente, brilhem mais do que ele próprio.
Good Night, and Good Luck
Direção: George Clooney
Quando: hoje, às 21h30, no Memorial da América Latina (abertura somente para convidados); amanhã, às 21h50, no Frei Caneca Unibanco Arteplex; e dias 22, às 16h10, no Cine MorumbiShopping; e 24, às 18h40, no Cine Bombril.
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Crítico da Folha de S.Paulo
Em outubro de 1953, Edward R. Murrow e Joseph McCarthy eram dois expoentes da América. O primeiro, como jornalista investigativo da rede CBS; o segundo, como presidente da Comissão de Atividades Antiamericanas do Senado.
Os dois entram em choque quando um piloto da Força Aérea, Milo Radulovich, é dispensado de suas funções, acusado de ser comunista. Radulovich protesta, e Murrow toma suas dores. A Força Aérea termina por reintegrar o tenente, e McCarthy, derrotado, volta suas baterias contra Murrow com todo o arsenal clássico usado nessas ocasiões, desde vagas acusações políticas até pressões sobre os patrocinadores.
O sentido conotado de "Good Night, and Good Luck", filme de George Clooney que, hoje à noite, dá o pontapé inicial na programação da 29ª Mostra de Cinema de São Paulo, é evidente. Não se trata tanto de evocar um personagem da caça às bruxas promovida por McCarthy entre os anos 40 e 50 nos EUA, quanto de encontrar paralelos entre a situação na época e a situação hoje, quando George W. Bush, como presidente dos EUA, promove uma cruzada contra o terrorismo em termos por vezes análogos aos usados por McCarthy.
O sentido mais imediato --o do significado da televisão, então nascente-- e mais genérico do jornalismo são mediados em "Good Night, and Good Luck" por certas escolhas de Clooney, a começar pelo uso de um branco e preto cujos contrastes não deixam de evocar, em inúmeros momentos, "Cidadão Kane".
"Kane" é, de certa forma, o drama do poder e sobre o poder de um homem. "Good Night" coloca em confronto dois poderes: o da TV e o dos políticos.
Nesse sentido, a escolha do preto-e-branco é significativa, pois remete a uma era morta e enterrada, em que a mídia ainda tateava, procurando conhecer-se, e em que os meios de comunicação ainda colocavam os cidadãos em contato uns com os outros, enquanto hoje eles se bastam, servindo mais à desmobilização do que a seu inverso.
Se essa diferença da natureza entre a TV dos "tempos heróicos" e a de hoje tende a roubar a eficácia da alegoria política de Clooney e a transformar sua estilística em afetação, está longe de comprometer a interpretação primorosa de David Strathairn. Na verdade, Clooney parece fazer este filme para permitir que alguns de seus colegas, Strathairn à frente, brilhem mais do que ele próprio.
Good Night, and Good Luck
Direção: George Clooney
Quando: hoje, às 21h30, no Memorial da América Latina (abertura somente para convidados); amanhã, às 21h50, no Frei Caneca Unibanco Arteplex; e dias 22, às 16h10, no Cine MorumbiShopping; e 24, às 18h40, no Cine Bombril.
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