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24/10/2005
-
10h41
TIAGO MATA MACHADO
Crítico da Folha de S.Paulo
Ele foi o realizador de alguns dos mais belos filmes do mundo, mas sua obra, perdida parcialmente em um incêndio, nunca mais será conhecida em sua totalidade. Ele fez a história do cinema, mas acabou esquecido por ela. O tempo já foi implacável com Victor Sjöstrom, mas hoje, como prova a retrospectiva 29ª Mostra de Cinema, ele corre a seu favor.
O cinema falado não lhe deu voz, mas o silêncio de Sjöstrom revelou-se eloqüente: quase um século depois, os seus filmes mudos são ainda capazes de nos partir o coração --obras como "Ingeborg Holm" (1913) e "A Carruagem Fantasma"(1921), que Ingmar Bergman costuma rever todos os anos na ilha de Farö.
Para quem não conhecia Sjöstrom senão como o velho ator de "Morangos Silvestres", a retrospectiva é oportunidade única para conferir as mil faces desse artista, em obras que atestam a perenidade de seu talento tanto diante como atrás das câmeras.
Dramas de famílias arruinadas, corroídas pela fome e pelo preconceito, histórias de maridos relapsos prontos a se redimir, retratos de homens atormentados em paisagens inóspitas: é no encalço de Sjöstrom que a cinematografia sueca constrói sua identidade.
"Ingeborg Holm" é a história de uma mulher que perde tudo, o marido, os filhos, a dignidade, a razão... só não perde o seu "coração materno". Desde o princípio, Sjöstrom afirma a originalidade de seu olhar sobre a tradição do melodrama oitocentista. Se opera no mesmo registro de seus contemporâneos é para daí extrair um humanismo todo particular, como o libelo contra o abuso de poder do Estado na assistência social em que "Ingeborg" resulta.
Um humanismo de caminhos tão improváveis quanto o do velho usurário que, apaixonado, descobre a duras penas, em "Garantia Perigosa", o que é a generosidade; ou o da virgem tuberculosa e pia que, em "Carruagem", quer salvar o ébrio por quem está inconscientemente apaixonada.
Com "Terje Vigen" e "O Fora-da-Lei e sua Mulher", filmes em que cria um contraponto entre os sentimentos dos personagens e o contexto natural, Sjöstrom consolida a escola sueca, cuja grande obra-prima é "O Vento e a Areia", da fase hollywoodiana do diretor. O fracasso comercial condenaria Sjöstrom ao injusto e precoce esquecimento que a indústria do cinema sonoro reservou a alguns dos grandes gênios do silêncio.
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Retrospectiva homenageia gênio de Sjöstrom na 29ª Mostra
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Crítico da Folha de S.Paulo
Ele foi o realizador de alguns dos mais belos filmes do mundo, mas sua obra, perdida parcialmente em um incêndio, nunca mais será conhecida em sua totalidade. Ele fez a história do cinema, mas acabou esquecido por ela. O tempo já foi implacável com Victor Sjöstrom, mas hoje, como prova a retrospectiva 29ª Mostra de Cinema, ele corre a seu favor.
O cinema falado não lhe deu voz, mas o silêncio de Sjöstrom revelou-se eloqüente: quase um século depois, os seus filmes mudos são ainda capazes de nos partir o coração --obras como "Ingeborg Holm" (1913) e "A Carruagem Fantasma"(1921), que Ingmar Bergman costuma rever todos os anos na ilha de Farö.
Para quem não conhecia Sjöstrom senão como o velho ator de "Morangos Silvestres", a retrospectiva é oportunidade única para conferir as mil faces desse artista, em obras que atestam a perenidade de seu talento tanto diante como atrás das câmeras.
Dramas de famílias arruinadas, corroídas pela fome e pelo preconceito, histórias de maridos relapsos prontos a se redimir, retratos de homens atormentados em paisagens inóspitas: é no encalço de Sjöstrom que a cinematografia sueca constrói sua identidade.
"Ingeborg Holm" é a história de uma mulher que perde tudo, o marido, os filhos, a dignidade, a razão... só não perde o seu "coração materno". Desde o princípio, Sjöstrom afirma a originalidade de seu olhar sobre a tradição do melodrama oitocentista. Se opera no mesmo registro de seus contemporâneos é para daí extrair um humanismo todo particular, como o libelo contra o abuso de poder do Estado na assistência social em que "Ingeborg" resulta.
Um humanismo de caminhos tão improváveis quanto o do velho usurário que, apaixonado, descobre a duras penas, em "Garantia Perigosa", o que é a generosidade; ou o da virgem tuberculosa e pia que, em "Carruagem", quer salvar o ébrio por quem está inconscientemente apaixonada.
Com "Terje Vigen" e "O Fora-da-Lei e sua Mulher", filmes em que cria um contraponto entre os sentimentos dos personagens e o contexto natural, Sjöstrom consolida a escola sueca, cuja grande obra-prima é "O Vento e a Areia", da fase hollywoodiana do diretor. O fracasso comercial condenaria Sjöstrom ao injusto e precoce esquecimento que a indústria do cinema sonoro reservou a alguns dos grandes gênios do silêncio.
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