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26/10/2005 - 09h29

"Candide", de Voltaire, estréia na sexta no Teatro Municipal

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JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

François-Marie Arouet (1694-1778), que tinha por pseudônimo Voltaire, escreveu uma obra conhecida em português como "Cândido ou o Otimismo". Narra a história do jovem Candide, lançado ao mundo das infelicidades com o olhar róseo que lhe foi dado por Pangloss, seu tutor.

Esse clássico do século 18 tem um longo percurso no teatro, no cinema --a história foi cinco vezes filmada. Na música, tornou-se em 1956 uma mistura de ópera e musical pelas mãos do regente e compositor americano Leonard Bernstein (1918-1990).

É esse o "Candide" que estréia sexta-feira no Teatro Municipal, com cinco récitas que trazem a direção musical de José Maria Florêncio e a direção cênica de Jorge Takla. A produção foi emprestada do Municipal do Rio, que a estreou em outubro de 2000.

Bernstein é um monumento de perfil singular dentro da música americana. Foi um grande pianista. E um magnífico maestro --o primeiro americano a reger as grandes orquestras européias. Como regente da Filarmônica de Nova York, relançou em 1960 o saudável modismo das sinfonias e canções de Gustav Mahler. Escreveu duas sinfonias, música de câmara, uma "Missa", peças judaicas e 14 peças para teatro musical.

"Candide", de 1956, foi uma delas, a segunda mais conhecida, depois de "West Side Story", estreada no ano seguinte. "Candide" teve quatro versões que o próprio compositor supervisionou.

A primeira delas --que estreou em outubro de 1956, em Boston-- é a mais politizada. A libretista Lillian Hellman, figura proeminente da esquerda americana, usou Voltaire como escudo para espetar o senador Joseph MacCarthy, aquele paranóico que comandou a caça às bruxas supostamente simpatizantes do comunismo nos Estados Unidos.

Essa versão não é mais encenada. Aquela em definitivo autorizada por Bernstein foi a quarta versão, de 1988. Estreou na Escócia e traz libreto bem menos politizado de Hugh Wheeler. É esta que o
Municipal estará apresentando.

Pangloss (interpretado pelo barítono Sandro Christopher) é um dos mais curiosos personagens de Voltaire. Mantém seu olímpico otimismo, apesar de uma sucessão de tragédias pessoais, como a doença venérea --no século 18 bem mais incômoda e mortal-- e de um quase enforcamento.

Cunegunda, a prima amada de Candide (interpretada pela soprano Rosana Lamosa), tem de tudo para não dar certo. É estuprada por militares búlgaros e escravizada por um príncipe da Transilvânia. Rivaliza em desventuras com a Velha Senhora (a mezzo Regina Elena Mesquita), filha natural do papa Urbano 10º, vitimada pelas vicissitudes sexuais e pelo canibalismo de soldados.

Nesse universo humano circula o próprio Candide (o tenor Fernando Portari), cujo mérito é não sucumbir ao cinismo e ao desencanto. Emudecido por algum tempo, ele volta a abrir a boca para se unir à sofrida Cunegunda, a quem trata como se ela ainda fosse uma intocada donzela. Em definitivo, é um belo otimista.

A produção que estréia em São Paulo é teatralmente engenhosa. Telões substituem o cenário, e o coro permanece sentado no palco e divide o espaço cênico com os cantores e oito bailarinos. Outra particularidade inusitada: o libreto foi traduzido para o português, por Cláudio Botelho.

O diretor cênico Jorge Takla qualifica a produção de "concerto cênico", uma espécie de contradição nos termos. Mas isso em razão da versão final de "Candide" que o próprio Bernstein qualificou de seu "testamento" e que era para concerto, misturada ao fato de, já na produção de 2000, no Rio, a orquestra ter ido para o fosso e ter liberado o palco para os cantores, o coro e os bailarinos.

A montagem paulistana, diz Takla, está ainda mais teatral. Em lugar de 12, são agora 65 figurinos. A ampliação foi estimulada pelo diretor do Teatro Municipal, Jamil Maluf. E segue a idéia de substituição dos cenários por painéis.

Em suma, um espetáculo que tira todo o proveito da associação de Voltaire com Bernstein.

Candide
Quando: sex. e dias 1º, 3 e 5, às 20h30; dia 30, às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo s/nº, centro, tel. 0/xx/11/3222-8698
Quanto: de R$ 40 a R$ 80

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