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29/10/2005
-
16h45
BEATRIZ PERES
da Folha de S.Paulo
Ligeiramente decepcionada com a descoberta das verdadeiras intenções de um estranho que a rondava havia algum tempo, Céline diz a ele: "Pensei que você estivesse apaixonado por mim". E encerra o assunto sem que ele possa argumentar: "Eu vou demais ao cinema".
O pessimismo não se deixa esconder em "O Inferno", novo filme do diretor bósnio Danis Tanovic, 36, exibido nesta 29ª Mostra de Cinema. É o mesmo que estava presente em "Terra de Ninguém" (2000, sucesso internacional, premiado em Cannes, no Globo de Ouro, no Oscar e na própria Mostra de SP). Mas Tanovic discorda completamente: "O inferno está na sua cabeça, e o pessimismo está no seu olhar".
Pode ser. De toda maneira, a diferença entre os filmes está apenas no registro: a alegoria absurda que colocava na mesma trincheira dois soldados de lados opostos foi substituída por um melodrama familiar com referências ao mito grego de Medéia (que matou seus próprios filhos para contrariar o marido traidor) e discussões sobre destino e coincidência.
À história: nos anos 80, um homem sai da prisão e é rejeitado pela mulher. Ela não quer que ele veja mais as filhas, o casal briga violentamente, e ele comete suicídio. Na Paris atual, Céline, Sophie e Anne são as três irmãs que vivem seus próprios infernos.
Céline (Karin Viard), solitária e desconfiada do mundo, é a única que visita regularmente a mãe (Carole Bouquet), muda e presa a uma cadeira de rodas, num hospital fora da cidade. Sophie (Emmanuelle Béart) tem dois filhos com o marido (Jacques Gamblin), mas acredita que esteja sendo traída por ele. A mais nova, Anne (Marie Gillain), vive às voltas com o fim de um caso com um professor casado (Jacques Perrin).
Assinado por Krzysztof Piesiewicz, o roteiro integra um projeto de trilogia do polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996) livremente inspirado na obra de Dante Alighieri (1265-1321). A primeira parte, "Paraíso", do alemão Tom Tykwer ("Corra, Lola, Corra"), foi exibida na Mostra de 2002.
Pela primeira vez em São Paulo, Tanovic falou à Folha em entrevista tensa ("não vou te dar mais do que meia hora"), regada a café ("vocês têm o melhor do mundo, mas não para exportação. Guardam apenas para vocês").
Folha - Por que você escolheu "Inferno"?
Danis Tanovic - Da primeira vez que li o roteiro, cinco anos atrás, quis fazer "Purgatório", porque trata da guerra, e eu estava fazendo um filme sobre guerra. No ano passado, minha agente me ligou com o roteiro de "O Inferno", de que eu gostei mais. Simples assim.
Folha - Você pretende fazer a última parte da trilogia também?
Tanovic - Não. Eu normalmente faço meus próprios filmes, essa foi a primeira vez em que trabalhei com o projeto de outra pessoa. Eu gostei do outro roteiro também, mas não filmaria. Um dia você gosta de uma coisa, dois anos depois não gosta mais. É humano.
Folha - Você acha "O Inferno" um filme pessimista?
Tanovic - Não, é como "Terra de Ninguém". Para os pessimistas, as coisas nunca podem ser piores, para os otimistas, elas podem [risos]. Talvez você seja uma pessoa pessimista. No fim, a família, que deveria estar completamente destruída, se reúne, e as irmãs tentam fazer algo a respeito. Talvez seja tarde demais. Talvez não.
Folha - Você se preocupou com as expectativas depois do sucesso de "Terra de Ninguém"?
Tanovic - Eu não ligo para isso. Só me preocupo com as expectativas da minha mulher [risos]. Nunca vou repetir o sucesso de "Terra de Ninguém": antes dele, eu não era nada; dois dias depois, eu estava em todos os jornais.
Folha - Você odeia entrevistas?
Tanovic - Mais ou menos. Acho que não há nada a ser dito sobre "O Inferno", ele fala por si. Não consigo dizer por que fiz "O Inferno", por exemplo. Porque era feminino, completamente diferente, falava sobre família...
Folha - Você acredita no Paraíso?
Tanovic - Eu acredito no Inferno e no Paraíso juntos aqui na Terra.
O Inferno
Direção: Danis Tanovic
Quando: hoje, às 18h30, na Sala UOL; e dias 31, às 22h, no Frei Caneca Arteplex; 1º, às 22h, no Espaço Unibanco
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"O Inferno está na sua cabeça", diz diretor bósnio Danis Tanovic
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da Folha de S.Paulo
Ligeiramente decepcionada com a descoberta das verdadeiras intenções de um estranho que a rondava havia algum tempo, Céline diz a ele: "Pensei que você estivesse apaixonado por mim". E encerra o assunto sem que ele possa argumentar: "Eu vou demais ao cinema".
O pessimismo não se deixa esconder em "O Inferno", novo filme do diretor bósnio Danis Tanovic, 36, exibido nesta 29ª Mostra de Cinema. É o mesmo que estava presente em "Terra de Ninguém" (2000, sucesso internacional, premiado em Cannes, no Globo de Ouro, no Oscar e na própria Mostra de SP). Mas Tanovic discorda completamente: "O inferno está na sua cabeça, e o pessimismo está no seu olhar".
Pode ser. De toda maneira, a diferença entre os filmes está apenas no registro: a alegoria absurda que colocava na mesma trincheira dois soldados de lados opostos foi substituída por um melodrama familiar com referências ao mito grego de Medéia (que matou seus próprios filhos para contrariar o marido traidor) e discussões sobre destino e coincidência.
À história: nos anos 80, um homem sai da prisão e é rejeitado pela mulher. Ela não quer que ele veja mais as filhas, o casal briga violentamente, e ele comete suicídio. Na Paris atual, Céline, Sophie e Anne são as três irmãs que vivem seus próprios infernos.
Céline (Karin Viard), solitária e desconfiada do mundo, é a única que visita regularmente a mãe (Carole Bouquet), muda e presa a uma cadeira de rodas, num hospital fora da cidade. Sophie (Emmanuelle Béart) tem dois filhos com o marido (Jacques Gamblin), mas acredita que esteja sendo traída por ele. A mais nova, Anne (Marie Gillain), vive às voltas com o fim de um caso com um professor casado (Jacques Perrin).
Assinado por Krzysztof Piesiewicz, o roteiro integra um projeto de trilogia do polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996) livremente inspirado na obra de Dante Alighieri (1265-1321). A primeira parte, "Paraíso", do alemão Tom Tykwer ("Corra, Lola, Corra"), foi exibida na Mostra de 2002.
Pela primeira vez em São Paulo, Tanovic falou à Folha em entrevista tensa ("não vou te dar mais do que meia hora"), regada a café ("vocês têm o melhor do mundo, mas não para exportação. Guardam apenas para vocês").
Folha - Por que você escolheu "Inferno"?
Danis Tanovic - Da primeira vez que li o roteiro, cinco anos atrás, quis fazer "Purgatório", porque trata da guerra, e eu estava fazendo um filme sobre guerra. No ano passado, minha agente me ligou com o roteiro de "O Inferno", de que eu gostei mais. Simples assim.
Folha - Você pretende fazer a última parte da trilogia também?
Tanovic - Não. Eu normalmente faço meus próprios filmes, essa foi a primeira vez em que trabalhei com o projeto de outra pessoa. Eu gostei do outro roteiro também, mas não filmaria. Um dia você gosta de uma coisa, dois anos depois não gosta mais. É humano.
Folha - Você acha "O Inferno" um filme pessimista?
Tanovic - Não, é como "Terra de Ninguém". Para os pessimistas, as coisas nunca podem ser piores, para os otimistas, elas podem [risos]. Talvez você seja uma pessoa pessimista. No fim, a família, que deveria estar completamente destruída, se reúne, e as irmãs tentam fazer algo a respeito. Talvez seja tarde demais. Talvez não.
Folha - Você se preocupou com as expectativas depois do sucesso de "Terra de Ninguém"?
Tanovic - Eu não ligo para isso. Só me preocupo com as expectativas da minha mulher [risos]. Nunca vou repetir o sucesso de "Terra de Ninguém": antes dele, eu não era nada; dois dias depois, eu estava em todos os jornais.
Folha - Você odeia entrevistas?
Tanovic - Mais ou menos. Acho que não há nada a ser dito sobre "O Inferno", ele fala por si. Não consigo dizer por que fiz "O Inferno", por exemplo. Porque era feminino, completamente diferente, falava sobre família...
Folha - Você acredita no Paraíso?
Tanovic - Eu acredito no Inferno e no Paraíso juntos aqui na Terra.
O Inferno
Direção: Danis Tanovic
Quando: hoje, às 18h30, na Sala UOL; e dias 31, às 22h, no Frei Caneca Arteplex; 1º, às 22h, no Espaço Unibanco
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