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09/11/2005
-
18h24
PAUL RICARD
da France Presse, em Paris
O rapper Disiz La Peste, originário de um subúrbio de Paris, pede o fim da violência que sacode a França há 13 dias. Evitando maniqueísmos, ele defende o diálogo entre os jovens que sofrem segregação e o resto da sociedade francesa.
"Gostaria de dizer a estes jovens que parem com a violência: queimar carros, escolas, faz mal a nós. Corremos o risco de voltar contra nós os operários, os proletários dos subúrbios, que vão ter reações normais de medo", disse o rapper de 27 anos.
Um dos destaques do hip-hop francês, seu último álbum, "Les Histoires Extra-Ordinaires D'un Jeune De Banlieue" (Histórias Extraordinárias de um Jovem do Subúrbio, Barclay/Universal), foi lançado três dias antes do início dos primeiros atos de violência em Clichy-sous-Bois (periferia de Paris).
"Ao invés disto, eu convocaria marchas pacíficas em Paris. Gandhi e Martin Luther King mudaram as coisas pacificamente", sugere. Apesar de "não desculpar a violência", Disiz La Peste, filho de pai senegalês e mãe francesa, afirma que "existem razões" para ela, a começar pela discriminação.
"Os problemas existem há muito tempo. Eu cresci na França com uma mãe branca, de olhos verdes, mas quando era mais jovem e me apresentava em uma empresa para procurar trabalho, não viam em mim meu lado francês", lembra Disiz, cujo nome de batismo é Sérigne M'Baye.
"Depois, passava o tempo na rua, no portão de casa. Alguns começam, assim, a se tornar prisioneiros do portão, do haxixe, perdem todos os sonhos e acabam se rendendo", diz. "Isto é o que eu reprovo naqueles que nos deixaram à margem de tudo, mas reprovo também coisas naqueles que vivem nos subúrbios", afirma, denunciando uma certa "demagogia da rua".
"Ir ao Senegal pela primeira vez aos 19 anos mudou minha visão sobre os subúrbios. É uma sorte estar na França, mesmo que tudo seja mais difícil para nós e não haja igualdade de oportunidades", afirma.
"É preciso resolver os problemas de fundo. A França tem que aprender a pedir perdão porque existe uma ferida aberta na comunidade da terceira geração nascida da imigração relativa à colonização na África. Mas os jovens têm que aprender também a agradecer, a dizer que estar na França é uma sorte", acrescenta.
O cantor sustenta que "é preciso revalorizar os jovens dos subúrbios, é preciso que haja mais representatividade na televisão, na política ou nos cargos importantes. Somos filhos da República com o mesmo direito dos outros, que têm que nos aceitar como somos". "Deve-se ouvir estes jovens", insiste.
Disiz diz não ter ficado escandalizado com a instauração do toque de recolher nos subúrbios, o contrário, mas sim com a decisão do governo francês de reduzir para 14 anos (ao invés de 16, como é hoje) a idade de escolarização obrigatória. "Isso nos marginaliza ainda mais, nos distancia da escola", afirma o artista, a quem "a leitura ajudou muito".
Perguntado sobre as duras palavras usadas pelo ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, entre elas "escória", o rapper considera que este "é um falso problema, de semântica". "Ele deve dar o exemplo, mas trocar o ministro não resolverá os problemas de fundo, não fará com que consigamos trabalho ou tenhamos mais representatividade", avalia.
Disiz La Peste, cujo álbum tem o mesmo discurso comedido, espera que outras personalidades advindas do subúrbio tomem posição frente aos acontecimentos atuais. "E não apenas os jogadores de futebol ou rappers", afirma.
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Rapper pede fim da violência em Paris
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da France Presse, em Paris
O rapper Disiz La Peste, originário de um subúrbio de Paris, pede o fim da violência que sacode a França há 13 dias. Evitando maniqueísmos, ele defende o diálogo entre os jovens que sofrem segregação e o resto da sociedade francesa.
"Gostaria de dizer a estes jovens que parem com a violência: queimar carros, escolas, faz mal a nós. Corremos o risco de voltar contra nós os operários, os proletários dos subúrbios, que vão ter reações normais de medo", disse o rapper de 27 anos.
Um dos destaques do hip-hop francês, seu último álbum, "Les Histoires Extra-Ordinaires D'un Jeune De Banlieue" (Histórias Extraordinárias de um Jovem do Subúrbio, Barclay/Universal), foi lançado três dias antes do início dos primeiros atos de violência em Clichy-sous-Bois (periferia de Paris).
"Ao invés disto, eu convocaria marchas pacíficas em Paris. Gandhi e Martin Luther King mudaram as coisas pacificamente", sugere. Apesar de "não desculpar a violência", Disiz La Peste, filho de pai senegalês e mãe francesa, afirma que "existem razões" para ela, a começar pela discriminação.
"Os problemas existem há muito tempo. Eu cresci na França com uma mãe branca, de olhos verdes, mas quando era mais jovem e me apresentava em uma empresa para procurar trabalho, não viam em mim meu lado francês", lembra Disiz, cujo nome de batismo é Sérigne M'Baye.
"Depois, passava o tempo na rua, no portão de casa. Alguns começam, assim, a se tornar prisioneiros do portão, do haxixe, perdem todos os sonhos e acabam se rendendo", diz. "Isto é o que eu reprovo naqueles que nos deixaram à margem de tudo, mas reprovo também coisas naqueles que vivem nos subúrbios", afirma, denunciando uma certa "demagogia da rua".
"Ir ao Senegal pela primeira vez aos 19 anos mudou minha visão sobre os subúrbios. É uma sorte estar na França, mesmo que tudo seja mais difícil para nós e não haja igualdade de oportunidades", afirma.
"É preciso resolver os problemas de fundo. A França tem que aprender a pedir perdão porque existe uma ferida aberta na comunidade da terceira geração nascida da imigração relativa à colonização na África. Mas os jovens têm que aprender também a agradecer, a dizer que estar na França é uma sorte", acrescenta.
O cantor sustenta que "é preciso revalorizar os jovens dos subúrbios, é preciso que haja mais representatividade na televisão, na política ou nos cargos importantes. Somos filhos da República com o mesmo direito dos outros, que têm que nos aceitar como somos". "Deve-se ouvir estes jovens", insiste.
Disiz diz não ter ficado escandalizado com a instauração do toque de recolher nos subúrbios, o contrário, mas sim com a decisão do governo francês de reduzir para 14 anos (ao invés de 16, como é hoje) a idade de escolarização obrigatória. "Isso nos marginaliza ainda mais, nos distancia da escola", afirma o artista, a quem "a leitura ajudou muito".
Perguntado sobre as duras palavras usadas pelo ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, entre elas "escória", o rapper considera que este "é um falso problema, de semântica". "Ele deve dar o exemplo, mas trocar o ministro não resolverá os problemas de fundo, não fará com que consigamos trabalho ou tenhamos mais representatividade", avalia.
Disiz La Peste, cujo álbum tem o mesmo discurso comedido, espera que outras personalidades advindas do subúrbio tomem posição frente aos acontecimentos atuais. "E não apenas os jogadores de futebol ou rappers", afirma.
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