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26/10/2000
-
05h05
da Folha de S.Paulo
Talvez aconteça um pouco tarde o encontro entre luminares do conceitualismo tropicalista, de um lado, e do formalismo do clube da
esquina, do outro. Ao procurar contornar o choque criativo que tal encontro poderia provocar, "Gil-Milton" promove, menos que o intercâmbio de experiências distintas e complementares, um tímido tratado de temas antigos.
Em parte, isso resulta da opção de Gilberto Gil em se submeter aos modos de pop-jazz mineiro de Milton, por reverência (como ele próprio define) ou por vontade de absorção.
Milton transparece à frente em "Gil-Milton", e o universo pós-tropicalista sempre proposto por Gil parece agora se restringir à obra de despurificar todas as formas de canção.
É assim que experiências desafiadoras de outros tempos se encolhem ao converter "Something" (70), dos Beatles, em reggae, ou "Xica da Silva" (76), de Jorge Ben, em rock latino à Carlos Santana. Ex-rock-balada e ex-samba-rock, tais canções ficam bem menos fluentes assim.
Os adolescentes mais queridos do mercadão Sandy e Júnior são eleitos como o futuro na inédita "Duas Sanfonas" e só concorrem com sua correção política de butique para aumentar a barafunda que já empilhava na faixa música caipira, música sertaneja e forró. As canções vão se consumando não impuras, mas confusas.
Vem "Lar Hospitalar", um híbrido que se pretende canção de protesto -mas protesto vindo da situação, do narrador acomodando reclamando de uma "outra metade" que quer tomar seu poder. É confusa, de novo.
Mas "Gil-Milton" é límpido em momentos supostamente confusos. É o que ocorre em "Trovoada", em que se justapõem duas canções distintas, uma de Gil e outra de Milton. O conflito de pontos de vista se estabelece, pode-se comparar a contribuição de cada um deles, a diferença pregada assoma e se agiganta.
Também nitidamente se demonstra que a diferença já foi semelhança antes do resto, nas belas releituras de "Canção do Sal" (Milton, 66) e "Bom-Dia" (Gil, 67). "Dinamarca" parece outro ponto de encontro para marinheiros de barcos ímpares e se destaca entre as inéditas.
"Maria" (Ary Barroso), "Dora" (Caymmi) e "Baião da Garoa" (Luiz Gonzaga) são relidas com solenidade, como se Gil e Milton fossem velhos artesãos de antigas canções. Bem, eles são.
(PAS)
Gil-Milton
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 20, em média
Leia mais notícias de Ilustrada na Folha Online
Crítica: "Gil-Milton namora temas antigos
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Talvez aconteça um pouco tarde o encontro entre luminares do conceitualismo tropicalista, de um lado, e do formalismo do clube da
esquina, do outro. Ao procurar contornar o choque criativo que tal encontro poderia provocar, "Gil-Milton" promove, menos que o intercâmbio de experiências distintas e complementares, um tímido tratado de temas antigos.
Em parte, isso resulta da opção de Gilberto Gil em se submeter aos modos de pop-jazz mineiro de Milton, por reverência (como ele próprio define) ou por vontade de absorção.
Milton transparece à frente em "Gil-Milton", e o universo pós-tropicalista sempre proposto por Gil parece agora se restringir à obra de despurificar todas as formas de canção.
É assim que experiências desafiadoras de outros tempos se encolhem ao converter "Something" (70), dos Beatles, em reggae, ou "Xica da Silva" (76), de Jorge Ben, em rock latino à Carlos Santana. Ex-rock-balada e ex-samba-rock, tais canções ficam bem menos fluentes assim.
Os adolescentes mais queridos do mercadão Sandy e Júnior são eleitos como o futuro na inédita "Duas Sanfonas" e só concorrem com sua correção política de butique para aumentar a barafunda que já empilhava na faixa música caipira, música sertaneja e forró. As canções vão se consumando não impuras, mas confusas.
Vem "Lar Hospitalar", um híbrido que se pretende canção de protesto -mas protesto vindo da situação, do narrador acomodando reclamando de uma "outra metade" que quer tomar seu poder. É confusa, de novo.
Mas "Gil-Milton" é límpido em momentos supostamente confusos. É o que ocorre em "Trovoada", em que se justapõem duas canções distintas, uma de Gil e outra de Milton. O conflito de pontos de vista se estabelece, pode-se comparar a contribuição de cada um deles, a diferença pregada assoma e se agiganta.
Também nitidamente se demonstra que a diferença já foi semelhança antes do resto, nas belas releituras de "Canção do Sal" (Milton, 66) e "Bom-Dia" (Gil, 67). "Dinamarca" parece outro ponto de encontro para marinheiros de barcos ímpares e se destaca entre as inéditas.
"Maria" (Ary Barroso), "Dora" (Caymmi) e "Baião da Garoa" (Luiz Gonzaga) são relidas com solenidade, como se Gil e Milton fossem velhos artesãos de antigas canções. Bem, eles são.
(PAS)
Gil-Milton
Lançamento: WEA
Quanto: R$ 20, em média
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