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21/11/2005 - 09h34

Chick Corea faz turnê pelo Brasil

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RONALDO EVANGELISTA
da Folha de S.Paulo

Chick Corea é daqueles artistas que fazem música além das 88 teclas do piano que tocam. Sempre interessado em dizer e mostrar mais do que fazer o que se espera dele, é um dos grandes pianistas modernos dos últimos 40 anos, um dos que criaram as bases de tudo o que consideramos inovador até os dias de hoje.

Tocando profissionalmente desde os anos 60, se encontrou completamente tocando com o trompetista Miles Davis em sua fase mais ousada.

É dele o piano elétrico em álbuns como "Bitches Brew" e "In a Silent Way", que inventaram a última grande revolução do jazz, a fase elétrica da fusion, no começo da década de 70.

Dali, Corea experimentou com música de vanguarda, erudita, formações acústicas, sintetizadores, duos de piano e ritmos latinos, entre outras coisas, com grupos como Circles, Return to Forever, Elektric Band, Akoustic Band e Origin.

Atualmente, se juntou a três músicos da banda que acompanha o violonista Paco de Lucia (inclusive um brasileiro, Rubem Dantas), além de um baterista norte-americano, e tem usado o flamenco como ponto de partida do grupo Touchstone, com o qual se apresenta no Brasil no próximo dia 25, no Tom Brasil. Por telefone, entre um show e outro do Touchstone na Espanha, ele conversou com a Folha.

Folha - O trabalho do Touchstone pode ser considerado uma releitura jazz do flamenco?

Chick Corea - Para mim, a única maneira de ser livre musicalmente é esquecendo completamente os nomes e gêneros e tocando como nos sentimos. Então não estou tentando fazer música que seja flamenco ou jazz ou clássica ou qualquer coisa. Estou tentando criar um sentimento no grupo onde todo mundo tenta criar algo novo, um som novo. Eu escrevi agora músicas novas que eu não sei como classificar, você é que vai ter de me dizer. Quando você ouvir, você me diz o que acha.

Folha - Você é um artista que já experimentou muitos estilos. Isso é uma maneira de buscar a si mesmo dentro de coisas diferentes?

Corea - A música é uma atividade onde nós usamos a imaginação, isso é uma sensação muito boa. Quando usamos a imaginação, não há regras. Não há regras sobre estilos e como combiná-los. Minha vida inteira eu apenas segui os meus interesses. Quando eu me interesso por algo, eu tento aprender aquilo bem, e aí tudo o que eu faço se torna meu.

Folha - Mas especificamente o seu interesse por música latina já é antigo, certo?

Corea - Ah, sim. Toda minha vida eu tive interesse na cultura dos países de língua espanhola. Por alguma razão, sempre tive um profundo interesse nas culturas sul-americanas, mexicanas, cubanas, espanholas. Eu gosto da música, gosto do espírito, é tudo uma fonte de inspiração para mim.

Folha - E a música brasileira?

Corea - Também é parte de meus interesses. Um dos primeiros músicos com quem toquei, quando ainda era bem jovem, foi Airto Moreira e também Flora Purim. Eu amo muitas coisas da música brasileira, como por exemplo o legado de Tom Jobim. E João Gilberto. Esse tipo de música tem uma tradição muito rica, e há também a profunda tradição da música brasileira de Carnaval, o samba. E vocês têm um músico no Brasil que é um de meus favoritos, Hermeto Pascoal. Sem falar nos compositores eruditos. O Brasil é muito rico musicalmente.

Folha - Você que já trabalhou com música norte-americana, brasileira e espanhola. Consegue dizer as principais diferenças entre elas?

Corea - Acho que mais interessante seria dizer as semelhanças. Há milhões de diferenças, mas algumas semelhanças. Música é algo criativo, todas as pessoas do mundo têm um impulso para a beleza, para criar algo belo. Mesmo quem não é artista profissional tem o seu gosto em beleza e arte, então é algo natural e universal. Esta é a principal semelhança, todo mundo tem seu gosto e uma opinião sobre o que gosta e o que não gosta. Essa é a semelhança entre todas as músicas, a tentativa do artista de encontrar algo belo.

Folha - Isso é o que liga todas as coisas diferentes que você fez em sua carreira?

Corea - Claro, é como respirar, não dá para evitar. Mesmo que você não pense nisso, você ainda precisa respirar. Com a vida de todos também é assim, mesmo que você não pense nisso, tem coisas que você gosta e coisas que você não gosta.

Folha - Ouvi dizer que o seu próximo disco, que será lançado em fevereiro, é baseado em um livro?

Corea - Sim, o nome é "The Ultimate Adventure". Eu gravei com o Touchstone e mais alguns convidados, como Hubert Laws e Steve Gadd. Nós vamos tocar algumas coisas desse trabalho no Brasil. É como um poema sinfônico inspirado no ficção fantástica do autor L. Ron Hubbard, que é um dos grandes autores de "pulp fiction" dos anos 30 e 40. Já é meu segundo projeto com inspiração no trabalho dele. O pano de fundo do livro são "As Mil e Uma Noites", então a atmosfera tem uma conexão com o clima da banda, uma mistura de sul da Espanha com norte da África com Arábia.

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