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23/11/2005 - 09h26

Padrinho e afilhado do samba lançam CD

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LUIZ FERNANDO VIANNA
da Folha de S.Paulo, no Rio

Luiz Carlos da Vila espera Martinho, também da Vila, sair da sala para falar ao repórter: "Não liga não, mas não consigo ficar à vontade ao lado dele. Ainda vejo o Martinho como ídolo". Feita com o jeito divertido do sambista, a confidência surpreende porque já faz duas décadas que Luiz Carlos é bem mais do que um afilhado do "da Vila" mais famoso.

É verdade que são patamares profissionais diferentes, como mostram os CDs ao vivo que os dois estão lançando neste mês. Enquanto "Brasilatinidade ao Vivo", 36º disco de Martinho, tem uma grande estrutura, "Um Cantar à Vontade", oitavo de Luiz Carlos, recupera por um selo pequeno um show de 2001.

Mas, para quem conhece o trabalho do autor de "O Sonho Não Acabou" ("A chama não se apagou/ Nem se apagará/ És luz de eterno fulgor/ Candeia") e co-autor de "O Show Tem que Continuar" ("E a gente vai ser feliz/ Olha nós outra vez no ar/ O show tem que continuar"), Luiz Carlos, 56, já está entre os grandes.

"Ele cria imagens muito diferentes. Mas não é só um grande letrista. Também tem uma musicalidade fora do comum", exalta Martinho, 67.

Ele conhece o amigo e parceiro (em "Graça Divina", "Bem no Coração" e outras) desde 1977, quando Luiz Carlos ganhou um concurso na Unidos de Vila Isabel e o direito de integrar a ala dos compositores da escola de samba. Ele já era "da Vila", mas da Vila da Penha, bairro da zona norte carioca onde nasceu e ainda vive.

Virou "das Vilas", como brincam os amigos, e ganhou a disputa de samba-enredo para o Carnaval de 1979. Só voltaria a vencer uma outra vez, mas para entrar na história: com "Kizomba - A Festa da Raça", Luiz Carlos (ao lado de Jonas e Rodolpho, tradicionais compositores da escola) fez em 1988 um dos maiores de todos os sambas-enredo, levando à vitória uma idéia de Martinho.

"Naquele ano eu pus minha [então] mulher [Licia Caniné, a Ruça] como presidente, escolhi o samba, fiz tudo do meu jeito. Foi uma grande vitória, inclusive do movimento negro. Mas não conseguimos mudar totalmente o Carnaval. Se antigamente você saía de um desfile buscando uma boa idéia para o outro ano, hoje sai buscando um bom patrocinador", ri/lamenta Martinho.

"Kizomba", com seu grito "Valeu, Zumbi", abre o CD de Luiz Carlos, que vem sendo lançado em shows no Carioca da Gema, no Rio, às quartas-feiras de novembro. Uma vinheta de "Sonho de um Sonho", um dos muitos sambas-enredo compostos por Martinho, abre "Brasilatinidade ao Vivo", que ganha temporada de sexta-feira a domingo no Canecão, no Rio.

E os dois feiticeiros da Vila, a escola, se uniram meio que por acaso neste ano para concorrer ao Carnaval de 2005. Incrivelmente, a dupla perdeu.

"Agora acabou, né?", pergunta Luiz Carlos ao amigo. Desde a derrota do ano passado, Luiz Carlos não queria mais disputar, mas Martinho o convenceu.

"Acabou. Meu sonho é não desfilar na ala dos compositores, na diretoria, mas como um folião anônimo em uma ala qualquer", imagina Martinho.

Mas Martinho José Ferreira e Luiz Carlos Baptista não têm só a Vila como ponto de contato. Ambos, por exemplo, integraram o Quilombo, centro cultural e escola de samba criado por Candeia em 1975. E foi Martinho quem deu o empurrão na carreira de Luiz Carlos, produzindo seu primeiro disco, em 1983, e participando de um show no molde famoso-apresenta-desconhecido.

"Queriam pôr outras pessoas, mas eu disse que queria o Martinho como o padrinho. E não que é que ele desistiu de uma temporada e foi fazer o show comigo?", espanta-se o afilhado, reverente.
Há outras e mais sutis familiaridades. Mas, para ficar em uma bem atual, Martinho interpretou a sua canção "Camafeu" para o disco "Matrizes", que Luiz Carlos está lançando nesta semana. O CD também é capitaneado por Cláudio Jorge, músico que integra a banda de Martinho. Nessa roda de samba, tudo se encadeia.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Martinho da Vila
  • Leia o que já foi publicado sobre Luiz Carlos da Vila
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