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02/12/2005 - 09h38

Filme da Disney desencanta Harry Potter

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KARINA KLINGER
da Folha Online

Quatro crianças descobrem uma passagem secreta em um guarda-roupa que leva a um universo encantado ditatorialmente comandado por uma feiticeira do mal em "As crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa". Basicamente esta é a história da nova aposta da Disney, orçada em mais de US$ 150 milhões, para bater de frente com "Harry Potter e o Cálice de Fogo".

Estréia na próxima sexta, dia 9 de dezembro no Brasil o clássico do escritor e pensador irlandês Clive Staples Lewis (1898-1963). Embora escrita nos anos 50, a saga é atual e um bom motivo para as pessoas saírem de casa.

Dirigida por Andrew Adamson (vencedor do Oscar com "Shrek" e "Shrek 2"), a produção tem no elenco Georgie Henley, Skandar Keynes, William Moseley, Anna Popplewell, Tilda Swinton, James Mcavoy, entre outros.

Mesclando computação gráfica e trabalho de interpretação, o filme tem duas horas e meia de duração que passam num piscar de olhos. Tudo começa quando os quatro irmãos são obrigados a morar temporariamente na casa de um professor, amigo de seus pais, durante a Segunda Guerra Mundial. A mansão no campo é cheia de mistério e tem um de seus segredos desvendados durante uma brincadeira de esconde-esconde, quando atrás dos casacos de pele do armário, há uma passagem secreta.

Assim como J.R.R. Tolkien, responsável pela saga "O Senhor dos Anéis", Lewis também retrata viagens ao fim do mundo, batalhas épicas e uma série de criaturas fantásticas em seus livros, sempre tentando passar imagens positivas, muitas frutos de inspirações religiosas. O leão Aslan, protagonista da série, é visto como uma alegoria de Jesus Cristo construída pelo escritor, o animal sempre surge quando Nárnia está sendo ameaçada.

Assim como o sucesso "O Senhor dos Anéis", "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", a primeira história de uma série de sete volumes de Lewis adaptada para o cinema, é uma aventura com personagens de inspiração mitológica --cerca de 60 diferentes raças de criaturas foram desenvolvidas especialmente para a produção pelo ganhador do Oscar de Efeitos Visuais por "O Senhor dos Anéis", Richard Taylor.

Os esforços para evitar uma caricatura pouco convincente para o leão Aslan é um dos destaques do filme. Quando uma das crianças o acaricia, a cena parece real. Associado a qualidade técnica que os profissionais gráficos conseguiram na tela está a dublagem exemplar do ator Liam Neeson. No Brasil, quem assumiu este papel nas cópias dubladas foi o consagrado ator Paulo Goulart. Também não é preciso dizer que o ator brasileiro incorporou a sensibilidade do herói da trama.

O incrível é que as mesmo tempo em que Aslan é temível pelo próprio poder que representa, ele reserva uma personalidade sensível e delicada --particularidade que conquista não só as crianças, mas os adultos.

Apesar das metáforas cristãs que envolvem a trama, como quando Aslan ressuscita como Jesus após ser morto pela Feiticeira Branca, questiona-se muito qual seria o público alvo de Lewis.

Será que a forma como a guerra é mostrada e a violência fazem da saga algo pesado demais para o universo infantil?

Após assistir ao longa-metragem, a resposta é evidente. Diante da violência presente em videogames e filmes de ação que são apropriados para o público infantil, o filme da Disney lembra mais um conto de fadas moderno. E o mais importante é que o mundo imaginário de Nárnia reflete uma série de dilemas morais presentes no mundo real por meio de uma linguagem simples, universal e de fácil compreensão.

Os inúmeros centauros, minotauros, gigantes, sátiros, anões e animais falantes representam nada mais do que o tradicional batalha do bem contra o mal. A própria Feiticeira Branca, interpretada por Tilda Swinton ("Orlando"), é sinal de que o objetivo de Lewis nunca foi criar um cenário aterrorizante. A malévola, que condena Nárnia a um inverno gélico e cheio de desavenças, está bem distante das bruxas narigudas, cheia de verrugas que andam em sua vassouras voadoras em noites tenebrosas.

Por trás da história, o fato das crianças conseguirem lutar pela justiça e vencer em um mundo imaginário relaciona-se diretamente com o sentimento de impotência que dominava a Europa nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É como se na fantasia todos as famílias pudessem encontrar um poder, bem distante no mundo real.

Outro ponto que merece destaque na produção é a atuação da estreante Georgie Henley, 9 anos, a doce e pequena Lucia, a primeira criança a encontrar o mundo de Nárnia. Descoberta entre mais de 2.000 concorrentes, a experiência da jovem intérprete se resume a aulas de interpretação em um clube de teatro na cidade de Ilkley, em Yorkshire, onde mora. Se o Oscar tivesse algum prêmio na categoria infanto-juvenil a atriz certamente deveria receber uma indicação.

Também vale lembrar que as locações na Polônia, na República Tcheca, na Inglaterra e na Nova Zelândia foram muito bem escolhidas.

Em entrevistas Lewis nunca aceitou a idéia de ter uma de suas histórias transformadas em um filme ou produção de TV --algo que já foi feito pela BBC com uma série de fantoches.

Preocupado, o escritor não queria que os seus personagens fossem desvirtuados, tornando-se criaturas freqüentes em pesadelos dos tradicionais contos infantis.

Apesar de não estar aqui para revelar a sua opinião sobre a adaptação da Disney, o autor, que, em sua época, foi aclamado como um dos poucos com o dom de transformar a linguagem de suas histórias universais, não teria motivos para ir contra o longa-metragem.

A maldade foi tratada na obra com delicadeza --algo que o autor fez com maestria em suas histórias. Assim como Lewis Carroll, em "Alice no País das Maravilhas", Lewis traz um universo paralelo tão real que possibilita pensar que o surreal não está presente nos sonhos somente. O exemplo vem no desenrolar do destino do personagem Fauno, punido por seguir o melhor caminho.

No Brasil, a Disney exibirá nos cinemas 250 cópias dubladas e 150 legendadas. A classificação etária é de 10 anos.

Veja trailer do filme. As imagens também estão disponíveis no site oficial do longa.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre "As Crônicas de Nárnia"
  • Veja galeria de fotos do filme "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa"
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