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05/12/2005
-
09h49
JULIÁN FUKS
da Folha de S.Paulo
Diga-se de Haroldo de Campos que foi um poeta concretista e se terá uma verdade. Diga-se que o movimento literário que criou, junto com seu irmão Augusto e com Décio Pignatari, foi o único a extravasar as fronteiras brasileiras e, provavelmente, ninguém irá contestar.
Mas será que nisso está dito tudo? Será que tal quadro abarca toda a magnitude de Haroldo? Não é o que acreditam os 39 ensaístas e poetas, brasileiros e estrangeiros --entre eles, Alcir Pécora, Lívio Tragtenberg, Olgária Matos e Affonso Ávila--, que se reúnem no livro "Céu Acima", a uma vez analisando e homenageando a obra do escritor.
Após um trabalho de organização iniciado na ocasião de sua morte, há dois anos, o livro conta com 25 ensaios, 16 poemas e uma entrevista. O lançamento é hoje, às 20h, no Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201), com a presença de todos os participantes residentes no Brasil. Coroando o coquetel, uma leitura de textos de Haroldo feita pelo diretor teatral Gerald Thomas, que vem dos EUA para prestigiar a publicação.
Mas tomemos do princípio. Dizer Haroldo de Campos poeta já processa uma redução. Melhor define Jacó Guinsburg, na introdução do livro, como "poeta, ensaísta e, não menos, pensador paulista". E não é suficiente. A essas facetas, deve-se acrescentar com obviedade a de tradutor, e ainda falta a série de nuances, por vezes até contrastantes, que constituem seu fazer poético.
"O desafio era sair do círculo de amigos que costumam escrever sobre ele e combater alguns preconceitos e idéias feitas que existem a respeito de sua obra", afirma a professora Leda Tenório da Motta, organizadora da obra. Em sua visão, são basicamente três os mitos: que ele fosse unicamente poeta concretista, que o bom Haroldo fosse o tradutor e que sua crítica fosse "malcriada".
Para desmentir o primeiro, basta pensar que sua obra central é "Galáxias", de 1984. "Enquanto os poemas concretistas são breves, alegres, auto-referenciais, anti-líricos e visuais, 'Galáxias' é um longo poema em prosa, um jorro de frases autobiográfico", explica a organizadora. Considerando-se que trechos dele já estavam publicados em 1976 e que essa foi uma virada na obra, teríamos 30 anos de um Haroldo nada concretista.
Sobre a praticamente incontestada qualidade de tradutor, o que "Céu Acima" põe à prova é que seja dissociada de sua característica de poeta. "No caso do Haroldo, operação tradutória, crítica e poética estão interligadas. A tradução é continuação da reflexão crítica e da obra poética. Sua tradução é re-poesia", diz Motta.
A partir dessa mesma perspectiva, por fim, deve ser avaliada sua fortuna crítica, muitas vezes considerada ofensiva à obra de Antonio Candido, por questionar nela a pouca atenção dada ao barroco. Neste caso, é preciso confiar em Motta: "Com os ensaios sobre o tema, pudemos demonstrar que suas revisões e argüições não são de forma alguma malcriadas, como muitos já disseram".
Se cabe uma definição, então, melhor será aquela com que Guinsburg termina a introdução: "Um humanista empenhado em descobrir na transcriação de seus signos a face não apenas oculta, mas inteira da humanidade".
Céu Acima
Autores: vários
Editora: Perspectiva
Quanto: R$ 60 (387 págs.)
Especial
Leia o que já foi publicado sobre Haroldo de Campos
Obra desmistifica Haroldo de Campos
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da Folha de S.Paulo
Diga-se de Haroldo de Campos que foi um poeta concretista e se terá uma verdade. Diga-se que o movimento literário que criou, junto com seu irmão Augusto e com Décio Pignatari, foi o único a extravasar as fronteiras brasileiras e, provavelmente, ninguém irá contestar.
Mas será que nisso está dito tudo? Será que tal quadro abarca toda a magnitude de Haroldo? Não é o que acreditam os 39 ensaístas e poetas, brasileiros e estrangeiros --entre eles, Alcir Pécora, Lívio Tragtenberg, Olgária Matos e Affonso Ávila--, que se reúnem no livro "Céu Acima", a uma vez analisando e homenageando a obra do escritor.
Após um trabalho de organização iniciado na ocasião de sua morte, há dois anos, o livro conta com 25 ensaios, 16 poemas e uma entrevista. O lançamento é hoje, às 20h, no Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201), com a presença de todos os participantes residentes no Brasil. Coroando o coquetel, uma leitura de textos de Haroldo feita pelo diretor teatral Gerald Thomas, que vem dos EUA para prestigiar a publicação.
Mas tomemos do princípio. Dizer Haroldo de Campos poeta já processa uma redução. Melhor define Jacó Guinsburg, na introdução do livro, como "poeta, ensaísta e, não menos, pensador paulista". E não é suficiente. A essas facetas, deve-se acrescentar com obviedade a de tradutor, e ainda falta a série de nuances, por vezes até contrastantes, que constituem seu fazer poético.
"O desafio era sair do círculo de amigos que costumam escrever sobre ele e combater alguns preconceitos e idéias feitas que existem a respeito de sua obra", afirma a professora Leda Tenório da Motta, organizadora da obra. Em sua visão, são basicamente três os mitos: que ele fosse unicamente poeta concretista, que o bom Haroldo fosse o tradutor e que sua crítica fosse "malcriada".
Para desmentir o primeiro, basta pensar que sua obra central é "Galáxias", de 1984. "Enquanto os poemas concretistas são breves, alegres, auto-referenciais, anti-líricos e visuais, 'Galáxias' é um longo poema em prosa, um jorro de frases autobiográfico", explica a organizadora. Considerando-se que trechos dele já estavam publicados em 1976 e que essa foi uma virada na obra, teríamos 30 anos de um Haroldo nada concretista.
Sobre a praticamente incontestada qualidade de tradutor, o que "Céu Acima" põe à prova é que seja dissociada de sua característica de poeta. "No caso do Haroldo, operação tradutória, crítica e poética estão interligadas. A tradução é continuação da reflexão crítica e da obra poética. Sua tradução é re-poesia", diz Motta.
A partir dessa mesma perspectiva, por fim, deve ser avaliada sua fortuna crítica, muitas vezes considerada ofensiva à obra de Antonio Candido, por questionar nela a pouca atenção dada ao barroco. Neste caso, é preciso confiar em Motta: "Com os ensaios sobre o tema, pudemos demonstrar que suas revisões e argüições não são de forma alguma malcriadas, como muitos já disseram".
Se cabe uma definição, então, melhor será aquela com que Guinsburg termina a introdução: "Um humanista empenhado em descobrir na transcriação de seus signos a face não apenas oculta, mas inteira da humanidade".
Céu Acima
Autores: vários
Editora: Perspectiva
Quanto: R$ 60 (387 págs.)
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